Nesta quarta-feira (20), FC Porto e Arsenal jogam a primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões, no Estádio do Dragão. A equipa inglesa está numa grande fase e o mesmo não se pode dizer da equipa da casa, mas a única equipa portuguesa em prova tem uma palavra a dizer.

O FC Porto vai enfrentar o Arsenal no Estádio do Dragão a partir das 20h00 (Portugal continental) desta quarta-feira (20), no regresso da Liga dos Campeões ao Porto, para a disputa da primeira mão dos oitavos de final. Os dragões são a única equipa portuguesa que se mantém em prova.

Será o sétimo confronto entre os dragões e os gunners, sendo que a equipa inglesa leva vantagem no histórico dos confrontos, com três vitórias. A equipa portuguesa já venceu por duas vezes os ingleses e há ainda registo de um empate. 

Os dragões, que vão ter as bancadas cheias, não vão poder contar com Mehdi Taremi. O ponta de lança falhou o último treino da equipa por causa de uma lesão no adutor da coxa. Além do iraniano, Iván Marcano, Gonçalo Ribeiro e Zaidu também estão lesionados e, portanto, estão fora da convocatória de Conceição para o jogo. Quanto aos gunners, Takehiro Tomiyasu, Oleksandr Zinchenko e Gabriel Jesus falharam a viagem com a equipa para o Porto por conta de lesões, mas Thomas Partey e Fábio Vieira, ex-Porto, foram convocados para a partida e devem estar presentes entre os suplentes no Estádio do Dragão.

“Estamos perante duas equipas com um pedigree europeu”

Em conferência de imprensa de antevisão do confronto, Sérgio Conceição exaltou a qualidade do adversário inglês: “[A equipa do Arsenal] tem uma qualidade técnica, de talento, que é o tal sexto momento, que num determinado momento do jogo, pode resolver. Nós também temos a nossa qualidade, o nosso talento. Nessa organização e nessa dinâmica, a equipa é uma das que tem mais posse de bola na Liga Inglesa, é uma equipa que, além dessa posse de bola, sabe acelerar o jogo como ninguém, com os alas muito largos e profundos, e criam muitas dificuldades nos tais desequilíbrios de um para um. Médios com uma capacidade de infiltrar também muito grande”, analisou o técnico aos jornalistas.

Contudo, o treinador dos dragões ressaltou a história do FC Porto na competição, que pesa a favor do clube da cidade invicta: “Estamos perante duas equipas com um pedigree europeu, como se costuma dizer. E nós temos a nossa história. Somos o Futebol Clube do Porto e estamos habituados a estar nesta competição”.

O treinador lusitano também disse que não vai fugir de seu estilo de jogo tradicional. Mas para ele também “há algumas nuances que têm de ser trabalhadas em função da qualidade, ou dos pontos fortes e menos fortes do adversário.”

A fase atual dos clubes

Este é um confronto entre duas equipas que estão em fases totalmente diferentes. Enquanto o Arsenal está a passar por um grande momento, tendo marcado 21 golos nas suas últimas cinco partidas, todas vitórias, o FC Porto pode estar a caminho da sua pior temporada sob o comando do técnico Sérgio Conceição. Nos últimos cinco jogos registou três vitórias, um empate (Rio Ave) e uma derrota (Arouca), e hoje está mais próximo do Braga, que disputa vagas da Liga Europa, do que dos líderes da liga portuguesa.

Mas isso não significa que o Arsenal seja o favorito absoluto. Na fase de grupos da Liga dos Campeões, a equipa inglesa empatou com o PSV em Eindhoven e perdeu para o Lens, atual 6.º classificado na Ligue 1, na França. Ainda assim, os gunners qualificaram-se como primeiros em seu grupo, com 13 pontos. Os dragões fizeram uma campanha semelhante na fase de grupos, com 12 pontos. O FC Porto não pontuou contra o Barcelona, sendo a derrota em casa especialmente infeliz por ter feito uma boa partida que não foi traduzida em golos.

Como joga o Arsenal?

O treinador da equipa do norte de Londres adora usar uma palavra específica para descrever o estilo de jogo da sua equipa: controlo. O Arsenal procura jogar sempre com a bola nos pés, com laterais conservadores e um meio-campo que não para de correr. Mesmo com lesões recentes de jogadores que se encontram geralmente no onze inicial, como Jesus, Thomas Partey, Zinchenko e Tomiyasu, além de Jurrïen Timber, que está lesionado desde o primeiro jogo da época, o Arsenal tem um plantel grande o suficiente para substituí-los, com destaque para Jakub Kiwior e Leandro Trossard, que começaram a jogar como titulares recentemente e impressionaram nas duas últimas grandes exibições do clube: as vitórias fora de casa contra o West Ham (6-0) e o Burnley (5-0).

Não é só Arteta que diz que o Arsenal detém o controlo do jogo. Os números também.

Como o gráfico mostra, o Arsenal tem números excecionais em comparação com as outras equipas da Premier League. É, atualmente, a segunda equipa com mais golos na competição (58), além de ter muita posse de bola e posse no terço defensivo adversário. Contudo, o aspeto de maior destaque do Arsenal é, de longe, a sua capacidade defensiva. Por pressionar alto, o Arsenal mantém o jogo muito em cima no campo, mas quando é forçado a defender, raramente aparenta estar em perigo. É a equipa com menos golos sofridos na Premier League, além de ser a equipa com menos golos esperados contra, o que mostra que a sua solidez defensiva não é meramente sorte.

