Na Cantina do Parcauto, ao lado da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP), houve uma animação especial na tarde da passada terça-feira. Por volta das 16h, a fila já estava bastante composta para dar entrada no refeitório. Na parte da frente, três funcionários da ESN Porto terminavam os últimos preparativos da festa Christmas Get Together.

A iniciativa, organizada também pelo Gabinete de Relações Internacionais (GRI), consistiu numa celebração de Natal que tinha como intuito acolher os estudantes estrangeiros presentes no Porto e com eles festejar a época, com muita música e animação. O concurso gastronómico levou ao espaço iguarias trazidas pelos estudantes internacionais da Universidade do Porto (UP) , de mais de 70 países e houve ainda tempo para uma troca de prendas simbólica entre os alunos.

O concurso, novidade desta edição, teve como propósito partilhar as culturas, de forma a elucidar como funciona o Natal noutros países e expandir os horizontes dos alunos. Como incentivo, os três melhores pratos tiveram direito a uma Power Bank, bateria de telemóvel portátil. Fora os pratos internacionais, houve ainda lugar para produtos tipicamente portugueses, de forma a que os estudantes também pudessem descobrir os melhores sabores natalícios de Portugal.

Teresa Medeiros, responsável da mobilidade incoming do serviço de relações internacionais, esteve atarefada durante toda a tarde. Organizou a mesa das iguarias internacionais enquanto coordenava o evento. “Isto é mais um convívio. Tentámos organizar ao longo do ano académico vários convívios com estudantes estrangeiros para eles terem conhecimento dos nossos costumes, da nossa cultura”, explicou a responsável ao JPN. Segundo a própria, o importante é que eles “convivam com outros estudantes que estão na UP com quem não têm a oportunidade de conviver diariamente”.

O intuito foi “dar a conhecer outros pratos de outros países” para que os alunos pudessem ter “um pouco do sabor de vários países do mundo, não só os portugueses”. Para a coordenadora, a aposta foi ganha, visto que a sala estava bem composta e os alunos aderiram ao plano. “Ali na mesa estão representados à volta de 15 países, quase todos fora da Europa. Da Europa, só temos um, da República Checa”, afirmou, sorrindo.

Troca de sabores e culturas

Este prato da República Checa foi preparado por Hana Piskáčková. A estudante, que em terras lusas integra a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP), admitiu ao JPN que foi o mar que a fez interessar-se pelo cidade. O clima e a reputação da faculdade foram também fatores decisivos para embarcar rumo à Invicta. Finalista, Hana tirou parte do seu tempo de realização do seu projeto de curso, para confecionar um prato típico do seu país, que garante “estar em todas as mesas checas no Natal”. O prato em si é uma salada de batatas com frango frito. “É alternativo, porque normalmente usam-se carpas, mas não encontrei o peixe aqui”, mencionou. Sobre a experiência, revelou achar “interessante partilhar sabores de Natal com outros países”. “Eu sei o que os portugueses comem porque perguntei, mas não sei como é com os outros países”, confessou.

Outro dos países representados foi a Síria. “Mouttabal” é o nome do prato confecionado por Lama Al Imam, estudante originária de Damasco. A estudante de doutoramento em Business and Management Studies da Faculdade de Economia do Porto (FEP) já cá está desde setembro de 2014, e pretende aqui ficar até terminar o curso. “Apercebi-me que tive sorte em vir para Portugal, gosto muito de estar aqui, as pessoas são mesmo amistosas”, contou ao JPN. A sua iguaria é um aperitivo tradicional que a própria afirma estar “sempre presente na cozinha” síria. Contém beringela, iogurte e alho, tudo isto com sal e tahini. “É bastante saboroso e adequa-se a imensos pratos. Tudo o que seja frito, assado, combina bem. Foi por isso que o fiz”, explicou. Para ela, o importante é o convívio e essa partilha de cultura. “Vemos diferentes sabores, vemos culturas diferentes, falamos com pessoas e descobrimos novas práticas nos seus países, é mesmo agradável”, concluiu.

Como seria de esperar, houve também espaço para sabores de África marcarem presença. A lusofonia foi representada por Kâmia Domingos, de Angola, que preparou um bolo de moamba de ginguba. Kâmia também está em Portugal desde setembro 2014, para estudar no mestrado em gestão comercial da FEP. “O Porto é calmo, é atrativo, é uma cidade turística onde me sinto à vontade”, admitiu ao JPN. O prato em si “não é muito difícil” de fazer, segundo a própria, e os seus ingredientes são simples. “É um doce, um bolo, os ingredientes são os mesmos que um bolo normal. O que difere é a massa da moamba, que nós misturamos mesmo no bolo e a trituração da ginguba”, explicou. O resto dos ingredientes são ingredientes mais tradicionais como a manteiga, o leite e ovos. “O bolo é tipicamente angolano porque em qualquer festa angolana não pode faltar o bolo de ginguba, principalmente no Natal”, disse entusiasmada.

A falar português também estava Khalid Ben Omar, de Marrocos. O jovem de Marraquexe é estudante do Mestrado em Estudos Literários Culturais e Interartes (MELCI) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Fala português porque, na realidade, tirou uma licenciatura em estudos portugueses na Universidade de Rabat (UIR). Veio para Portugal para melhorar o seu português e conviver de forma direta com a cultura e a língua. “Em Marrocos era uma língua nova, por isso quis experimentar. Também por causa da proximidade geográfica, temos muitos pontos em comum na cultura, na história e até na língua”, justificou Khalid ao JPN.

Khalid acabou por preparar um couscous, prato bastante conhecido. “É um prato que nós comemos a cada sexta-feira. A família junta-se depois da oração e come. É tipicamente marroquino”, indicou. Não teve medo de estar um bocado fora do tema, afirmando mesmo que o prato também se degusta no Natal. O jovem tinha altas expetativas para o resto dos pratos e achou graça à iniciativa, daí querer envolver-se. “Acho que é algo muito interessante, gostava muito de experimentar todos os pratos para ver como é a comida dos outros países”, admitiu, sorridente. Para ele, tratava-se de uma questão de concretizar um convívio entre países da Europa, da África ou da Ásia como forma de promover a tolerância.

Os pratos apresentados vinham de países bastante longínquos dos quatro cantos do planeta. Além dos aqui destacados, estavam ainda pratos – assim como os seus respetivos cozinheiros –  de lugares como a Mongólia, o Nepal, o Azerbaijão, a Eritreia ou do Cambodja, entre tantos outros. Depois do lanche, decorreu ainda uma troca de prendas entre os estudantes.

No final, apenas três pessoas puderam levar para casa uma Power Bank. Sem distinção entre primeiro, segundo e terceiro, os mais votados foram premiados. Os vencedores foram precisamente Khalid Ben Omar, de Marrocos, a angolana Kâmia Domingos, aos quais se juntou Sohibjon, um estudante vindo do Tajiquistão. Estes três estudantes podem ter vencido o concurso mas, ao olhar pela multidão sorridente da cantina dos SASUP, pode-se dizer que todos ganharam nessa tarde.

Fotografia: Julien Verge

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