A organização da Marcha do Orgulho do Porto tece críticas fortes à Câmara Municipal do Porto pela demora de respostas e pela mudança do local do arraial deste ano. Uma petição, que já reúne mais de 5 mil assinaturas, pede que o evento seja realizado no centro da cidade e não no Parque do Covelo. Autarquia rejeita críticas.

Câmara Municipal do Porto é acusada de tentar “invisibilizar” as celebrações. Foto: Miguel Ângelo Afonso

No dia 8 de julho, sai à rua a Marcha do Orgulho LGBTQIA+ do Porto. O percurso, que se inicia tradicionalmente na Praça da República, costuma terminar no local do Arraial + Orgulhoso do Porto, na baixa da cidade, mas este ano não será assim. A Câmara Municipal do Porto (CMP) disponibilizou para o evento o Parque do Covelo, em Paranhos, mas a organização considera o local “inviável” para o arraial, tanto pela capacidade como pela localização. A autarquia garante, por sua parte, que o parque “reúne todas as condições” para o efeito.

Em declarações ao JPN, Camila Florencio, da comissão organizadora da Marcha do Orgulho do Porto, considerou que esta é “uma decisão política e uma maneira invisibilizar” o evento. A edição passada reuniu “cerca de 20 mil pessoas”, um recorde de afluência que acabou até “por assustar” a organização, comenta.

As reuniões sobre a realização da marcha e do arraial com a Câmara do Porto e a Ágora – empresa municipal da Cultura e do Desporto – começaram em fevereiro. A data das celebrações foi acordada desde o início, garante Camila Florencio, ficando em aberto o espaço e o pedido de apoio financeiro da organização – outro dos pontos que merece críticas da organização.

Sobre o local, os planos iniciais da Marcha tinham o Largo Amor de Perdição como o espaço escolhido para os festejos, no entanto, esta possibilidade foi rejeitada pela autarquia. “Depois de conversas em reuniões, estava tudo encaminhado para que os festejos fossem feitos na Alameda das Fontainhas. Mas depois, tivemos uma resposta muito tardia e insatisfatória”, diz Camila Florencio. 

A comissão alega ser impossível realizar o evento no Parque do Covelo: “É um espaço que não suporta a nossa estrutura. Esperamos receber cerca de 15 a 20 mil pessoas e não há condições para isso. Para além disso, teríamos de fazer um percurso para lá chegar, com pouca acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida e sem grandes acessos por transportes públicos. A festa deveria ser realizada no centro da cidade”, sublinha ao JPN.

A propósito, foi criada uma petição, que reuniu mais de 5.700 assinaturas, para tentar uma mudança de espaço. A petição foi enviada para a autarquia esta quarta-feira (28). Camila Florencio garante que o arraial não se concretizará no Parque do Covelo, mas não consegue afirmar se se conseguirá alguma mudança quando faltam menos de 15 dias para a data.

Contactada pelo JPN, a Câmara Municipal do Porto remeteu para o comunicado enviado à Agência Lusa. Nele, a autarquia diz apoiar o evento através da empresa municipal Ágora, que trata dos eventos culturais e desportivos da cidade. Para além dos materiais necessários e apoio logístico, foi disponibilizado o Parque do Covelo como espaço para o evento, que “reúne todas as condições necessárias para a concretização do evento, quer ao nível da dimensão, quer ao nível da logística”, referem.

Ainda segundo a CMP, a impossibilidade de realizar as celebrações em espaços como o Largo Amor de Perdição e a Alameda das Fontainhas advém da extensa agenda dos eventos da cidade. “Se, ainda assim, a organização entender não ser este o local indicado para a Marcha do Orgulho LGBTI+, o Município do Porto lamenta a posição”, acrescentam.

Quanto ao financiamento, a organização terá solicitado inicialmente um pedido de 10.000 euros de apoio, juntamente com requisição de materiais e apoio estrutural para realização da festa no Largo Amor de Perdição. Depois de três meses, diz a Marcha do Orgulho do Porto em comunicado, o pedido terá sido negado, pelo que a organização reajustou o valor, já com a expectativa de realizar o evento na Alameda das Fontainhas, para os 8.900 euros, mas voltou a não ter luz verde. 

A recusa terá sido justificada por razões de “equidade” face a outros eventos, mas a organização lamenta a decisão, recordando a propósito que a CMP aprovou apoios de 300 mil euros à Comic Con Portugal e de 600 mil ao Primavera Sound Porto.

Após respostas negativas às propostas de financiamento, os 21 coletivos e associações que compõem a organização foram acumulando fundos durante o ano, através da realização de festas e eventos. A Ágora Porto concede o Parque do Covelo para o evento, tal como “um conjunto de material e apoio logístico”. 

 

 
 
 
 
 
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A 18.ª Marcha do Orgulho LGBTQIA+ do Porto realiza-se no dia 8 de julho (no mesmo fim de semana do Festival Porto Pride que decorre no Parque da Pasteleira). O lema deste ano é “Não há cura para a minha existência, só orgulho e resistência!”, de forma a combater “questões de LGBTfobia, transfobia e terapias de conversão” que têm surgido no último ano, referem. Apesar das terapias de conversão estarem num processo de proibição em Portugal, a comissão organizadora acredita que “é preciso ser muito vigilante para que esses poucos direitos não sejam perdidos e novos direitos sejam conquistados”. A organização da Marcha do Orgulho do Porto admite ter notado uma maior agenda de marchas pelo país, durante todo o ano, demonstrando que “o orgulho não cabe num só mês”.

Editado por Filipa Silva

Artigo atualizado às 11h56 do dia 29 de junho com a referência ao número de assinaturas reunido na petição e ao envio à autarquia.