O vegetarianismo está em voga e se, em tempos remotos, as alternativas à alimentação de base animal eram escassas, o Homem faz agora uso da tecnologia para reinventar a forma de se alimentar. O fundador e CEO da Impossible Foods, Patrick O’Reily Brown, marcou presença no último dia da Web Summit para falar sobre a origem da startup – incluída pela revista “Time” no seu ranking de empresas “Genius” – e a forma como são feitos os hambúrgueres 100% vegetais da marca.

Com sede em Silicon Valley, na California, a Impossible Foods nasceu em 2011 para produzir alimentos feitos através de plantas, para substituirem a carne. O objetivo dos hambúrgueres da Impossible Foods é “sangrarem” como a carne, saberem a carne, sem serem carne. “O problema não é que as pessoas adorem carne, o problema é que estamos a usar a tecnologia errada”, afirmou Patrick O’Reilly Brown.

A Impossible já é presença assídua nos supermercados e restaurantes norte-americanos e acabou de receber autorização de comercialização no Canadá. Atualmente, a firma aguarda autorização para os seus produtos serem comercializados na União Europeia, mas o líder da empresa não duvida de que se trata já do início de uma nova era.

Com a expansão global em vista, a ida para a China figura no roteiro da empresa e está prevista para o próximo ano.“A nossa missão é substituir por completo a utilização de animais como tecnologia agroalimentar, globalmente, até 2035”, afirmou o CEO da Impossible Foods na conferência.

Brown conta que o projeto está focado neste objetivo e considera-o “totalmente fazível”. “Temos estado a trabalhar nisso desde o início como o maior problema científico no mundo”, acrescentou.

Foto: Impossible Foods

A investigação da empresa, a que Brown deu início, é feita no sentido de entender, em termos moleculares, o que torna a carne tão saborosa para ser possível ter ingredientes precisos, de fontes vegetais sustentáveis, para conseguirem proporcionar “essa experiência deliciosa”.

A Impossible Foods não foi pioneira no desenvolvimento de hambúrgueres de origem vegetal, mas pertence a uma nova geração de marcas que recorrem a novos processos para oferecer ao consumidor o tal hambúrguer que “sangra” como carne, tem a textura da carne e sabe a carne, mas sem a ter na verdade. O segredo?  Uma combinação de diversos vegetais e uma proteína chamada “heme” que é extraída da soja.

O heme é conhecido como o ”ingrediente secreto”, que torna os hambúrgueres vegetais tão idênticos à carne, que se tornam difíceis de distinguir pelo olhar e palato.

“A soja pode conter mais 60% de proteínas que a carne de vaca”, disse ainda Brown a propósito do valor nutricional dos produtos desenvolvidos pela empresa. E acrescentou: “A qualidade proteica dos nossos produtos não têm paralelo com o valor proteico dos bifes”, sublinhando ainda que a produção de produtos vegetais que simulam a “carne” possuem a vantagem de serem baixos em gordura e não estarem sujeitos aos antibióticos que os animais consomem.

Em suma, acredita, “é um game over para a indústria da carne. Eles é que ainda não perceberam”, afirmou.

Em 2016, foi lançado o primeiro produto vegan da marca e atualmente o “menu” conta com imitações de hambúrgueres, carne de porco e almondegas, exclusivamente confecionados com substâncias de origem vegetal. Segundo o fundador da empresa norte-americana, o pipeline no cardápio saudável irá aumentar.

Jay-Z e Katy Perry entre investidores

Nesta fase, a questão que surge é: será que os hambúrgueres da Impossible Foods são o suficiente para converter os adeptos da carne? “A estratégia é muito simples: tentamos convencer as pessoas a provarem a primeira vez. Mais de 75% das pessoas que provam [os hambúrgueres da marca] tornam-se consumidores”, afirma Brown.

Patrick O’Reilly é gestor, no entanto, sempre se assumiu mais interessado em resolver o problema da produção de carne no contexto da indústria agroalimentar e o impacto ambiental da mesma. Diz que isso é mais importante do que o dinheiro, pelo que tem-se afastado, pelo menos a “curto prazo”, de uma potencial entrada em bolsa da Impossible Foods.

Em agosto de 2020, a agrotech fechou mais uma ronda de investimento de 200 milhões de dólares (cerca de 165 milhões de euros), menos de seis meses depois de ter fechado a maior angariação de investimento já feita por uma startup de tecnologia alimentar. Desde a fundação da empresa, a Impossible Foods já reuniu um total de de aproximadamente 1,2 mil milhões de euros de investimento. Entre o grupo de investidores da Impossible Foods estão caras conhecidas como Jay-Z, Katy Perry, Horizons Ventures, Temasek, entre outros.

Além do lucro relacionado com a venda de produtos alimentares de origem vegetal, a Impossible tem a expectativa de contribuir para a redução das emissões de gases poluentes como o metano, produzido pelo gado, e de travar o desmatamento de terrenos para passarem a pastagens para o gado. Patrick O’Reilly Brown acredita que este é um “imperativo mundial”, que tem de ser seguido para o bem da humanidade e do planeta Terra.

Estará o futuro da proteína de origem animal com os dias contados? O consumidor ajudará, seguramente, a decidir.

Artigo editado por Filipa Silva