Este ano, o santo popular é celebrado sem direito a fogo de artifício e a concertos, mas há três zonas de diversão, no Porto. Na noite de São João, o negócio fecha mais cedo, mas poder voltar a trabalhar é motivo de festejo para os comerciantes. Alguns estavam parados há 20 meses. O JPN falou com comerciantes das zonas de diversão das Fontaínhas e da Rotunda da Boavista.

Pelo segundo ano consecutivo, os santos populares terão de ser celebrados em contexto de pandemia. O São João, no Porto, vai voltar a não ter fogo de artifício nem concertos ou bailaricos.

Há, contudo, três zonas de diversão no Porto, este ano: na Rotunda da Boavista, nas Fontaínhas e em Lordelo do Ouro (junto ao Fluvial). Estes “parques de diversões” contam com carrosséis, carrinhos de choque, mesas de matraquilhos, farturas e, claro, manjericos.

Estes equipamentos de diversão, a funcionar desde 29 de maio, têm uma lotação reduzida e medidas de segurança impostas. Funcionam de domingo a quinta-feira, das 16h00 às 22h30, sendo que às sextas, sábados e vésperas de feriados, o horário é alargado, das 12h00 às 22h30. Já os espaços de restauração estão abertos das 12h00 às 22h30.

Nas Fontaínhas, apesar de uma tarde de sol convidativa, poucas são as pessoas que circulam pela área na tarde de terça-feira em que visitamos o espaço. “À semana temos pouca gente, mas aos fins de semana é mais mexido”, conta ao JPN Ana Fontes, da roulotte “Farturas Figueiras”.

Ir às Fontainhas exige querer descer até aqui. Boavista e Lordelo são passagens de carro, por isso, recebem outro tipo de atenção”, explica a vendedora de 52 anos.

Ana Fontes Foto: João Malheiro

Pedro Fernandes, da barraca de jogos “American Games“, também pensa que “tem estado muito fraquinha” a adesão do público às Fontaínhas. No entanto, considera que a pouca afluência “é normal, por agora”, pois só a partir de 12 de junho é que as pessoas costumam passar pela zona.

Já Firmino Pires, da “Farturas Couto”, considera que “é um ano diferente”, mas mantém a esperança “que as pessoas vão sair de casa para celebrar” o São João. “A esperança é a última a morrer“, afirma.

Firmino Pires Foto: João Malheiro

Tanto Ana Fontes como Firmino Pires conseguiram arranjar trabalhos esporádicos, desde o início da pandemia. Pedro Fernandes conta estar “parado há 20 meses“, sendo esta a primeira vez que está no ativo, desde o início da pandemia.

Para todos os comerciantes das Fontaínhas, “só poder trabalhar já é um privilégio“, como diz Pedro Fernandes. “Temos de aproveitar os poucos bocadinhos que temos e dias melhores virão mais tarde”, acredita Ana Fontes.

A festa na rotunda

Noutra parte da cidade, a zona de diversão da rotunda da Boavista tem uma afluência nitidamente superior, apesar de também termos visitado o lugar durante a tarde de um dia de trabalho. Adolescentes, jovens adultos, filhos, pais e avós compõem o espaço, sempre de máscara e seguindo o distanciamento social.

As pessoas têm aderido“, conta ao JPN António Amaral, de um carrossel infantil da zona de diversões. “Como é um clima de jardim, ao ar livre, as pessoas sentem-se confortáveis”, explica o comerciante de 61 anos.

Leandra Pardal, dos carrinhos de choque, partilha esta visão positiva: “Tem havido imensas pessoas a aderir. Estamos satisfeitos com a afluência da população do Porto“, afirma ao JPN.

Cláudia Roberto, da roulotte “Fartura Serra da Estrela”, também está a ter “bom negócio”. “Tem valido a pena estar aqui [rotunda da Boavista], sem dúvida”, diz a comerciante de 42 anos.

Leandra Pardal Foto: João Malheiro

Os três entrevistados também estiveram parados durante 20 meses. Esta quadra festiva é a primeira vez que regressam ao ativo desde a chegada da Covid-19.

É uma enorme felicidade poder ver a alegria na cara das pessoas“, conta Cláudia Roberto. Leandra Pardal destaca “a dose de oxigénio” que é voltar ao ativo, depois de “tanto tempo em casa e sem ajuda das autarquias“.

O regresso é feito “cumprindo todas as normas da DGS”, afirma a comerciante. “Os carrosséis são vedados e têm pontos de entrada e saída, todos os lugares e carrinhos são desinfetados e há álcool e gel em vários espaços“, explica ao JPN.

Cláudia Roberto Foto: João Malheiro

“Este ano não celebramos o São João”

Se, na maioria dos dias, as zonas de diversão estão abertas até às 22h30, o mesmo não se vai verificar na noite de véspera de São João. No dia 23 de junho, os espaços vão ter de fechar às 18h00.

A opinião entre os comerciantes ouvidos pelo JPN é unânime: fechar mais cedo é negativo, mas compreensível.

“É pena na noite de S João ter de fechar às 18h00, mas não estamos num ano normal, estamos numa pandemia”, afirma Ana Fontes. Firmino Pires aceita “facilmente” as regras, pois trata-se do “acordo que foi feito com a Câmara do Porto” que tem “de ser respeitado”.

Para Pedro Fernandes, “não existe véspera de São João este ano“, mas não pensa que deva reclamar. “Estamos a ter a benesse de poder trabalhar, há pessoas que não estão nesta situação”, considera.

Pedro Fernandes Foto: João Malheiro

O mesmo diz António Amaral: “Este ano não celebramos o São João. É mesmo só para as pessoas se divertirem um bocadinho. Estamos abertos a quem quiser vir matar saudades e temos solidariedade com o presidente da Câmara Municipal do Porto“.

Leandra Pardal admite estar “triste” por ter de fechar antes da noite de São João, porque é um momento “que traz imensa gente”. “Mas temos de aceitar e já nos damos por satisfeitos por termos estes dias”, afirma.

Cláudia Roberto antecipa que a véspera de São João não será “um dia muito bom” em termos de negócio. Mesmo assim, “existem os outros dias para podermos festejar“, conclui.