Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos pede ao governo um aumento de 60 euros em todas as pensões. Travão à subida de preços na alimentação, habitação e energia é outra das reivindicações.
Cerca de 250 reformados reuniram-se esta terça-feira (24), na Praça da Batalha, no Porto, para se manifestarem contra o aumento do custo de vida. O protesto foi organizado pela MURPI – Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos e decorreu em simultâneo em 19 locais do país.
Ao JPN, Isabel Gomes, presidente da direção da MURPI, disse que o mais “importante é repor o poder de compra” dos reformados. A associação propõe dez medidas de “emergência” para combater as crescentes dificuldades dos pensionistas. Entre elas, o aumento de “60 euros para todas as pensões” e o fim da taxa de IVA aplicada aos produtos essenciais. Estes reforços, contudo, podem não ser suficientes, alerta a dirigente.
É necessária a existência de “um teto” que impeça o aumento dos preços, “senão isto entra numa espiral [de encarecimento] e nunca mais para”. Esse travão aplicar-se-ia aos preços da alimentação, mas também da energia e habitação, bens com grande impacto no orçamento da população idosa.
O problema das rendas é particularmente crítico, diz a MURPI. O aumento dos custos da habitação nos últimos meses foi algo “fora do normal”. Há idosos a “mudar-se para casa dos filhos” ou a “procurar um quarto. É algo miserável para quem trabalhou uma vida inteira, não ter direito a uma casa”.
Os reformados defendem ainda a criação de “uma rede de lares públicos“, para que as pessoas que não queiram continuar a viver na sua casa possam ter “um quarto digno”.
Governo devia ter “cumprido a lei das pensões”
Maria de Fátima Albergaria, de 74 anos, e Ernesto Silva, de 75, residem em Vila Nova de Gaia e estiveram na manifestação. Maria de Fátima realça a subida de preços dos produtos de primeira necessidade que se verificou nos últimos meses. “As pessoas não ganham o suficiente. O que antes custava 50 euros, agora custa 150 euros”.
O marido, Ernesto, diz que “as pensões são baixas” e que “foi muito grave o governo não ter cumprido a lei das pensões”. Em setembro de 2022, o executivo anunciou a atribuição de um complemento extraordinário de meia pensão a todos os reformados. A ajuda veio, no entanto, acompanhada de um ajuste na aplicação das lei das pensões para 2023. Esta, se fosse respeitada, implicaria “um aumento na ordem dos 7% a 8%”, em vez dos “3,5% e 4,8%” que foram aprovados, refere o MURPI.
Um prejuízo que Ernesto Silva sublinha: “Queremos manter o nível de vida que tínhamos” enquanto trabalhadores, mas o governo obriga-nos a “baixar”.
Renda, alimentação e saúde entre as principais preocupações
Joaquina Machado, residente em Valongo, reformou-se ao fim de 44 anos a trabalhar como empregada geriátrica num lar da Foz, no Porto. Estou “com uma reforma muito pequena“, diz ao JPN. A manifestante realça o aumento do custo da alimentação verificada nos últimos meses. “Quem faz compras no dia-a-dia sabe que há produtos que aumentaram 90, quase 100%”, completa.
“Quem quiser ter condições de saúde até ao final da vida, se não tiver uma alimentação mais ou menos digna e equilibrada, não consegue”, realça ainda. A seu lado estava a amiga Alice Peixoto, também a viver em Valongo. A sua principal preocupação é o crescimento das rendas: “Com uma reforma de 300 euros, como é possível pagar?”
O funcionamento deficiente do sistema nacional de saúde é outra preocupação: “Desde a pandemia, ainda não fui ao médico de família. Há mais de um ano que tento marcar uma consulta e não consigo”, explica Joaquina Machado.
Por estas razões, a reformada pretende continuar a participar nos protestos: “É o meu dever cívico. Vim em defesa da minha condição de reformada e em defesa de todos os reformados”, diz. “E com a situação em que estamos orgulho-me de estar aqui, na luta”.