O artista, diretor de fotografia e cineasta Arthur Jafa inaugurou esta quinta-feira a sua primeira exposição em Portugal, “A series of utterly improbable yet extraordinary renditions”, na Fundação de Serralves. A partir de filme, fotografia e escultura, o cineasta faz referência ao sentimento de vazio, que julga ser caraterístico da vida dos negros.

As obras, desenvolvidas pelo artista ao longo dos últimos vinte anos, estão divididas entre o Museu de Serralves e a Casa de Cinema Manoel de Oliveira, e podem ser visitadas até 21 de junho.

Na exibição estão incluídas contribuições da fotógrafa Ming Smith, da artista plástica Frida Orupabo, através da conta de Instagram @nemiepeba, e de Missylanyus com conteúdos do seu canal de YouTube.

O último nome revela uma colaboração não convencional. Missylanyus foi “um chulo” que filmava vídeos de si mesmo e das mulheres com quem trabalhava para postar online. Os filmes foram, mais tarde, encontrados e apropriados por Arthur Jafa, com autorização da família.

Com uma experiência audiovisual visionária que é, ao mesmo tempo, reflexão política, Jafa revela o papel que a etnia, o género e a classe detêm na história, e na cultura dos Estados Unidos.

O filme “Love Is the Message, the Message Is Death” é um dos protagonistas da exposição. Com imagens recolhidas a partir de jornais, revistas, televisão e internet, o cineasta criou uma montagem de momentos virais da história afro-americana, ao som editado da música “Ultralight Beam”, de Kanye West.

Além do filme, que está na Casa Manoel de Oliveira, algumas das obras principais do artista, no Museu de Serralves, são Jonathan (2017), Big Wheel II (2018), Mix 1-4 Constantly Evolving (2017), The Black Flag (2017), Plege of Allegiance, 1899 (2017), Rwanda (1999), Ex-slave Gordon (2017) e Apex (2013).

Arthur Jafa admitiu aos jornalistas, na visita de imprensa que decorreu na quinta-feira, que durante o processo criativo a prioridade não assenta tanto na mensagem que quer passar, mas em fazer algo que tenha “presença”, “singularidade” e “complexidade”, e que cause fortes reações nas pessoas. “Estou a tentar fazer trabalho tão complexo como eu penso ser, tão complexo como as pessoas que eu conheço, como a minha família”, explica o artista.

Segundo Amira Gad, a curadora de origem franco-egípcia da exposição, as obras de Jafa que unem “o passado, a cultura popular e a cultura mainstream” pretendem “criar uma narrativa para a falta de narrativa que existe, hoje, sobre a história negra”.

A diretora criativa da Lehmann Maupin revela ainda que a exibição foi projetada como “quase uma coreografia” e “banda sonora”, que contêm uma “música”, um “ritmo”, uma “batida” e um “coro”.

O autor da exposição que foi apresentada pela primeira vez em 2017, na Serpentine Gallery, em Londres, foi o vencedor do Leão de Ouro na Exposição Internacional da Bienal de Veneza de 2019. Além disso trabalhou com artistas como Beyonce, Solange, Jay-Z e, mais recentemente, Kanye West.  

Arthur Jafa passou também pelo Porto em novembro no âmbito do Fórum do Futuro.

Artigo editado por Filipa Silva