Já se tornou comum andar pelas ruas de grandes centros urbanos e até mesmo em certas cidades e encontrarmos inscrições e ilustrações espalhadas por muros e paredes. Coloridas, a preto e branco, com palavras ou cartoons, essas manifestações artísticas, de caráter crítico social ou não, prevalece como parte característica dos centros urbanos, dispensando a necessidade de se expor em galerias.

Essa forma de expressão artística que utiliza locais públicos (muros e paredes) como tela, é o que chamamos de grafíti, compreendida por muitos como uma manifestação artística e por outros como um mero ato de vandalismo. As suas primeiras aparições registam-se na década de 70 e 80 em cidades como Paris e New York, com obras de artistas anónimos que procuravam expressar-se.

Entendido como um movimento marginal, nos EUA, o grafíti cresceu ao lado da cultura do hip-hop e estendeu-se para o resto do mundo através dessas mesmas influências. Construído sobre temas que denotam a transgressão e a contracultura, o grafíti ganhou o seu espaço com características fortes de expressão e crítica nas ruas, perdurando até aos dias de hoje.

Berço de vários nomes que hoje são reconhecidos nacionalmente e internacionalmente, o grafíti tem ganho visibilidade enquanto arte. O JPN falou com Ricardo, mais conhecido por Odra Trip, um grafiteiro português, para perceber melhor esta expressão visual.

Para Odra o “grafíti vai ter sempre essa conotação de que é bom ou é mau, porque vai sempre haver os pintores que vão fazer por vandalismo e vai haver os pintores que vão fazer coisas que as pessoas consideram arte“. O artista aponta ainda que para ser considerado arte, o grafiteiro tem de  “tratar de qualquer coisa que elas [pessoas] considerem bonito ou apelativo”.

O grafíti “não deixa de ser vandalismo” para Odra Trip, pois “vai ser sempre uma arte marcada pela contracultura“. O artista explica que o grafíti, enquanto arte realizada em vias públicas, nem sempre é criado com a devida autorização dos “donos” dos muros e paredes utilizados como tela. Mesmo assim, grafíti torna-se arte urbana “para se poder comercializar esse vandalismo sem que seja conotado dessa forma”, acredita Odra.

O grafiteiro assume não realizar atuações de vandalismo, visto viver dos trabalhos e pinturas que realiza, para além de acreditar que a região onde vive, Vila Flor, o ato de demarcar sua presença ou expressar cultura através de ações ilegais não resultaria: “Na realidade não se enquadra muito bem com estarmos a fazer grafíti, porque aqui não existe essa cultura”, explica.

O grafíti, enquanto arte urbana, suscita, atualmente, o interesse de entidades públicas e privadas. Muitos são os artistas que são convidados por câmaras municipais e associações culturais para intervir em espaços públicos e na revitalização de prédios.

É o caso de um dos trabalhos recentes de Odra, no qual pintou Marcelo Rebelo de Sousa a pedido dos Caretos de Podence. Tratou-se de uma homenagem à visita do Presidente da República a Podence, no Carnaval de 2020, ano em que Podence registou uma das maiores enchentes. O artista caracteriza este trabalho como uma junção entre a ideia geral de quem realiza a encomenda e o seu próprio estilo que deve ser manifestado no mural.

O grafíti vai continuar a caminhar entre a linha que separa a lei da criminalidade e a arte do vandalismo. Se muitas vezes os autores cometem uma ação ilegal, há ainda muitos artistas como Odra Trip que hoje são figuras consagradas da cultura portuguesa.

Artigo editado por João Malheiro