Rui Moreira critica “esquecimento” do Porto pelo Parlamento. Deputado do PCP considera que “visão curta” do autarca não beneficia o distrito.

O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, reagiu com “preocupação” à aprovação de um projeto de resolução da Assembleia da República que tem em vista as prioridades a seguir no alargamento do metro do Porto.

“Queria dizer que a cidade do Porto não agradece às forças políticas representadas na Assembleia da República mais uma vez esquecerem o Porto”, declarou o autarca na noite de quinta-feira na Assembleia Municipal da cidade, em declarações registadas pelo site Porto.pt.

Em causa está um diploma apresentado pelo PCP e aprovado por unanimidade na Assembleia da República, esta quinta-feira. O projeto de resolução em causa recomenda ao Governo que avance em três frentes: a construção da ligação ISMAI-Trofa, na Linha Verde, com início em 2017, e a planificação do prolongamento da Linha Amarela até Vila D’Este, em Vila Nova de Gaia, e da Linha Laranja até ao centro de Gondomar.

Jorge Machado classifica a aprovação como um “passo importantíssimo na efetiva concretização do alargamento do metro do Porto”. Em declarações ao JPN, o deputado do PCP sublinha que, no caso da Trofa, a população “está há 14 anos à espera dessa ligação”.

Sobre a crítica do presidente da Câmara do Porto, Jorge Machado defende que “a cidade do Porto não tem razões de queixa em relação à rede de metro” e acrescenta “que uma visão curta do presidente da Câmara do Porto não serve os interesses do distrito”.

“Consideramos que a ligação à Trofa é de elementar justiça, porque essa população ficou sem nenhum meio de transporte, mas para nós o que é estratégico é que o metro abranja o maior número de população possível e tanto Gondomar como Vila Nova de Gaia são ligações que ficaram a meio. Uma ligação de metro que sirva estas pessoas trará benefícios gigantescos à cidade do Porto”, rematou.

A força do diploma é recomendativa. Contudo, há dois aspetos a reter: é que o Parlamento passa ao Governo “uma mensagem muito clara” sobre quais pensa que devem ser as prioridades a seguir no alargamento da rede no Porto. Por outra parte, não será de descurar o facto do documento ter sido articulado com o grupo parlamentar do Partido Socialista, que o votou favoravelmente, o que leva o deputado comunista a concluir: “Acreditamos que este projeto de recomendação terá tido também o aval por parte do Governo”.

Alargamento em estudo

O Governo anunciou formalmente em abril, no âmbito do Programa Nacional de Reformas, que iria avançar com a expansão do Metro do Porto e de Lisboa. No início de maio, o ministro do Planeamento, Pedro Marques, avançou que o Governo disponibilizaria para esta matéria 400 milhões de euros.

Aos deputados da Assembleia Municipal do Porto, Rui Moreira explicou que “40 a 50%” desse valor deve ser canalizado para o metropolitano lisboeta. “Sobram para o Metro do Porto entre 200 e 240 milhões de euros”, notou. A divisão do bolo não está, contudo, fechada.

Cabe às empresas – Metro do Porto e Metropolitano de Lisboa – recolher informação técnica que sirva de base aos acionistas para que estes decidam quais as prioridades do alargamento da rede.

O JPN sabe que esse trabalho ainda está em curso na Metro do Porto e que as primeiras informações devem chegar aos acionistas nas próximas semanas.

A empresa é detida em 60% pelo Estado, sendo os restantes 40% dos autarcas da Área Metropolitana do Porto. Assim, a última palavra sobre que projetos devem avançar, como quando e a que custo, será sempre do Governo, representado nas empresas pelo Ministério do Ambiente.

Contactado pelo JPN, o gabinete de comunicação de Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente, assume que lhe cabe a última palavra, mas nota que “este Ministério do Ambiente não costuma ir contra a vontade dos autarcas”.

São estes que terão de chegar a um consenso sobre por onde avançar. Rui Moreira reconheceu, perante a Assembleia Municipal, que “a manta é curta, não chega para todos”, porque a segunda fase de expansão do metro tinha um custo global estimado de mil milhões, que agora se reduzem a 400, mas o autarca também reforçou que “o Porto tem as suas aspirações” neste processo de alargamento.

As possibilidades em cima da mesa, além das mencionadas no projeto de resolução do PCP, são a extensão do metro à zona ocidental da cidade do Porto, com uma ligação de São Bento ao Parque da Cidade, e uma quinta, de ligação da Senhora da Hora ao Hospital de São João, via São Mamede.