Algumas dezenas de alunos e ex-alunos do curso de Ciências da Comunicação (CC) da Universidade do Porto desfilaram em protesto, esta quarta-feira, desde a Praça Coronel Pacheco até à Reitoria da UP.
A mudança de instalações das aulas teóricas dos cursos de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto (licenciatura e mestrado), da Praça Coronel Pacheco para a Faculdade de Letras (FLUP) no Campo Alegre, motivou um protesto de alunos e ex-alunos, esta quarta-feira à tarde. Depois de levarem a cabo, no início da semana, uma ação digital — que consistiu na proliferação de uma mensagem de protesto nas contas das redes sociais da UP e no envio em massa de emails aos membros do Conselho Geral da instituição — o grupo reuniu-se (novamente) para protestar junto à Reitoria da universidade.
O relógio marcava as 17h e algumas dezenas de estudantes e antigos estudantes de CC agrupavam-se na Praça Coronel Pacheco, junto ao edifício onde a partir do próximo ano letivo vão deixar de ter as aulas teóricas da licenciatura e do mestrado — apenas as aulas práticas vão ser lecionadas aqui, mantendo-se igualmente os estúdios de rádio, televisão, os serviços de audiovisual e o jornal digital de Ciências da Comunicação, JPN.
Com cartazes nas mãos e a preparar as frases de protesto, os estudantes aguardavam as novidades da reunião com o reitor, Sebastião Feyo de Azevedo, e os representantes dos cursos de CC, agendada à hora de almoço desta quarta-feira e realizada uma hora antes da manifestação.
Hernani Zão Oliveira, antigo aluno de CC, Luísa Correia, estudante do 3º ano de licenciatura, Beatriz Teixeira, do 2º ano e por último, Gabriel Gonçalves e Rui Costa, ambos do 1º ano, revelaram os detalhes do encontro, que terá servido para ouvir os receios dos envolvidos e clarificar o processo. Segundo o grupo que reuniu com o reitor, parte dos objetivos não foram cumpridos. “Não conhece o curso, claramente. Não deu um argumento válido para esta mudança”, anunciou Hernani Zão Oliveira, a alto e bom som, aos colegas-
O antigo aluno reforçou ainda que Sebastião Feyo de Azevedo pensava que os alunos teriam sido ouvidos antecipadamente sobre o processo de mudança de parte das instalações para o Campo Alegre. Tanto estudantes como professores afirmam não terem sido consultados previamente, mas sim, apanhados de surpresa. A possibilidade de voltar atrás na decisão, caso o processo de transferência de recursos não fosse bem sucedido após um ano letivo, não foi considerado pelo reitor, segundo Beatriz Teixeira.
Para os cinco representantes, quanto às razões de todo este processo, ainda ficou muito por explicar. “Perguntamos claramente se era uma questão de dinheiro e ele diz que não e o que a diretora da FLUP [Fernanda Ribeiro] nos diz é que é uma questão de dinheiro”, explica a aluna do segundo ano.
Uma marcha silenciosa porque “não foram ouvidos no processo”
Antes de rumarem até à Reitoria da Universidade do Porto, o protesto seguiu silencioso desde a Praça Coronel Pacheco, passando pela Rua do General Silveira, Rua das Oliveiras e Praça Carlos Alberto, até ao destino final. De camisolas pretas, dezenas de estudantes e antigos estudantes dos cursos de Ciências da Comunicação, deixavam as palavras “falarem” nos cartazes coloridos que seguraram com as duas mãos. “CC na Coronel Pacheco”, “UP subimos no ranking, descemos na qualidade”, “Não ponham em causa o nosso futuro por uns trocos” eram algumas das muitas frases destacadas nas cartolinas.
Ao JPN, Hernani Zão Oliveira revela que se empenhou na ação de protesto contra a mudança de instalações, uma vez que a permanência dos cursos de CC no edifício da Praça Coronel Pacheco, tem funcionado como uma vantagem face às outras formações da UP. “Quando entrei para o mercado de trabalho foi sempre uma mais-valia o ambiente multidisciplinar”, diz. A componente prática registada em Ciências da Comunicação pode, para o antigo aluno, ser explicada pelo “ambiente imersivo e altamente tecnológico” que o ciclo de estudos foi construindo ao longo de 17 anos naquele local.
Luísa Correia, finalista da licenciatura, já não entrará nas contas de Ciências da Comunicação para o próximo ano e, por isso, não saberá também como vão ser as aulas teóricas na FLUP e as aulas práticas na Praça Coronel Pacheco. “Acredito que estar durante três anos no pólo de CC me deu algumas vantagens. A solução que nos apresentam vai retirar a vantagem deste curso”, reconhece.
Já Gabriel Gonçalves, do 1º ano, fará parte no próximo ano letivo de um dos anos curriculares mais visados no processo de mudança. O futuro aluno do 2º ano vai ter aulas teóricas na Faculdade de Letras, no Campo Alegre, e aulas práticas na Baixa do Porto. A requisição de material audiovisual é um dos principais problemas apontados. “É uma coisa que penso todos os dias: Já vemos muitas vezes a confusão que é aqui, não há material para todos, tem de ser muito bem coordenado. Com a mudança, vamos ter de andar de um lado para o outro”, diz.
“Isto não vai acontecer só comigo, mas com 300 alunos”, acrescenta Gabriel Gonçalves.
Das frases escritas e do silêncio às vozes do protesto
Chegados ao destino, o grupo organizou-se em linha indiana na Praça dos Leões, ocupando quase todo o comprimento da Reitoria da UP, e de costas para o edifício. Ainda silenciosos, deram as mãos e ficaram calados durante vários minutos, enquanto turistas perguntavam: “O que está a acontecer?” “Porque estão a protestar?”
A um apito, juntaram-se todos e viraram-se de frente para a fachada da universidade. Assim começaram as frases de protestos, que transitaram do papel de cartão para as vozes dos alunos e antigos alunos, com ajuda de megafones.
Helena Lima e Fernando Zamith, ambos professores dos cursos de Ciências da Comunicação da UP, estiveram presentes no protesto. Ao JPN, a também diretora do mestrado explicou que estar ali, junto com alunos e ex-alunos, significava que a formação era “quase como um casamento, para os bons e maus momentos”. O facto de se juntarem diferentes gerações na ação não a surpreendeu. “Prova que CC não é física quântica, não é línguas e literaturas modernas, CC é uma mundividência própria”, afirma.
Já Fernando Zamith afirmou que “os professores foram convidados” pelo grupo a estarem presentes no protesto e a resposta foi: “Porque não?” “Nós estamos a trabalhar para estes estudantes. Eles têm o direito de reclamar as condições que acham melhores para a sua formação”, acrescentou.
Segundo os representantes de Ciências da Comunicação ouvidos pelo reitor, Sebastião Feyo de Azevedo deverá fazer chegar as preocupações da comunidade de CC aos diretores das quatro faculdades que gerem esta formação. Nesse encontro foram entregues duas cartas: a mesma que os atuais alunos entregaram à diretora da Faculdade de Letras, Fernanda Ribeiro, a 24 de maio, a explanar os motivos da desaprovação da mudança de instalações para o Campo Alegre e uma outra, assinada por mais de 300 ex-alunos, que defendem a permanência da formação na Praça Coronel Pacheco.
O JPN é o jornal digital dos cursos de Ciências Comunicação da Universidade do Porto.