Um consórcio de investigação e jornalismo divulgou, na quinta-feira (23), um mapa que assinala os locais contaminados por substâncias persistentes na Europa. Em Portugal há nove pontos onde foi identificada a presença de contaminação.

As PFAS são utilizadas em utensílios de cozinha por conta das propriedades antiaderentes. Foto: Rob Wicks/ Unsplash

Foram divulgados na quinta-feira (23) os resultados de um projeto de mapeamento que marca os locais na Europa contaminados por substâncias perfluoroaquiladas (PFAS), mais conhecidas como “produtos químicos eternos”.

O mapa europeu foi desenvolvido por um consórcio de investigação e jornalismo que juntou vários meios de comunicação social europeus numa denúncia comum, que revela que estas substâncias tóxicas foram encontradas em águas, solos e sedimentos de vários países da União Europeia (UE) e do Reino Unido.

Portugal também está presente neste documento com nove locais onde foi identificada uma contaminação igual ou superior a 10 nanogramas por litro de água (n/l). As localidades com maior número de nanogramas são Muge (Salvaterra de Magos, 3200 ng/l), Monte da Vinha (Elvas; 750 ng/l) e Albufeira de Crestuma-Lever (Vila Nova de Gaia, 460 ng/l).

As regiões de Bravães, Praia Pontilhão da Valeta, Penide/Areias de Vilar, Montemor-o-Velho, Ribeira Vale do Morto e Ermidas do Sado também estão presentes na lista.

A apresentação deste mapa surge poucos dias depois de a União Europeia revelar a intenção de proibir as PFAS a partir de 2026. As PFAS são denominadas como “produtos químicos eternos” por conta da sua lenta degradação.

Estas substâncias foram encontradas em cerca de 17 mil locais do Reino Unido e da Europa. Em 640 zonas foram detetadas concentrações elevadas (mais de mil nanogramas/l) e acima de 10 mil em 300 localidades, segundo noticia o The Guardian.

Locais onde os PFAS apresentam 10ng/l (nanogramas por litro) ou mais, segundo o consórcio de investigação e jornalismo. Fonte: The Guardian. Investigações das Bacias Hidrográficas. Dados cartográficos do Openstreetmap

Preocupações e consequências para a saúde

Especialistas em química ambiental, diz o The Guardian, consideram que “estes tipos de concentrações suscitam preocupações”. O ácido perfluoro-octanossulfônico (PFOS) e o ácido perfluorooctanoico (PFOA), são duas PFAS que estão associadas a vários problemas de saúde. Entre eles: o cancro renal e testicular; a doença da tiróide; a colite ulcerativa; o colesterol elevado e a hipertensão induzida pela gravidez.

Um professor da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, Crispin Hall, refere ao periódico britânico que existe o risco do gado ter acesso a águas contaminadas e destas “substâncias entrarem na rede alimentar humana”.

No mesmo artigo, Ian Cousins, que é cientista ambiental da Universidade de Estocolmo, garante que os locais com valores superiores a mil nanogramas por quilo deveriam ser “urgentemente avaliados”.

O cientista afirma ainda que deveriam ser realizadas “campanhas de publicação para desencorajar o consumo regular de peixes selvagens, mariscos e ovos produzidos por galinhas ao ar livre“.

A vida selvagem é também afetada, segundo o estudo realizado pelo consórcio. Há 330 espécies, entre elas golfinhos, macacos, pandas, ursos polares, aves e peixes, que se encontram ameaçadas pelas PFAS, algumas delas já em vias de extinção. A pesquisa apelou ainda a uma ação reguladora a nível nacional e internacional, para proteger a vida selvagem da contaminação.

Em conversa com o JPN, José Marques, presidente da Campo Aberto, relembrou a existência do programa REACH, promovido pela União Europeia para melhorar a proteção da saúde humana e do ambiente, face aos riscos que podem resultar dos produtos químicos. O presidente da associação ambientalista acredita que “os países ainda devem estar a seguir as indicações do programa” e que este “nunca alcançou bem os pontos onde quis chegar”.

O estudo feito pelo consórcio de investigação e jornalismo contou com a participação dos seguintes meios de comunicação social e organizações: Watershed Investigations, Le Monde (França), NDR, WDR Süddeutsche Zeitung (Alemanha), RADAR Magazine e Le Scienze (Itália), The Investigative Desk e NRC (Holanda), Journalismfund.eu e Investigative Journalism for Europe.

Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro