O Porto assistiria esta quarta-feira (20) à inauguração do primeiro Museu do Holocausto na Península Ibérica, mas a COVID-19 não deixou. As portas abririam ao público dentro de uma semana, a 27 de janeiro, no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, mas a abertura vai ter de esperar. A exposição lá montada poderá ser vista “assim que for possível”, ou seja, mal as regras governamentais de combate à pandemia o autorizem.

Ao telefone, Hugo Vaz, curador da exposição, explica em entrevista ao JPN que o Museu do Holocausto do Porto está, simbolicamente, organizado em três fases: a vida dos judeus antes do Holocausto; a morte durante o Holocausto e a vida (novamente) após “esta catástrofe”.

O jardim vertical na entrada da exposição. No Museu do Holocausto do Porto, os espaços verdes simbolizam a vida.  Foto: CIP/CJP

Vaz salienta que o Holocausto não se resumiu ao “extermínio de cerca de seis milhões de judeus”, mas também “de toda a sua cultura, história, tradições e vivências familiares“. Assim, a primeira fase do museu foca-se nestes aspetos e inicia-se na entrada, com um jardim vertical, que representa “precisamente essa vida” judaica no pré-nazismo, refere o curador.

Segue-se a fase da morte, que procura impactar o visitante desde o princípio, ao confrontá-lo com uma réplica de uma camarata de Auschwitz-Birkenau. A sala seguinte “pretende ser um memorial a todas as vítimas do Holocausto” – afirma Hugo Vaz -, já que tem as suas paredes cobertas de nomes de “dezenas de milhares” de judeus que morreram nesta tragédia. Uma pequena parte do total.

Posteriormente, um grande corredor repleto de imagens, vídeos e painéis informativos conta ao visitante toda a narrativa histórica, abordando tópicos como a expansão antijudaica na Europa, os guetos, os refugiados e os campos de concentração, de trabalho e de extermínio. A exposição termina num outro espaço verde, que retrata o judaísmo europeu no pós-guerra.

A entrada no museu, bem como as visitas guiadas para escolas e para o público em geral, vão ser gratuitas (por agora). A exposição localiza-se na Rua do Campo Alegre, número 790, perto da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

“O Museu do Holocausto do Porto é do Porto”

O curador do museu sublinha que “o Museu do Holocausto do Porto é isso mesmo – do Porto”. Nesse sentido, ressalta a exposição de quatrocentas fichas individuais de judeus refugiados que passaram pela Invicta durante a Segunda Guerra Mundial. Hugo Vaz considera que estes documentos são o que efetivamente distingue o museu portuense de quaisquer outros acerca do Holocausto e que podem, portanto, ser vistos como o ex-líbris da exposição.

Os registos de quatrocentos judeus refugiados que passaram pelo Porto durante a Segunda Guerra Mundial. O curador Hugo Vaz alega, “com certeza absoluta”, que este número “não é nada” comparativamente ao total de judeus que efetivamente passaram pela cidade entre 1939 e 1945.  Foto: CIP/CJP

O museu foi criado pela Comunidade Israelita, ou Judaica, do Porto (CIP/CJP), no âmbito do Projeto Nunca Esquecer – Programa nacional em torno da memória do Holocausto, uma iniciativa governamental apresentada publicamente em julho de 2020. A CIP/CJP é composta por cerca de quinhentos membros – muitos deles têm familiares que foram vítimas do Holocausto.

Hugo Vaz reitera que o museu “foi pensado para receber todos os tipos de públicos”. O curador aponta como missão principal da exposição “promover a educação e a memória sobre o Holocausto, para que este, que é um dos mais sombrios episódios da nossa história, não se volte a repetir”.

Artigo editado por Filipa Silva