“Work in Progress” é a expressão que define o estado de quem trabalha na área dos festivais e espetáculos, que continuam a estudar soluções e a estruturar planos para que, nomeadamente os festivais, tal como os conhecemos, voltem a existir.

Há quase um ano que a tipologia de eventos foram suspensos e, desde então, que o setor da cultura anda a meio gás, ou até menos. Nas palavras de Álvaro Covões, empresário da Everything is New: “É um setor que está a colapsar.” E, por isso, o foco agora é “procurar soluções para que eles [festivais] possam acontecer, obviamente, respeitando todas as regras de segurança para quem trabalha e para quem os frequenta”, afirma. 

O anúncio do Governo do Reino Unido foi a luz ao fundo do túnel e trouxe  a esperança de que ainda é possível que os festivais voltem a caracterizar o verão. “Foi muito importante para todos, não só os promotores de espetáculos e da Cultura, mas também para todos os setores de atividade, ver o primeiro Governo na Europa  a apresentar um plano objetivo, com metas, para a reabertura”, afirma Álvaro Covões. O Reino Unido arrancou com o processo de vacinação dois meses mais cedo do que a União Europeia e prevê que o país reabra a atividade económica no dia 21 de junho. 

Apesar da vacinação trazer um pouco de esperança, a edição deste ano de um dos maiores festivais internacionais inglês, Glastonbury, foi cancelado. Na página oficial, a organização lamenta “ter desiludido” os festivaleiros e promete voltar em 2022, entre 22 e 26 de junho.

O ministério da cultura francês anunciou, na semana passada, que os festivais de verão poderão acontecer este ano. A ministra da cultura francesa, Roselyne Bachelot, limitou a capacidade até cinco mil pessoas e terão de ser realizados ao ar livre. No entanto, o governo adiantou que se a crise pandémica se agravar, os número terão de ser revistos.

Imunidade de grupo “vai significar que vamos poder voltar à nossa vida normal”

Em Portugal, também se estuda uma solução. Há meses que um grupo de trabalho, iniciado pelo Governo, em parceria com as associações promotoras de espetáculos e eventos, reúne para traçar um plano. A criação de bolha é, para o empresário da Everything is New, uma possível opção: “Temos uma expectativa muito grande que isto possa ser uma solução para um conjunto enorme de tipologia de eventos, enquanto a pandemia durar”, afirma. 

O plano de vacinação coloca no horizonte a imunidade de grupo que, tal como o diretor da Everything is New diz, “vai significar que vamos poder voltar à nossa vida normal.” Esse é o plano, mas como todos os planos podem sofrer alterações e Álvaro Covões salienta: “Temos que continuar a trabalhar em soluções alternativas para o cenário que vivemos, que é este.” O membro da direção da Associação de Promotores de Espetáculos, Eventos e Festivais (APEFE) apela ainda à responsabilidade social de cada um e pede: “Protejam-se e protejam os outros para podermos atingir a imunidade de grupo.” 

O que se ambiciona é o fim do confinamento e a retoma da atividade económica.  Não só o setor da cultura, como muitos outros setores que também foram afetados pela pandemia. Álvaro Covões acredita que a estratégia da criação de um grupo de trabalho com o Governo, a fim de encontrar soluções para a retoma de atividade, adotada pelos promotores de eventos, pode “servir de exemplo para outros setores de atividade que também estão a ser muito penalizados pela pandemia”, confessa. 

No entanto, o empresário da Everything is New não esquece que os apoios dados à Cultura têm sido insuficientes e explica que “os setores não podem ser tratados todos da mesma forma porque os efeitos da pandemia são muito diferentes de setor para setor. O nosso penso que foi, seguramente, o mais afetado pela pandemia. Talvez, por isso, tenhamos sido o primeiro setor a constituir um grupo de trabalho com o Governo, no sentido de procurar soluções para uma retoma em 2021.”

“Queremos saber com que linhas nos cosemos”

Um festival reduzido a metade do público é algo impensável para João Carvalho, diretor do festival Paredes de Coura e fundador do NOS Primavera Sound. Não é uma hipótese porque, tal como o próprio esclareceu ao JPN, “não seriam festivais auto suficientes”. E, depois de um ano em que se foram realizando concertos com meia lotação em que o ““o setor estava a sobreviver”, a opção de realizar os festivais com restrições só é viável se existir um apoio por parte do Governo. 

João Carvalho espera que o setor possa trabalhar e que há vários países que “têm uma calendarização de cultura que nós ainda não temos”, afirmou ao JPN. Da reunião com o governo com este setor, o diretor realça que é preciso saber “o que vai acontecer”, embora perceba que esta “incerteza generalizada não é algo nacional, mas mundial”.

A questão que João Carvalho precisa de ver respondida para que neste momento é “quando e como vamos poder trabalhar?” e que, na realidade, “queremos saber com que linhas nos cosemos”, rematou o fundador. 

Porto e Lisboa vão ter testes-piloto

A Direção-Geral de Saúde e os promotores de festivais de verão estão a estudar a possibilidade de realizar testes-piloto, de forma a entender em que moldes os festivais de verão se poderão realizar. No Porto, poderá ser no Pavilhão Rosa Mota e em Lisboa no Campo Pequeno. Nesta experiência, a realização de testes rápidos à Covid-19, através da saliva, é uma das propostas. 

O fundador do NOS Primavera Sound não quis adiantar qualquer tipo de informação, uma vez que “isso é algo que está a ser discutido com a DGS” e ”só depois da reunião com o governo é que “teremos mais pormenores”. Adiantou também ao JPN que “essa experiência pode ajudar a contornar determinadas situações e pode ajudar numa solução.”

O governo já referiu, por diversas vezes, que no verão o país pode já ter atingido a imunidade de grupo, situação que é colocada em risco pelos atrasos imprevistos na vacinação. Esta seria uma das mais valias para a realização dos festivais. 

O Ministério da Cultura e a Direção-Geral da Saúde negam existir uma decisão final sobre os testes-piloto. A notícia avançada ontem pela RTP, confirma que  houve reuniões entre associações que representam o setor, a DGS e representantes do Ministério da Saúde e do Ministério da Cultura, em que foram apresentadas propostas neste sentido”, como se lê na notícia.

Graça Fonseca, ministra da cultura, adiantou à RTP que foram apresentadas as propostas, mas nenhuma tem o aval.

Festivais em Portugal: quando e onde? 

Os organizadores dos festivais continuam a trabalhar com a esperança que estes se possam realizar. As datas são provisórias porque ainda estamos em fevereiro e ainda falta muito para o verão e o país passa por um momento  de grande incerteza. 

Todos os eventos ou artistas que estejam já a preparar a sua logística para se realizarem “obviamente que vão adiar”, afirmou Álvaro Covões, como é o caso do festival norte-americano Coachella. 

No caso de Portugal, os organizadores continuam a assinar contratos com as bandas e estão a trabalhar como “ se fosse para fazer os festivais porque acreditamos que é possível fazê-los”, realçou João Carvalho.

Com algumas datas avançadas e alguns artistas confirmados , os organizadores adiantam nas suas páginas oficiais, os possíveis cartazes.

Artigo editado por João Malheiro