Esta segunda-feira (20), o LGBT+ Music Festival anunciou o cancelamento. O festival, que prometia ser mais do que apenas um festival de música, vai deixar vazio os palcos para onde tinha sido anunciado – primeiro da Alfândega do Porto, de 1 a 3 de junho, depois uma versão reduzida que iria acontecer no Hard Club, no Porto, nos dias 1 e 2 de julho.

Na publicação que anuncia o cancelamento total do evento, a organização do festival refere que “os esforços [para proporcionar uma boa experiência] foram insuficientes” e não queriam “organizar um evento que desapontasse a comunidade”. Os detentores de bilhete receberam, através de e-mail, um endereço para fazer o pedido de reembolso, mas até agora nenhum terá sido concluído. Em caso de dúvida, a organização pede para que se contacte o e-mail [email protected].

 

 
 
 
 
 
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Depois de muita contestação nas redes sociais – sempre sem resposta do LGBT+ Music Festival – a página restringiu os comentários no Instagram.

De uma edição reduzida ao cancelamento total do festival

No dia 1 de junho, o primeiro dia do mês do orgulho LGBTQIA+, a organização anunciou que o festival se realizaria em moldes diferentes dos previstos. Da Alfândega passou para o Hard Club, de três dias passou para dois e caíram do cartaz nomes internacionais como Iggy Azalea, Gloria Groove, Melanie C, Todrick Hall, Bebe Rexha e Ludmilla. A atuação de Gloria Groove estava confirmada para dia 2 de julho, mas, na verdade, a artista tem concerto marcado no Coliseu de Lisboa nesse dia – um dos fatores que levou os compradores de bilhete a duvidar da veracidade destas notícias.

Quando o festival foi inicialmente anunciado, prometiam-se festas em barcos, piscinas e rooftops, concertos e convívios que extravasariam as imediações da Alfândega do Porto. Nas redes sociais, o entusiasmo misturava-se com desconfiança pela falta de informação que começou a ser hábito da organização.

ILGA e compradores de bilhete desapontados com o desfecho do festival

O logótipo da Associação ILGA Portugal – Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo foi usado na promoção do festival. Mas a verdade é que a associação, que foi catalogada como community partner do LGBT+ Music Festival, nunca consentiu esta parceria.

A presidente da ILGA Portugal, Ana Aresta, contou ao JPN que foram contactados pela organização do festival ainda em 2021. Pediram que redigissem uma carta de sensibilização para enviar a autarquias e outras entidades. O objetivo seria explicar a relevância deste tipo de eventos para dar visibilidade à comunidade LGBT. A ILGA assentiu ao pedido, mas garante que em momento algum houve qualquer acordo sobre uma parceria.

Desde que pediu a retirada do logótipo, a associação nunca voltou a ter qualquer contacto com o festival porque “não havia abertura para repensar o modelo e pensar de que forma poderia contribuir para um reforço dos direitos humanos e do movimento associativo”.

Hugo Peixinho era um dos jogvens que tinha bilhete comprado. Entretanto, já fez o pedido de reembolso, mas teme nunca mais reaver o que gastou porque “a organização do festival tem de devolver o dinheiro todo dos bilhetes à Festicket [site através do qual se compravam os bilhetes], sem esse dinheiro a Festicket não pode efetuar reembolsos”.

Mesmo com toda a polémica que envolveu o festival, o cancelamento deixa um amargo de boca. “Era importante [acontecer] porque seria o primeiro festival desta magnitude dedicado à comunidade LGBTQIA+ e seria um ‘lugar seguro’ para as pessoas se expressarem da forma que quisessem, com a liberdade que quisessem, sem receio de serem julgadas”, reconheceu Hugo em declarações ao JPN.

O LGBT+ Music Festival foi várias vezes acusado de pinkwashing – termo usado para referência ao aproveitamento da causa LGBTQIA+ para efeitos de marketing ou imagem sem que tenham verdadeiro significado. Para Ana Aresta, “fica aqui uma grande aprendizagem”. A presidente da ILGA Portugal menciona a importância da estrutura das empresas que promovem ações e eventos LGBTQIA+. “Não nos podemos esquecer que as empresas multinacionais empregam milhares e milhares de pessoas trabalhadoras e, portanto, deve ser nas suas próprias estruturas que devem implementar os diretos humanos”, referiu ao JPN.

A presidente da ILGA Portugal sublinhou ainda a importância de “garantir que as ações de visibilidade nos meses do orgulho, por parte das empresas, não sejam só ações de marketing.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha