Em 52 dos 55 países analisados, a perceção da população sobre a relevância das vacinas diminuiu, algo considerado “preocupante” para a organização. Mortes por sarampo, difteria e outras doenças evitáveis deverá aumentar.

Portugal foi um dos países onde a confiança em vacinas reduziu após a pandemia de Covid-19. Foto: Mat Napo/ Unsplash

Na quinta-feira (20), a UNICEF alertou que a perceção pública sobre a importância das vacinas para crianças diminuiu durante a pandemia de Covid-19, em 52 dos 55 países analisados. O alerta foi publicado no relatório “Situação Mundial da Infância 2023: Para todas as crianças, Vacinação”.

Em países como a Coreia do Sul, o Gana, a Papua Nova Guiné, o Japão e o Senegal, a relevância atribuída à imunização das crianças baixou cerca de um terço. Em contrapartida, e segundo dados recolhidos pelo The Vaccine Confidence Project e posteriormente publicados pela UNICEF, a China, o México e a Índia foram os únicos países a manter estável a sua perceção de importância sobre as vacinas, ou até mesmo a melhorar.

Segundo o comunicado da UNICEF, pessoas com menos de 35 anos foram mais “suscetíveis a relatar menos confiança em relação às vacinas para crianças, após o início da pandemia”. Contudo, e mesmo tendo em conta esta queda, o apoio às vacinas permanece “forte” de uma forma geral, diz o comunicado da UNICEF.

Em quase metade dos 55 países analisados, mais de 80% dos inquiridos consideraram as vacinas para crianças importantes. No caso particular de Portugal, na fase pré-pandemia a perceção das pessoas sobre a importância das vacinas para crianças era de 98,2%, tendo descido para 91,7% no pós-Covid-19.

O acesso a informações fraudulentas, a polarização política e a diminuição na confiança em peritos são os principais fatores apontados no documento para a diminuição da confiança nas vacinas.

Medidas propostas pela UNICEF:

Identificar e imunizar as crianças, que não foram vacinadas durante a pandemia de COVID-19;

Reforçar a procura de vacinas;

Reconstruir a confiança da população;

Financiamento serviços de imunização e cuidados de saúde primários;

Construir sistemas de saúde resilientes;

Investimento em profissionais de saúde femininos, na inovação e produção local de vacinas.

“Próxima onda de mortes poderá ser de mais crianças com doenças preveníveis”

Segundo Catherine Russell, diretora executiva da UNICEF, “estes dados são um sinal preocupante”.

“Não podemos permitir que a confiança na imunização de rotina se torne outra vítima da pandemia. Caso contrário, a próxima onda de mortes poderá ser de mais crianças com sarampo, difteria ou outras doenças preveníveis”, afirmou a diretora.

Entre 2019 e 2021, um total de 67 milhões de crianças não receberam o esquema básico da vacinação infantil, com a cobertura a diminuir em 112 países, segundo o relatório.

A UNICEF pede agora aos governos que reforcem o seu compromisso de “aumentar o financiamento para a imunização” e para trabalharem junto dos stakeholders para “desbloquear recursos disponíveis, incluindo fundos da COVID-19 não utilizados, para implementar e acelerar urgentemente os esforços de vacinação para proteger as crianças e prevenir surtos de doenças”.

Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro