As universidades aproveitaram “quase na totalidade” a reserva de vagas para alunos menos favorecidos, diz o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), em comunicado.
Recentemente, o governo concretizou através de despacho a intenção, manifestada em fevereiro, de destinar 2% dos lugares disponíveis no ensino superior para alunos do escalão A da acção social escolar.
Uma medida que o conselho de reitores considera ser “positiva” e que teve uma “elevada adesão das universidades públicas” na distribuição das vagas. Desta forma, diz o presidente do CRUP, António Sousa Pereira, no próximo ano letivo “vão entrar nas universidades alunos de famílias carenciadas, que são o grupo social mais sub-representado no ensino superior português”.
O CRUP destaca também o alargamento do número vagas para candidatos maiores de 23 anos e dos cursos com notas de entrada mais altas. Estas medidas permitem o aumento de vagas nos cursos de saúde, nas tecnologias de informação e comunicação e nos cursos de formação de professores – áreas profissionais em que Portugal é mais deficitário.
Periferia das áreas metropolitanas de Porto e Lisboa têm menos oferta de ensino superior
Uma análise realizada pela EDULOG, entidade da Fundação Belmiro Azevedo, a cujas conclusões o JPN teve acesso, constatou que as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto concentram 54,6% do total dos alunos universitários inscritos no sistema público. Lisboa surge claramente à frente com 38,9% do total, enquanto a área metropolitana do Porto concentra 15,7% dos estudantes.
No sistema privado, esta confluência é ainda superior: o número de alunos de Lisboa corresponde a 54,7% e o do Porto a 36,0% do total (90,7% nas duas áreas metropolitanas somadas), restando penas 9,3% para o resto do país.
No comunicado, foi destacada ainda a falta de oferta do sector público na “periferia das áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa”, que o CRUP considerou o “o principal problema em Portugal” no acesso dos jovens ao ensino superior.
As sub-regiões do Tâmega-Sousa, Alto Tâmega, Oeste e Médio Tejo são aquelas onde há uma maior carência de oferta. Nos dados recolhidos no estudo da EDULOG, na região do Tâmega e Sousa, por exemplo, só há um estudante para 224 habitantes, enquanto em Bragança a relação é de um estudante de ensino superior para cada 11 habitantes e em Coimbra de 1 para 12.
Portugal caracteriza-se ainda por uma concentração da população e da atividade económica na faixa litoral do país. Para o presidente da CRUP, o “desafio que temos de enfrentar” nos próximos anos é conseguir distribuir as vagas do ensino superior de maneira mais uniforme no país, “independentemente de esses territórios ficarem no interior ou no litoral”.
Artigo editado Miguel Marques Ribeiro