A audiência da Comissão de Educação, Ciência, Juventude e Desporto desta quarta-feira serviu de palco a muitas críticas à “inação” do Governo perante a crise do setor do desporto. Representantes de várias entidades desportivas falaram, um a um, sobre os vários problemas que enfrentam devido à pandemia da COVID-19.
Uma das intervenções mais contundentes veio do presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, que se apresentou no Parlamento também em representação das federações de andebol, de basquetebol, de patinagem e de voleibol. “Estas federações tiveram uma redução de 65% dos atletas inscritos na formação, nos setores masculino e feminino”, revelou o dirigente. Ainda ao nível da formação, dos 250 mil atletas, “só 14 mil estão a praticar atividade desportiva”. Trata-se de apenas 6% dos atletas inscritos.
Fernando Gomes alertou que, no caso do futebol, 25% dos clubes encerraram devido à pandemia. “De dois mil clubes passamos a ter cerca de mil e 500“, explicou.
O presidente da FPF denunciou ainda autarquias que condicionam os apoios a clubes locais à garantia da prática desportiva, ou seja, “quem está impedido de praticar desporto, não recebe estes apoios“. O dirigente pede ao Estado que “não tenha dois pesos e duas medidas” consoante os setores de atividade.
“Se outros setores de atividade têm subsídios e apoios, porque também foram obrigados a parar, é mais do que justo que o Governo tenha essa capacidade de apoiar o setor o desporto de forma abrangente e generalizada”, afirmou Fernando Gomes.
O presidente da FPF defendeu a criação de “fundos de apoio ao desporto para salvar milhares de clubes e associações desportivas que estão em risco de desaparecer”. Esta ideia foi igualmente defendida por outros representantes de entidades desportivas.
O presidente da Confederação do Desporto de Portugal apontou que houve registos de “uma quebra de 60% em números de praticantes em várias modalidades“. Carlos Cardoso considerou por isso importante a “criação de um fundo, que permitisse no arranque das práticas desportivas, apoiar os clubes e associações, nomeadamente as de âmbito local”.
O Comité Olímpico de Portugal (COP) criticou a “inação do Governo perante a necessidade de uma resposta adequada à pandemia” e também defendeu a criação de um fundo de apoio. O secretário-geral José Manuel Araújo criticou o facto de ter sido ignorada a proposta do COP, da Confederação do Desporto de Portugal e do Comité Paralímpico de incluir um apoio expresso ao desporto no Orçamento do Estado de 2021. “A resposta do Governo às nossas propostas foi zero“, declarou.
Já José Manuel Lourenço do Comité Paraolímpico de Portugal apontou que a falta de apoios “afeta de forma gravosa o desporto e, por consequência, a saúde de pessoas com deficiência“. Para o representante do Comité, o desporto foi o “único setor de atividade que não recebeu nenhum sinal” do Executivo de António Costa.
A Federação Académica do Desporto Universitário (FADU) realçou que várias instituições do ensino superior “não abriram os seus equipamentos desportivos desde o primeiro confinamento”. O presidente da FADU, André Reis, denunciou ainda que o cancelamento de provas nacionais e internacionais impossibilitou “a atribuição de bolsas a estudantes”, o que prejudicou a viabilidade da sua prática desportiva.
Em outubro de 2020, o Bloco de Esquerda apresentou um projeto à Assembleia da República para a criação de um fundo de apoio ao desporto. A 4 de dezembro, o parlamento aprovou o projeto dos bloquistas e o mesmo foi publicado no Diário da República a 2 de fevereiro.
Fernando Gomes referiu-se a este projeto, dizendo que, até agora, nada mudou: “O desporto ainda não recebeu um cêntimo para combater as despesas e os acréscimos de custos de uma pandemia que dura há quase um ano“, reforçou.