É sob o signo do “Risco”, lugar de fronteira entre o perigo e a oportunidade, o bloqueio e a expansão, o presente e o futuro, que o Mexe – Encontro Internacional de Arte e Comunidade arranca, este sábado (18), no Porto, a sua sexta edição.
Ao longo de 15 dias, e em diversos locais, o encontro tem para oferecer uma programação eclética, eminentemente gratuita, que vai da peça de teatro à mostra de cinema, da conversa à oficina, do concerto à performance, passando ainda pela instalação.
Em 2021, apresenta também duas novidades: o Mexe Online, com eventos especificamente concebidos para o meio, e a expansão da programação às cidades de Viseu e de Lisboa.
Das Fontaínhas para o Mundo
É a partir do quartel-general do Mexe, nesta edição instalado na sede do Sporting Clube de São Victor, junto às Fontainhas do Porto, que o diretor artístico, Hugo Cruz, explica a base participativa e comunitária sobre a qual assenta o encontro.
“O Mexe é um lugar de diálogo”, começa por dizer ao JPN. “Um espaço onde tentamos organizar encontros improváveis que não aconteceriam de outra forma. Dentro dessa premissa, apostamos numa programação que permita às realidades sociais falarem por elas próprias e não um discurso e uma narrativa sobre essas realidades sociais. Por isso, alargamos os nossos protagonistas. E daí também um aspeto essencial do Mexe que é a sua relação com os cidadãos e as cidadãs.”
Essa relação reflete-se em diversos momentos da programação. São exemplos, este ano, o “Laboratório de Riscos Impossíveis” – no programa já deste sábado – ou o projeto “Sabor Visceral do Futuro”, criações que, nos dois casos, envolveram os moradores das Fontainhas e de São Victor. Ou a instalação “Azevedo” que resulta do trabalho feito pela associação Pele – co-organizadora do Mexe – com os habitantes dessa zona remota de Campanhã.
Pelo Jardim de São Lázaro, bem perto da sede do Mexe, vão também passar momentos importantes da edição. Desde logo, a conferência de abertura (sábado, 16h30) que vai pôr à conversa o primeiro cyborg reconhecido por um Governo, o britânico Neil Harbisson, com a jornalista Cláudia Galhós. “O risco de sermos humanos” vai servir de mote à conversa. À noite, também no sábado, é a rapper Mynda Guevara a dar um concerto no local.
Pouco antes, às 19h00, sobe ao palco do Teatro Carlos Alberto (TeCA) “Paisajes para no colorear”, da companhia chilena La Re-sentida. Uma peça também ela participativa que é o resultado da partilha de testemunhos de mais de 100 adolescentes do sexo feminino, do Chile e da América Latina, sobre histórias de violência de género.
Na vertente online, que nesta edição é assumida como “uma linha programática como qualquer outra”, há, além da transmissão de vários momentos do programa, eventos exclusivamente pensados para o meio.
É o caso de “A Máquina do Ruído”, uma instalação digital, aberta à participação dos cidadãos durante todo o período do festival, que pretende explorar a forma como as pessoas usam as redes sociais e como estas se apropriam do seu discurso. “Qualquer cidadão pode participar neste projeto, basta aceder ao site e escrever as suas mensagens, urgências, gritos, revoltas”, exemplifica Hugo Cruz. A “Máquina”, criação de Bruno Kowalski, entra numa nova fase no pós-festival.
A programação completa do Mexe está disponível no site do festival. Todos os eventos são de acesso gratuito, com exceção dos que vão ocorrer no TeCA, no Teatro Municipal do Porto, no Teatro Viriato (Viseu) e na Culturgest (Lisboa). O acesso aos eventos exige um bilhete que deve ser levantado a partir de uma hora antes do espetáculo no lugar da apresentação.
No total, estão envolvidos mais de cem participantes de seis países e vinte espaços de três cidades.
Numa edição montada em cima de um terreno fértil em desafios – “Como fazer trabalho participativo e comunitário [em contexto pandémico]? Como nos voltamos a encontrar enquanto coletivo? Como é que reinventamos o nosso corpo, o toque, o estarmos juntos?” – perspetiva-se já o futuro e esse, garante Hugo Cruz, que apresentará no Mexe um livro sobre o tema, trará novidades.
“Não vamos poder continuar a desenvolver oferta cultural como até aqui e isto é desde as instituições culturais mais prestigiadas até a uma associação cultural de bairro. Todos nós temos de encontrar outra forma de fazer”. Pela sua parte, o Mexe promete “ter coragem para continuar a reconfigurar-se”.