O jornalista, escritor e documentalista Felipe Pena esteve, esta terça-feira, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), para apresentar o seu documentário “Se Essa Vila Não Fosse Minha“. O filme aborda o caso da remoção de milhares de famílias das comunidades que circundam a área onde estão a ser construídas as infra-estruturas dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
Produzido em 2014, este documentário quer contrariar o estereótipo de exaltação dos Jogos, associado ao espírito de espetáculo dos brasileiros. Felipe considera que o Brasil é um país que renega todo aquele que investiga as contrapartidas de montar um evento de grande envergadura. Neste sentido, quis realçar o seu “lado B”, isto é, o preço que a comunidade local tem de pagar pela construção, neste caso, das Olimpíadas.
“Se Essa Vila Não Fosse Minha” introduz um debate entre o direito de escolha dos moradores e a ditadura dos interesses económicos subjacentes a este grande empreendimento. Focado num caso específico, o da Vila Autódromo, Felipe defende a máxima de Leo Tolstói: “Falar da sua vila é falar do mundo inteiro”.
Vila Autódromo
A comunidade Vila Autódromo localiza-se perto da Barra da Tijuca, no oeste do Rio de Janeiro. Esta zona tem sido alvo de cobiça por parte dos grandes empreendedores imobiliários pelo valor de que se reveste. Apesar de estudos universitários negarem essa necessidade, a empreitada das Olimpíadas pretende desalojar os seus habitantes.
Redes sociais são trunfo
No que toca à produção deste filme, o jornalista encara a mediação como ponto-chave, isto é, considera essencial uma total intrusão na história, nas personagens e no ambiente. Para tal, assumiu um papel de peso na edição do documentário e “embriagou-se”, conforme referiu, em todos os detalhes do caso. Em termos de imagem, quis transmitir o “clima de sufocamento” imanente à Vila Autódromo, o que conseguiu através de um filtro que revestiu a película de tons terra.
A narrativa é alheia a qualquer tipo de “voz off”, expert ou entidade institucional, pelo que são exclusivamente os moradores a contar a história, que se divide em três partes, de acordo com o lema dos Jogos Olímpicos (“O mais Forte, o mais Alto, o mais Rápido”).
Felipe Pena tocou, após passar o documentário, nas funções que, a seu entender, um jornalista deveria exercer e proteger. Em “Se esse vila não fosse minha”, espelhou o seu “sentido de responsabilidade pela comunidade”, correu riscos e deu voz àqueles que não costumam ser ouvidos.
As redes sociais têm sido o principal meio de divulgação desta produção, que foi “muito bem recebida” no V Doc Brazil Festival 2014, em Pequim, cidade que atravessou uma situação idêntica, mas em maiores proporções, nas Olimpíadas de 2008.
O jornalista apela, assim, “às pessoas sensíveis deste mundo”, para que partilhem a sua história e a façam chegar, em última instância, ao Comité Olímpico Internacional (COI). “Enquanto houver empatia, há esperança”.