A situação pandémica tem obrigado a suspensão de grande parte da atividade do setor da cultura. Os espetáculos ao vivo deixaram de ser uma realidade em tempos de confinamento geral e, desde o primeiro confinamento, que o TNSJ começou a disponibilizar sessões online. As sessões streaming, depois de adquiridas, podem ser visualizadas uma vez, até três dias depois da compra. O bilhete e todas as instruções necessárias são enviadas por e-mail.
“Fake” é uma das peças atualmente em exibição no palco virtual do TNSJ. A peça mistura o cinema e o teatro e retrata o fenómeno da desinformação e da criação de Fake News. Destaca-se pela genialidade de iludir o público e revelar um verdadeiro “plot-twist“. Os bilhetes podem ser adquiridos online até este sábado.
Começamos por conhecer quatro personagens, aparentemente com uma ligação direta à protagonista da história, a escritora Norma B. Quanto a ela, não a conhecemos diretamente, mas sim através de histórias desvendadas por quem a conhecia. “Como assassinar o seu marido” é a ilustre obra de Norma B, que depois a atraiçoa. Após o seu marido ser assassinado, a escrita é confundida com a vida real e a escritora é acusada de matar o seu companheiro. Daniel era o seu nome e era cozinheiro e professor num instituto.
O enredo vai-se desvendando através dos testemunhos que, tal como referimos anteriormente, quatro personagens nos vão transmitindo. A melhor amiga da escritora, que trabalhava com ela numa agência de seguros e que engravidou de Daniel; o aluno e coapresentador de um programa televisivo de culinária com o cozinheiro assassinado; o irmão de Norma B e a atriz que encarna a personagem protagonista do livro “Como assassinar o seu marido”.
Rapidamente, percebemos que estamos a assistir, em primeira mão, à gravação de uma série que pretende relatar toda a verdadeira história. A polémica da semelhança da obra da escritora à sua vida real. A azáfama da gravação vai sendo interrompida quando uma nova atriz faz um casting para o papel de “Norma B”. Imediatamente, os quatro atores param o que estão a gravar e assistem, através de um grande ecrã, à prestação da atriz.
O choque de decifrarmos que tudo o que acabou de acontecer perturba-nos e provoca-nos a sensação de culpa e inocência de nos termos deixado levar, como se costuma dizer, pela cantiga. A nossa consciência começa a preocupar-se e a sentir a notoriedade que uma notícia falsa pode ganhar. A forma como a desinformação, atualmente, com os mecanismos que existem, consegue ganhar forma é avassaladora. É perturbador. E é isso mesmo que a peça pretende: deixar-nos alerta.
A obra conta com participação de atrizes como Isabel Abreu, Sandra Faleiro, Madalena Almeida, Márcia Breia, Sílvia Filipe e Teresa Madruga.
“Fake” é uma das peças que se insere na programação online do TNSJ, que já no primeiro confinamento transferiu toda a sua atividade para o universo digital. Para Nuno Cardoso, diretor artístico do TNSJ, o online não substitui “de maneira nenhuma a função dos espetáculos e das atividades abertas à comunidade e da presença física“. No entanto, “criaram uma continuidade da relação do São João com o público, por um lado, e desenvolveram de facto esta importância que é necessária ter de um teatro de uma presença digital, num mundo digital”, afirma.
Em declarações ao JPN, o diretor artístico do TNSJ afirmou que têm tido “uma ótima adesão a esta nova forma de convívio com o público.” Para Nuno Cardoso, o formato online e presencial complementa-se e, por isso, “ presumimos mesmo que, depois de desconfinados e depois de reenquadrados outra vez numa vida mais próxima daquilo que se chama “normal”, que as atividades online do São João continuem presentes como outra forma de o teatro chegar ao seu público” disse o diretor artístico, em declarações ao JPN.
Artigo atualizado às 09h45 de 4 de março com a correção do cargo de Nuno Cardoso
Artigo editado por João Malheiro
