Com a rutura dos gasodutos Nord Stream, as divergências entre a Federação Russa e o Ocidente ultrapassaram a esfera político-militar, assumindo também repercussões ambientais. Pedro Nunes, da Associação Zero, destaca os efeitos negativos da libertação de gases na atmosfera e ecossistema marinho.
As explosões nos gasodutos Nord Stream, ocorridos em setembro do ano passado, em pleno mar Báltico, causaram um grande alarmismo político e mediático. Para além das divergências governativas e ideológicas, as consequências deste ponto de tensão entre a Federação Russa e o Ocidente originaram uma problemática ambiental que pode comprometer a sustentabilidade.
Pedro Nunes, coordenador da área de Energia, Clima e Mobilidade da Associação Zero, em declarações ao JPN, garantiu que as libertações de metano para a atmosfera têm “um forte impacto” no que diz respeito às emissões equivalentes de gases de efeito de estufa.
O Nordstream 1 assegurou durante anos o transporte de gás russo para a Europa, enquanto o Nordstream 2, contruído com o mesmo fim, nunca chegou a ser ativado, devido à invasão da Ucrânia pela Rússia.
Com os danos infligidos nestes dois pipelines, com mais de 1000 km de comprimento cada, “foram lançadas para a atmosfera entre 10 a 14 milhões de toneladas de CO2“. Em termos comparativos, Portugal emite “cerca de 60 milhões de toneladas equivalentes num ano”, ressalva o ambientalista.
Um relatório produzido por pesquisadores da Universidade de Aarhaus, da Dinamarca, e divulgado pela Nature, indica que a abertura dos tubos deixou um volume de cerca de 250 mil toneladas de substâncias tóxicas no fundo do mar.
Para Pedro Nunes, as espécies marinhas presentes no mar Báltico correm assim sérios riscos: “Os cetáceos, por exemplo, são muito sensíveis no que diz respeito à audição, o que leva a que os impactos sonoros da explosão sejam extremamente prejudiciais”. Pedro Nunes destacou também os riscos associados ao bacalhau, que regularmente procura alimentação e reproduz-se nessas águas.
Diminuição da dependência da energia russa dá forte empurrão às energias renováveis
A guerra entre Rússia e Ucrânia, despoletada em fevereiro de 2022, levou a um maior investimento da União Europeia nas energias verdes, através do pacote de medidas REpowerEU. O objetivo passa por acabar com a dependência da Europa dos fornecedores russos, como a Gazprom. Para Pedro Nunes, este conjunto de reformas foi “a cereja no topo do bolo” para assegurar uma “diminuição do consumo de gás fóssil”, pois permite priorizar “a produção endógena de energia renovável”.
Apesar de considerar esta alteração bastante positiva, o colaborador da Associação Zero reforça que estas medidas “não foram colocadas em prática por motivos ambientais”, mas sim por “motivos de segurança energética”.
Causas das explosões continuam por clarificar
Recorde-se que a causa das fugas nos gasodutos Nord Stream permanece desconhecida, apesar das várias teorias avançadas. Inicialmente, surgiu a hipótese da explosão resultar de uma investida russa, a mando de Putin, de forma a mostrar a importância do país no fornecimento de energia.
No entanto, mais recentemente, outras explicações vieram a lume. Os serviços de informação americanos falam de uma sabotagem realizada por um grupo pró-ucraniano que seguia num barco com destino à ilha dinamarquesa de Christianso. Em fevereiro, porém, o jornalista Seymour Hersh publicou uma peça no seu blog em que denuncia a autoria americana das explosões que inutilizaram a infraestrutura marítima.
Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro