Chama-se “Bairro da Tabela Periódica” e é uma peça de teatro dedicada à “ciência no teatro” com humor à mistura. Está prevista ir a cena com a companhia de teatro Marionet, em meados de setembro, e foi escrita por Manuel João Monte, professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

A Casa das Artes deve receber, à partida, a peça no Porto, que ainda não tem data de estreia definida. A intenção é chegar a outras cidades como Lisboa, Coimbra ou Guimarães e é destinada ao “público em geral”, porque, apesar de ser pedagógica, é uma peça “ligeira, que as pessoas entendem, sem detalhes técnicos”, conta o professor da FUCP.

Manuel João Monte, professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

Manuel João Monte, professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Foto: DR

Baseada num livro (que vai ser divulgado em abril), a peça surge no contexto do Ano Internacional da Tabela Periódica, decretado pela UNESCO.

Foi com a ajuda de uma colega investigadora que Manuel João Monte chegou à conclusão de que existem apenas dois elementos químicos no feminino em Portugal. “Se há dois femininos, podia haver mais. Porque é que só há dois?”, foram as questões com que se deparou o professor do departamento de Química e Bioquímica.

“No inglês”, diz, “é tudo neutro”. Já em francês “são todos masculinos” e em russo existem “cinco elementos femininos em 63”. A partir daí teve o mote para “ir a questões mais profundas que têm que ver com a discriminação da mulher”, conta ao JPN.

A história do “Bairro da Tabela Periódica”

O livro que deu origem à peça foi “feito num mês aos fins de semana ao correr da pena” e está dividido em dois atos e cinco cenas. Existem também dois cenários distintos: reuniões de condomínio dos elementos da tabela periódica e cenas numa sala de aula.

Ao todo, são sete atores a contracenar. Nas reuniões de condomínio são seis elementos químicos – Hidrogénio, Oxigénio, Chumbo, Prata, Platina, Európio – representantes de cada um dos quatro blocos da tabela periódica e a administradora do condomínio. Nos momentos da sala de aula são seis alunos – quatro rapazes e duas raparigas – e a professora.

Para além das questões de género, a peça vai também tentar “desmistificar algum mau nome que a química tem”. As pessoas “preferem tomar chá em vez de medicamentos e não gostam de alimentos com químicos, querem tudo biológico”, refere Manuel João Monte. O propósito da discussão é responder à pergunta: “para que serve a química?”.

A peça consegue ainda tocar em temas como os coletes amarelos ou discussão de arrendamento local dos elementos que têm um curto tempo de vida.

Artigo editado por César Castro