O Laboratório Ferreira da Silva, inaugurado em 1910, é agora um laboratório-museu aberto ao público, que conta a história da química e toxicologia em Portugal, e o percurso do professor António Ferreira da Silva, que dá nome ao espaço.

A abertura do laboratório está integrada no Plano Museológico da Universidade do Porto para o Museu de História Natural e da Ciência e, também, no projeto “300 anos de história da Química em 300 quilómetros”, onde estão integrados os laboratórios químicos de Coimbra e Lisboa.

“Neste espaço podemos ver a configuração e o esplendor da art déco de finais da década de 20 até aos finais dos anos 40″, descreve a vice-reitora da Universidade do Porto, Fátima Vieira, durante uma visita do JPN ao espaço. A responsável explica que o objetivo é criar um museu vivo e “mostrar de que forma se fez a química na cidade do Porto, particularmente na Universidade do Porto”.

Para além de preservar e divulgar o património, o Laboratório Ferreira da Silva pretende ser “um espaço vivido” com atividades para os mais jovens e para os adultos. A vice-reitora da Universidade do Porto explica que estão preparados workshops para famílias de forma a “incutir nos jovens o gosto pela ciência”. Para os adultos haverá demonstrações de química e saraus científicos de forma a “recuperar a ideia do sarau científico do século XIX”.

No total, estão em exposição, cerca de 80 objetos, como, por exemplo, instrumentos científicos, frascos com produtos químicos, amostras de minerais, livros e mobiliário. No espaço será possível ver a caixa de alcalóides usada por António Ferreira da Silva na investigação do Crime da Rua das Flores, uma balança analítica de precisão e o alambique, utilizado para obter água destilada.

A curadora dos objetos científicos, Marisa Monteiro, explica que o laboratório foi, inicialmente, criado para tratar questões de segurança alimentar. No entanto, com o crime de Vicente Urbino de Freitas o professor António Ferreira da Silva passou a orientar a sua ação para a área da toxicologia.

O Laboratório Ferreira da Silva pode ser visitado no edifício da Reitoria da Universidade do Porto, com entrada pela fachada sul (Cordoaria), de terça a sexta-feira, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00. Aos sábados, domingos e feriados, o horário será das 10h00 às 13h00. A entrada é livre e limitada a dez pessoas de cada vez. Também é possível visitar o espaço sem sair de casa, através de uma visita virtual.

Professor António Ferreira da Silva

António Joaquim Ferreira da Silva nasceu a 28 de julho de 1853, no concelho de Oliveira de Azeméis. Depois de concluir os estudos primários, Ferreira da Silva veio viver para o Porto onde fez as cadeiras de Química e Zoologia na Academia Politécnica do Porto. Mais tarde, doutorou-se em Ciências Físico-Químicas e em Farmácia pelas faculdades de Ciências e de Farmácia da Universidade do Porto, em 1918 e 1922, respetivamente.

Foi no Porto que iniciou uma longa e bem-sucedida carreira de professor e cientista. Em 1911, ano da fundação da Universidade do Porto, Ferreira da Silva foi nomeado professor ordinário do grupo de Química da Secção de Ciências Físico-Químicas, regendo os cursos de Química Orgânica, Analítica e preparatória para os curos de Medicina. Foi, também, diretor da Faculdade de Ciências.

Em 1880, António Ferreira da Silva foi encarregado pela Câmara Municipal do Porto de analisar as águas do rio Sousa, trabalho que resultou na publicação do relatório “As águas do rio Sousa e os mananciais das fontes do Porto”. De igual modo, como especialista, Ferreira da Silva participou na polémica levantada pelo Laboratório de Análises do Rio de Janeiro que, em 1894, deu os vinhos portugueses como salicilatos. Foi graças à intervenção de Ferreira da Silva que Portugal teve, novamente, autorização para exportar vinhos.

O domínio na área da toxicologia foi decisivo para condenar, em 1890, o médico Vicente Urbino de Freitas protagonista do Crime da Rua das Flores. Urbino de Freitas foi acusado de envenenar com alcalóides o sobrinho e o cunhado.

António Ferreira da Silva faleceu a 23 de agosto de 1923 na casa do Lameiro em Figueiredo, vítima de uma síncope cardíaca. Do livro de condolências consta o nome de Oliveira Salazar, então docente na Universidade de Coimbra.

Os restos mortais jazem no cemitério de Cucujães.

Artigo editado por Filipa Silva