O CINANIMA está de volta com a 41ª edição. Com António Cavacas, membro da comissão organizadora, conferimos a importância do festival no cinema de animação em Portugal e a luta para mostrar que o cinema de animação "não é só para crianças".
Arrancou esta segunda-feira e prolonga-se até 12 de novembro, na cidade de Espinho, o CINANIMA – Festival Internacional de Cinema de Animação. É organizado pela Cooperativa Nascente que, desde 1976, aposta na descentralização cultural do país.
O festival surgiu logo após o 25 de Abril, numa cidade pequena em que muitos jovens ansiavam por fazer algo de diferente e veio alterar a dinâmica do cinema de animação no país.
“O CINANIMA teve um papel decisivo na afirmação do cinema de animação em Portugal”, refere António Cavacas ao JPN. Acrescenta ainda que “hoje, a animação portuguesa tem significado, quer em número de filmes quer em qualidade.”
Este festival veio mostrar que a produção cultural de qualidade não se restringe às grandes cidades: “Fazer um festival de animação numa pequena cidade, num pequeno concelho que não ultrapassa 30 mil habitantes e aguentá-lo durante 41 anos é um facto que me parece que devia ser reconhecido. Isto revela muito esforço e muito trabalho.”
Festejados os 40 anos, o Festival CINANIMA e a Cooperativa Nascente regressa para mais uma edição com muitas novidades. A edição deste ano conta com “muitas estreias, não só nacionais, mas até mundiais” nos filmes em competição. Vão ser exibidas obras que “nunca passaram em circuitos dos festivais. Publicamente, vão ser exibidas pela primeira vez”.
Os filmes a concurso passam por uma pré-seleção, realizada por elementos do departamento de programação do festival e uma seleção final, levada a cabo por uma equipa constituída por um elemento desse departamento e duas pessoas convidadas.
As expectativas são elevadas para a edição deste ano, com seis filmes selecionados para a Competição Internacional de Curtas-Metragens. António Cavacas mostra-se positivo: “Tenho esperanças de que algum deles vá arrancar um prémio significativo” e está convencido de que “vamos ter um excelente programa este ano”.
Não só de sessões de cinema de animação se faz este festival, há uma grande aposta na formação de profissionais e na ampliação dos seus contactos. Os ateliers, iniciados em 1978, continuam a ser a grande aposta. A edição deste ano conta com sete, dirigidos essencialmente a jovens profissionais ou estudantes de artes ou multimédia. O grande objetivo é “proporcionar, de uma forma descentralizada, formação às escolas através das Oficinas Anima.”
Numa vertente mais teórica, surgem as masterclasses. Este ano, vão ser promovidas três: uma com abertura ao público em geral e duas nos dois agrupamentos escolares de Espinho, mais direcionadas para alunos interessados na área da animação.
Um festival que luta contra o preconceito: animação não é só para crianças
“A nossa luta, durante estes anos, é precisamente essa. Tentar mostrar que o cinema de animação não é um cinema só para crianças. É um cinema para todo o público”, explica António Cavacas, com uma certeza: “É um cinema de adesão mais difícil do que o cinema real”.
Há uma grande preocupação em mostrar ao público que há alternativas aos circuitos comerciais. “Mesmo os filmes para crianças que nós mostramos, procuramos passar filmes de autor”, sublinha.
A vertente educacional e a preocupação com as gerações seguintes não é posta de parte: “Queremos que as crianças tenham acesso a coisas diferentes em relação àquilo que estão habituadas a ver, nomeadamente nos canais generalistas, com séries produzidas em massa ” que às vezes carecem de “qualidade técnica, artística e até pedagógica”, refere ainda.
Numa realidade onde o acesso a conteúdos é cada vez mais fácil, torna-se indispensável “que as crianças entendam que o cinema deve ser visto numa sala de cinema. Grande, comom um ecrã grande e uma sala escura. Não no portátil ou no smartphone ou na televisão.”
“Queremos que as pessoas percebam que há outra forma de fazer cinema de animação. Temos essa preocupação.”
Os cartazes de João Machado: parceira para conservar
Um dos ícones deste festival são os cartazes, da autoria de João Machado. Uma parceria que já vem desde a criação do festival e que é “para conservar, enquanto o João Machado puder e o CINANIMA existir”, assegura-nos António Cavacas.
Os cartazes estão sempre em sintonia com os ideais do festival: “O que está ali é que a animação é uma arte para todos, não é uma coisa para crianças.”
Animação em Portugal
O certame serviu de catapulta para grandes nomes do cinema e vários prémios de animação para Portugal. “O CINANIMA teve um papel importante naquilo que os realizadores que ganharam prémios são hoje.”
O ano de 1995 resultou no maior número de vitórias para Portugal, mas o fenómeno está a repetir-se. No ano passado, foi “Estilhaços” de José Miguel Ribeiro o vencedor do Prémio Especial do Júri. “Isto mostra a evolução do cinema de animação em Portugal”.
O mais antigo festival de animação do país abriu, então, esta segunda-feira e apresenta uma oferta de três centenas de filmes, 104 dos quais em secções competitivas. O dia de abertura ficará marcado pela homenagem a Artur Correia (19h00), um dos precursores do cinema de animação em Portugal, e ainda a estreia de “A paixão de Van Gogh” (22h00), o primeiro filme do mundo totalmente pintado à mão. Os dois eventos decorrem no Centro Multimeios de Espinho.
O Auditório Casino de Espinho, o Auditório do Face – Fórum de Arte e Cultura de Espinho e a Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva também acolhem eventos do certame. O programa completo pode ser consultado no site do evento.
Artigo editado por Filipa Silva