Alexandra Moura, Huarte e Maria Gambina marcaram a tarde do último dia do Portugal Fashion. O certame terminou em grande, este sábado (18), com a estreia da loja de Luís Onofre, workshops, seda artesanal e vinho do porto à mistura. 

A 52.ª edição do Portugal Fashion (PF) terminou este sábado (18), depois de cinco dias de eventos e várias exibições – espalhadas pelas ruas e espaços comerciais do Porto. 

O palco dos últimos desfiles voltou ser a antiga garagem da Rua Latino Coelho, tendo estes brindado o público com experiências sonoras únicas no decorrer das apresentações. O grande destaque foi Alexandra Moura. Também Huarte, com o uso de ganga, e Maria Gambina, com um salto de estação, marcaram o dia.

O último dia do certame contou ainda com apresentações de David Catalán, Davii, Shoes and Bags, Hugo Costa e vários eventos que querem reafirmar a indústria da moda como mais que desfiles. Salientam-se a inauguração da loja de Luís Onofre e uma demonstração sobre a confeção de seda artesanal.

Alexandra Moura apresenta-se ao som da chuva

Ao som da chuva, Alexandra Moura apresentou as propostas de Outono/Inverno, inspiradas no poema “Credo” da açoriana Natália Correia. Ao ritmo de poesia construída com sons dos Açores, a coleção “Creio” (sinónimo de “credo”) fez magia.

Em conversa com o JPN, a designer explica que queria “enaltecer o próprio poema”. Desta forma, “rosas” e “asas de ouro” foram os estampados escolhidos para as costas dos modelos. 

Entre cores escuras, padrões às flores, folhos, cabelos molhados, materiais ruidosos e sapatos com fita cola manifestou-se o sentido puro do streetwear. A designer não deixou, no entanto, de lado a vertente clássica e o sportswear.

As “Princesas Urbanas” de Maria Gambina

“Já não faço mais coleções com seis meses de antecedência”, afirma Maria Gambina, designer há 30 anos, ao JPN. Apesar desta edição do Portugal Fashion ser focada nas coleções Outono/Inverno, a artista surpreendeu o público com as propostas de Primavera.

A coleção mistura elementos e estilos que fazem parte da história da marca – silhuetas femininas conjugadas com peças oversized. Ao mesmo tempo, explorou cores vivas, riscas, padrões xadrez e trouxe camisas que, na verdade, eram calções. Mais ainda, brincou com os estampados, reaproveitado a “disco culture” da coleção anterior de Primavera/Verão 20,  ao som de jazz.

Ainda sobre as propostas, Maria Gambina acrescenta: “Costumo dizer que [as modelos] são as minhas princesas urbanas – porque são femininas e românticas, mas são muito cool e descontraídas”.

O par de calças ao contrário de Huarte

Victor Huarte, designer da marca, iniciou o seu percurso no Portugal Fashion com a participação no concurso Bloom. Desde então, marca presença recorrente no certame. O desfile desta edição resumiu-se a cores vivas, ambiente animado, música dos anos 80, saias, calções…E muita ganga – desta vez, também colorida.

Como destaque da apresentação, o seu encerramento: onde um modelo, em tronco nu, desfilou com um par de calças de ganga ao contrário, com a parte do fecho virada para as costas. 

Hugo Costa, David Catalán e Davii foram as outras figuras do dia,  – que fecharam a “passarela” da semana da moda no início da noite de sábado, antes da festa de encerramento, no Pérola Negra, em parceria com a artista Ana Moura

Uma semana que leva o foco aos vários recantos da moda

Nesta edição do Portugal Fashion, as apresentações em espaços comerciais foram a grande novidade. Mas não foram a única atração da semana. No sábado, o holofote cai na inauguração da loja de Luís Onofre, na Avenida da Boavista, onde foram desvendadas as novidades do designer.

A tendência são botas até ao joelho. Os novos modelos apresentam o habitual salto alto dourado, em formato diamante, numa paleta de cores vivas – roxo, verde, vermelho e amarelo. Além disso, misturam elegância, brilho, pele e texturas, como o efeito pele de cobra, tecido e látex.

Em exposição no espaço encontra-se a coleção de Primavera/Verão, apresentada na edição passada do evento. Ainda sobre a disposição dos elementos, o fundo da loja é reservado ao calçado clássico masculino. 

Não foi, porém, o único ponto alto do dia. Visando mostrar as várias ramificações da indústria, o município de Freixo de Espada à Cinta apresentou, no quarteirão cultural WOW (World Of Wine), em Vila Nova de Gaia, o trabalho dos seus artesãos de seda. Desta forma, o certame reuniu duas das mais marcantes tradições portuguesas: a produção deste tecido e o vinho .

Freixo de Espada à Cinta, vila localizada a Norte de Portugal, no distrito de Bragança, perto da fronteira com Espanha, é “​​o único território na Península Ibérica onde ainda se elabora seda de forma 100% artesanal”, de acordo ​a página municipal. Assim, durante o dia de sábado, foi mostrado, ao vivo, o processo de produção e manipulação da seda.

O evento consistiu na demonstração do procedimento realizado pelas chamadas “laboriosas artesãs”, que criam os bichos-de-seda, prepararam o fio para ser usado nos teares e transformam o material em vestuário e acessórios – constituindo peças únicas e valiosas.

O encontro foi marcado pelo discurso de Alexandre Meireles, que identificou o Portugal Fashion como uma forma de partilhar a tradição portuguesa. “Muito mais que moda, é cultura, é tradição”, reitera. O Presidente da ANJE (Associação Nacional de jovens Empresários) ressalvou ainda a importância do município transmontano: “É o único concelho que trabalha a seda, desde o início, artesanalmente, sem maquinaria, até à parte final”.

No evento marcou ainda presença o Presidente da Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta, Nuno Ferreira, e outros designers que participaram no Portugal Fashion, como Miguel Vieira. 

Assim, o certame encerrou uma edição focada em renovação que olha além dos essenciais da moda, passando por diversas localizações da cidade do Porto – como o Cais de Gaia, o Marquês e a Boavista. Na programação do último dia constaram ainda o jantar de apresentação de Ernest W.Baker Studio e a festa de encerramento com presença de Ana Moura, trazida pela Contracoutura. 

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira