A compra dos títulos deverá implicar a criação de uma sociedade e de uma cooperativa de jornalistas, segundo Diogo Freitas, um dos empresários responsáveis pela compra. Os trabalhadores aguardam para saber as intenções dos novos acionistas.

Os acionistas do Global Media Group (GMG) chegaram esta terça-feira (6) a acordo com o grupo de empresários do Norte, liderado por Diogo Freitas, para a venda de algumas revistas e jornais do grupo e da TSF. O “Jornal de Notícias” (JN) e “O Jogo” estão entre os títulos a ser adquiridos na compra.

Os trabalhadores aguardam para saber as intenções dos novos acionistas. “São preocupações que temos sempre que há entrada de novas estruturas [acionistas]. Não só nesta altura. É uma preocupação comum e contínua”, refere Rita Salcedas, delegada sindical do “JN”, ao JPN. A jornalista do diário portuense contou ainda que a entrevista do empresário Diogo Freitas à RTP deu algum otimismo aos profissionais, já que anunciou publicamente que não ia ser feito qualquer corte nos salários. 

“Embora não nos tenha sido dada esta garantia [do pagamento dos ordenados até dia 7 de fevereiro], foi nos apontado como bastante certo que isto fosse cumprido. Se não recebermos os salários, as redações vão reunir e decidir que ações tomar, porque, de facto, há mais de dois meses, as redações têm vivido situações instáveis e um clima de terror. Caso não aconteça, nós cá estaremos como estivemos até agora para lutar contra ele. Nos últimos meses, já demos provas que unidos somos fortes e conseguimos rumar a bom porto”, acrescentou.

Um artigo publicado esta quarta-feira pelo “Diário de Notícias” dá conta de que os trabalhadores da GMG já começaram a receber os salários referentes ao mês de janeiro.

Também na TSF, os salários em atraso estão no topo da pirâmide de preocupações dos trabalhadores. Em declarações ao JPN, ainda antes de ser assinado o acordo, Maria Augusta Casaca, delegada sindical da rádio, assim o aponta: “Primeiro, os salários”. Segundo a delegada sindical, a TSF não tem planeadas outras formas de luta. “Não decidimos rigorosamente nada. Mas, se os salários não forem pagos, é deitar por terra todas as expectativas dos jornalistas e começar a não acreditar em ninguém. Nem sequer no acionista Marco Galinha, que diz estar do lado dos trabalhadores”, comentou.

Em relação às declarações de Marco Galinha numa entrevista ao “Público“, referindo que o Bloco de Esquerda estava “completamente enraizado na TSF”, Maria Augusta Casaca disse que os trabalhadores da estação de rádio rejeitam totalmente aquilo que foi dito pelo acionista.

“Ficamos muito desagradados. Ontem, saiu um comunicado em conjunto, rejeitando todas as acusações que ele faz à redação da TSF. Não têm qualquer cabimento as acusações relativamente à possibilidade do Bloco de Esquerda estar infiltrado na redação. Nem da primeira greve, que a TSF fez, ter sido orquestrada pelo Bloco de Esquerda. É totalmente mentira. Decidimos por unanimidade avançar com a greve, porque, na altura, o Marco Galinha era o presidente da comissão executiva e tinha negociado aumentos salariais. Todos os jornalistas do grupo rejeitaram o aumento, menos os da TSF, que são os jornalistas mais mal pagos do grupo. A seguir, esses aumentos não foram feitos. Isso, com uma série de outras situações, foi um acumular de questões que nos levaram a fazer greve”, explicou.

Sobre os salários, Rita Salcedas, que falou com o JPN também antes da assinatura do acordo de compra, reforça a importância de não ser esquecida a extensa rede de correspondentes do jornal. “Estou a falar não só dos pagamentos que são devidos aos trabalhadores de quadro, mas também aos prestadores de serviços e aos colaboradores do “JN” e do grupo que continuam sem receber os pagamentos de novembro. Porque eles recebem já, por natureza, um mês de atraso e, nesta altura, continuam sem receber o de novembro”, afirmou. “Desde correspondentes de norte a sul, colaboradores da área gráfica, comercial, são todos imprescindíveis para que todos os dias saia o JN no papel e no site”, explicou.  

O que é uma cooperativa de jornalistas?

Em janeiro, um grupo de empresários do Norte, liderado por Diogo Freitas, dono do grupo OfficeTtotal Food Brands, anunciou a intenção de comprar a maior parte dos títulos do Global Media Group (“JN“, “O Jogo“, “Volta ao Mundo”, “Evasões” e “Notícias Magazine”). A proposta deixava de fora títulos, como o “Diário de Notícias” e o “Açoriano Oriental”.

Em declarações à RTP, Diogo Freitas disse ainda que a compra dos títulos deverá implicar a criação de uma sociedade e de uma cooperativa de jornalistas, que passaria a “ter uma voz ativa”.

“Quando se fala de uma cooperativa de jornalistas significa que todos os processos de decisão são devidamente participados e, naturalmente, a cooperativa segue a vontade dos seus membros em função de um diálogo e de participação”, que existe previamente e continuamente, disse o vice-presidente da Confederação Cooperativa Portuguesa, Joaquim Pequicho, em declarações ao JPN.

Segundo Joaquim Pequicho, “qualquer jornalista numa redação pode entender fazer parte da cooperativa e adere de forma livre e voluntária. Quando a pessoa adere à cooperativa sabe que é gerida com princípios de transparência, participação e onde todos os membros têm um papel e alguns um papel qualificado, porque são os elementos eleitos para os órgãos”.

Assim sendo, o jornalista “vai participar economicamente na cooperativa, não só porque subscreve os títulos de capital social da cooperativa, o que significa que é dono da sua própria cooperativa, mas também participa com o seu trabalho de forma a que a cooperativa possa crescer economicamente”. Como se trata de uma organização com natureza jurídica e legislação própria de pessoas que trabalham de forma coletiva, “deve funcionar de forma autónoma e independente, não tendo qualquer relação política, nem económica, cumprindo a vontade dos seus membros e a sua missão”.

Editado por Inês Pinto Pereira