O Plano português de Vacinação contra a COVID-19 arranca em janeiro, está organizado em três fases e vai abranger, na primeira, cerca de 950 mil pessoas. A vacina será universal, gratuita, facultativa e administrada no Serviço Nacional de Saúde (SNS). O plano foi divulgado esta quinta-feira à tarde, em conferência de imprensa, no Infarmed, em Lisboa, por Francisco Ramos, o coordenador da task force responsável pela elaboração da estratégia.

O ex-secretário de Estado da Saúde definiu como grandes objetivos do plano a redução da mortalidade e dos internamentos em unidades de cuidados intensivos.

Numa primeira fase, serão vacinadas as pessoas com 50 ou mais anos que tenham “pelo menos” uma das seguintes patologias:

  • insuficiência cardíaca;
  • doença coronária;
  • insuficiência renal
  • doença respiratória crónica com necessidade de suporte ventilatório.

Este grupo corresponde, diz Francisco Ramos, às “patologias mais frequentes em casos graves da doença” e abrange cerca de 400 mil pessoas.

Ainda nesta fase, estão incluídas “as pessoas residentes em lares e internadas em unidades de cuidados continuados e respetivos profissionais” (250 mil pessoas) “e os profissionais de saúde diretamente envolvidos na prestação de cuidados e profissionais das forças de segurança”, forças armadas e serviços críticos, ainda que a “elencagem” tenha ainda de “ser afinada”. Este último grupo engloba 300 mil pessoas.

Para a segunda fase de vacinação, o primeiro grupo prioritário corresponde às pessoas com 65 ou mais anos sem patologias, “reconhecendo que os idosos são o grupo mais vulnerável”, e o segundo incidirá nas pessoas que tenham entre 50 e 64 anos com outras patologias não abrangidas na primeira fase. São elas:

  • diabetes
  • neoplasia maligna ativa
  • doença renal
  • insuficiência hepática
  • obesidade
  • hipertensão arterial.

“Para a segunda fase, a estimativa é de 1,8 milhões de pessoas com mais de 65 anos e 900 mil pessoas neste grupo com estas características”, expôs.

A terceira e última fase está destinada “ao resto da população”, de momento. Segundo Francisco Ramos, tudo depende do “ritmo de abastecimento” para se cumprir o que está estabelecido: “se, por qualquer motivo, esse ritmo for mais lento do que o cenário base, ter-se-á de voltar a criar novos grupos prioritários e definir um terceiro grupo”.

A task force “ainda não tem confiança” para definir uma data concreta, mas foi já estabelecido que a vacinação será iniciada em janeiro. A primeira fase está prevista para entre janeiro e fevereiro/março. No pior cenário, a vacinação deste primeiro grupo estende-se até abril – como ainda não é possível prever a duração desta primeira onda de vacinação, a segunda fase ainda não tem data marcada.

“Todos os portugueses terão direito a vacina, ainda que com a dúvida do ritmo”, garantiu o coordenador.

Até lá, “temos de gerir a incerteza”. Para combater a desinformação da população, Francisco Ramos lembrou o site oficial da DGS e as linhas de apoio à população e aos profissionais de saúde. É necessário “que a comunicação seja muito ampla”, declarou.

22 milhões de doses no total

À luz dos acordos feitos pela Comissão Europeia, realizados em nome dos 27 Estados-Membros, vão chegar a Portugal vacinas de seis laboratórios diferentes, enumeradas por Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed: AstraZeneca (6,9 milhões de doses), Pfizer, (4,5 milhões), Moderna (1,8 milhões), Johnson & Johnson (4,5 milhões), Curevac (entre 4 a 5 milhões) e Sanofia-GSK (sem número definido ainda). No total, serão disponibilizadas cerca de 22 milhões de doses, o suficiente para a população portuguesa.

Contudo, na apresentação do plano, o primeiro-ministro António Costa relembrou que “as vacinas não chegam todas no primeiro dia, mas vão chegando gradualmente ao longo de todo o ano”.

Neste momento, a previsão de Susana Castro Marques, diretora médica da Pfizer Portugal, em entrevista à RTP, é que a primeira vacina a chegar será mesmo a da Pfizer. Tudo depende de ser ou não aprovada na reunião extraordinária da Agência Europeia do Medicamento, a 29 de dezembro. Com o aval da entidade, a vacina deverá chegar a Portugal no primeiro dia do próximo ano.

“A vacina será universal, gratuita, facultativa e disponibilizada a toda a população” e, numa primeira fase, será administrada nos centros de saúde do SNS, “nos cerca de 1.200 pontos de vacinação que existem por todo o país”, avançou Francisco Ramos. Os residentes em lares ou em unidades de cuidados continuados são a exceção: nesses casos, serão vacinados nas instituições, “pelas próprias equipas de enfermagem” ou por “equipas dos centros de saúde”.

A partir da segunda fase, os locais de administração da vacina ainda estão por detalhar. Mas já se sabe que “é precisa uma expansão da rede de pontos de vacinação, com critérios a definir”, dependendo sempre do ritmo a que as vacinas cheguem ao país.

Até esta sexta-feira, morreram em Portugal 4.803 pessoas vítimas da COVID-19. O país soma 312.553 casos confirmados da doença, sendo a região Norte a mais afetada, tanto no número de casos (53% do total) como no número de mortes (48%).

Artigo editado por Filipa Silva

Este trabalho foi originalmente realizado para o jornal Ângulo no âmbito da disciplina de AIJ/Rádio, Online e Imprensa – 3.º ano