Na Turquia, o eleitorado foi praticamente partido ao meio entre os dois candidatos da segunda volta. Voltou a vencer Erdogan, que assim se prepara para somar mais cinco anos aos nove que leva na presidência turca.
Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia desde 2014, foi reeleito, este domingo, na segunda volta das eleições presidenciais. De acordo com os resultados preliminares, anunciados pelo Supremo Tribunal Eleitoral turco, com 99.43% dos votos contados, Erdogan conquistou 52.14% do eleitorado, tendo Kiliçdaroglu ficado pelos 47.86%.
Cerca de 64 milhões de eleitores foram às urnas e o político no poder há mais de 20 anos, Recep Erdogan, conseguiu mais cinco anos de mandato. Dia 14 de maio, ocorreu a primeira volta das eleições e Erdogan tinha ficado mais perto da tão desejada e necessária maioria absoluta. O Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), que apoia Erdogan, já tinha conquistado a maioria absoluta nas Legislativas, ocorridas no mesmo dia da primeira volta das Presidenciais, com a conquista de 325 dos 600 assentos parlamentares.
A segunda volta só contou com os dois candidatos com mais votos na primeira. Erdogan, que arrecadou 49,51% dos votos, e Kemal Kiliçdaroglu, principal opositor e líder do Partido Repubicano do Povo e de uma coligação de seis partidos, com 44,88%. Ficou para trás Sinan Ogan, que obteve 5,3% dos votos. Na primeira volta, a adesão às urnas foi de 93,6%. O voto é obrigatório na Turquia.
Em Istambul, já se festejava a vitória de Erdogan mesmo antes de serem divulgados os resultados oficiais. Os festejos contaram com o presidente que aproveitou a oportunidade para falar sobre os próximos cinco anos. Na sua terra natal, prometeu cumprir “todas as promessas feitas ao povo”, nesta reeleição que é uma oportunidade de “renascimento”.
Derrotada, a oposição não desistiu e alegou que ocorreram irregularidades na campanha e nos votos. Denunciaram ataques contra observadores eleitorais e votos falsos, com nomes de pessoas que não constavam da lista de eleitores, pessoas mortas registadas e boletins pré-preenchidos. A veracidade destas acusações ainda não foi confirmada.
Contudo, observadores internacionais que acompanharam o ato eleitoral consideraram que houve uma cobertura mediática enviesada e limites à liberdade de expressão que terão favorecido o candidato incumbente.
Terramostos, inflação e imigração dominam discurso de vitória
O presidente que vai para o terceiro mandato rumou a Ancara para o seu discurso de vitória. Entre os vários temas abordados, destacou a necessidade de reconstrução de cidades afetadas pelos terramotos de fevereiro – que causaram a morte de mais de 40 mil pessoas só na Turquia -, a inflação e um acordo com o Qatar para o retorno de refugiados sírios. Não poupou críticas à oposição e não hesitou em apelidá-los de “terroristas”.
Apesar dos resultados mostrarem um eletiroado dividido ao meio, Erdogan assegurou no seu discurso que “a nação inteira de 85 milhões [de turcos] venceu”. Mas a forma como se referiu à oposição não faz adivinhar um mandato de união nacional.
Kiliçdaroglu também discursou em Ancara e aproveitou para criticar o atual presidente e a sua governação autoritária. Reafirmou que as eleições foram as mais injustas dos últimos anos, mas reforçou a sua vontade de continuar na vida política e na luta pela democracia. “Sempre lutei pelos vossos direitos e justiça, para que ninguém vos oprima, para que vocês possam viver em abundância e continuarei a fazê-lo”, afirmou o principal líder da oposição.
Kiliçdaroglu era a esperança de muitos turcos descontentes com o regime de Erdogan, nomeadamente os eleitores mais jovens. Porém, o líder da oposição assumiu uma retórica mais nacionalista e anti-imigração, o que poderá ter afastado algum eleitorado. Ademais, as promessas de reconstrução de cidades devastadas pelos sismos de fevereiro terão começado a soar irrealistas.
Recep Tayyip Erdogan nunca perdeu umas eleições e esta foi a primeira vez em que houve necessidade de recorrer à segunda volta. Depois de ser presidente da câmara de Istambul de 1994 a 1998, tornou-se primeiro-ministro de 2003 a 2014. A 28 de agosto de 2014, foi eleito presidente e governa até aos dias de hoje, por mais cinco anos, num regime nacionalista baseado no Islão político. Em 2024 vão realizar-se as eleições municipais.
Artigo editado por Filipa Silva