A organização de defesa dos direitos humanos montou uma instalação junto à Câmara Muncipal do Rio de Janeiro para marcar os quatro anos do crime e exigir respostas às autoridades.

Aniversário da morte da deputada e ativista foi lembrada no Rio de Janeiro. Foto: Amnistia Internacional

A Amnistia Internacional realizou, nesta segunda-feira, uma intervenção urbana para marcar os quatro anos do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, e exigir respostas. A organização considera que este aniversário é “mais um marco inaceitável” e acredita que “Marielle deve ser lembrada, principalmente e sobretudo, por sua mobilização em favor da dignidade e contra a injustiça, e não por um crime sem resposta”. 

A instalação foi montada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e recorda a cronologia do processo judicial, que permanece inconclusivo. Em comunicado enviado às redações, Jurema Werneck, diretora executiva da Amnistia Internacional Brasil, afirma, a propósito da ação, que “é nosso dever exigir das autoridades oficiais que as famílias de Marielle e Anderson tenham seus direitos respeitados. E hoje, estamos exigindo isso publicamente”.

A 14 de março de 2018, a vereadora e o seu motorista foram mortos a tiro numa emboscada no centro do Rio de Janeiro, à saída de uma reunião política. Desde então, o crime é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital e já esteve sob a liderança de cinco delegados e dez promotores do Ministério Público.

Depois de 1.456 dias, a lentidão do processo motivou diversos protestos, tanto no Brasil, quanto em outros países e a pergunta “Quem mandou matar Marielle?” voltou a circular pelas redes sociais. A escritora e jornalista Eliane Brum escreveu em seu perfil no Twitter que os quatro anos sem resposta são traduzidos em dor, vergonha e impunidade.

Já o ex-presidente do Brasil, Lula da Silva, descreveu o episódio como “crime brutal e político”.

Para a Amnistia Internacional, “quatro anos é muito tempo. Ficamos comovidos com a decepção desta longa espera, mas também com esperança. As autoridades devem cumprir seus deveres com transparência para enviar uma forte mensagem de que a impunidade não será o legado do assassinato de Marielle e Anderson”.

Além da demora, a organização destaca a falta de transparência no caso e as restrições enfrentadas pelas famílias das vítimas no acesso às informações. “É essencial evitar a fuga de informações no decurso das investigações, mas as famílias e seus representantes têm o direito de participar de todas as etapas. Respeitar o sigilo não significa falta de transparência. A falta de justiça pela morte de um defensor dos direitos humanos tem um efeito assustador sobre todos aqueles que defendem a dignidade e a vida”, diz Jurema Werneck.

Ainda na segunda-feira, 14, os advogados das famílias de Marielle e Anderson fizeram um pedido preliminar ao Tribunal de Justiça solicitando a partilha de todas as informações dos autos de inquérito sobre os perpetradores do assassinato. Na semana anterior, representantes do “Comitê Justiça Por Marielle e Anderson” e pais da vereadora reuniram-se com o comissário Alexandre Herdy, o novo chefe da Delegacia de Homicídios da Capital, a fim de entender as etapas da investigação e exigir transparência e firmeza. 

Marielle Franco, negra e lésbica, era vereadora do Rio de Janeiro e ativista dos direitos humanos. Criada na Maré, Marielle foi a quinta candidata mais votada nas eleições municipais que antecederam a sua morte e o seu trabalho mais influente era o de apoio às minorias.

Artigo editado por Filipa Silva