Outro ponto fortíssimo do jogo do Arsenal é sua proficiência em bolas paradas ofensivas. Até ao momento, marcaram 17 golos de bola parada, além de oito penáltis. Segundo a Opta, 20% dos golos esperados do Arsenal têm origem em jogadas de bola parada. Gabriel Magalhães e William Saliba são sempre uma grande ameaça quando sobem à grande área. A dupla de centrais tem seis golos na atual temporada, e são assim responsáveis por mais de 10% dos golos da equipa. Kai Havertz e Jesus também são grandes ameaças aéreas nas bolas paradas, e Ødegaard é capaz de cobrar livres diretos com grande perigo.

Contudo, essa força na bola parada revela um ponto fraco do Arsenal: marcar golos com a bola a rolar. Neste plano, a equipa tem apenas 32 golos. Ou seja, a bola parada não é apenas uma primazia da equipa londrina, mas uma dependência, visto que apenas 55% de seus golos são com a bola corrida.

Isso reflete-se também nos seus golos esperados. A equipa londrina tem uma média muito superior aos restantes clubes da liga inglesa, mas os seus números são inflacionados por conta das bolas paradas. Retirando penáltis e bolas paradas, o Arsenal tem a sexta maior média de golos esperados na liga, o que contrasta com ser a segunda equipa quando esses são contabilizados.

Portanto, para parar o Arsenal, o FC Porto precisa de um cuidado especial nas bolas paradas. Peças que se impõem no jogo aéreo não lhe faltam, como Pepe e Otávio, mas é preciso um nível altíssimo de organização na grande área.

O FC Porto joga de forma diferente na Liga dos Campeões?

Algo que é sempre emblemático das equipas portuguesas na Liga dos Campeões é jogar de forma diferente da que jogam na Liga Portugal. O nível na disputa europeia, afinal, é muito maior do que na liga portuguesa. O FC Porto não é exceção, e nesta Liga dos Campeões, em específico, tem jogado de forma menos cautelosa, até mesmo em comparação com a competição nacional.

Os dragões marcaram em média 2,5 golos por jogo nesta época na Liga dos Campeões, média muito superior à da Liga Portugal (1,68). Contudo, os portistas estão a ter um desempenho de conversão muito acima do esperado na Liga dos Campeões, enquanto na Primeira Liga o desempenho está dentro do previsto quando se excetuam os penáltis.

Os números também mostram que há um elemento mais “caótico” nos jogos dos dragões na Liga dos Campeões, em contraste com um estilo de jogo mais focado em controlar a posse na competição nacional. O FC Porto tem muito mais desarmes no seu ataque e recuperações de bola, mas tem muito menos posse e toques no terço do ataque. Ao considerar também os números defensivos reais e esperados, que são muito melhores na Primeira Liga, é seguro afirmar que a equipa do norte joga de forma diferente. O seu estilo de jogo é muito mais direto, muito mais intenso ao pressionar e muito menos seguro ao defender, e essa é uma combinação que o Arsenal geralmente pune.

Avançados do Arsenal são uma ameaça com e sem a bola

Os avançados da equipa londrina podem até não ser os mais eficazes naquilo que se configura como eficiência na bola corrida, mas grande parte disso é ineficiência na finalização. O ataque do Arsenal ainda é extremamente perigoso, só lhe falta refinar a finalização.

Como mostra o gráfico, o Arsenal tem dois grupos claros de jogadores: aqueles que criam e aqueles que finalizam. Bukayo Saka é o destaque evidente, sendo o jogador com mais assistências esperadas de todo o campeonato, mas Ødegaard também se destaca bastante, sendo o quarto na liga com mais assistências esperadas e o jogador dos gunners que mais cria remates. No âmbito da movimentação ofensiva, Trossard, que deve ser titular nesta quarta-feira, é o terceiro com mais golos esperados na liga.

Algo que também é importante destacar é que cinco dos seis jogadores representados na visualização devem ser titulares contra os dragões. Havertz tem jogado mais em jogos “caóticos” do que Jorginho na posição do camisa 8, e Ødegaard é um clássico médio ofensivo. Em conjunto com Trossard, Saka e Gabriel Martinelli, o Arsenal será sempre um perigo, seja na fase defensiva, visto o potencial que Ødegaard e Rice têm de fazer lançamentos diretos para os avançados; seja na fase ofensiva, na qual o Arsenal costuma empurrar as equipas até se fecharem na sua grande área, aumentando a probabilidade de conseguirem bolas paradas ou infiltrarem-se nos meios-espaços do último terço; seja sem a bola, dado o potencial e a organização da pressão dos gunners.

Mas esse controlo constante e a pressão que o Arsenal faz em cima pode também ser uma fraqueza explorada pelos dragões.

Dragões costumam punir linhas altas

Se há um aspeto do jogo que os azuis e brancos precisam de melhorar, é a sua capacidade de jogar bem contra blocos baixos. Esse é um problema recorrente do Porto de Sérgio Conceição e, principalmente depois das vendas de Otávio e Luis Díaz, tem-se tornado uma falha fundamental do funcionamento do seu sistema. Contudo, o que pode ser uma boa notícia, é que o Arsenal não vai jogar num bloco baixo. O seu estilo defensivo é outro, o de ter a bola, e o FC Porto costuma castigar equipas que jogam assim.

Um dos melhores jogos dos dragões esta temporada foi o primeiro contra o Shakhtar Donetsk. Neste jogo, o ataque do FC Porto, com especial menção a Galeno, explorou de forma avassaladora a linha defensiva da equipa ucraniana. Os centrais do Shakhtar tiveram exatamente 50% dos seus toques no terço central do campo, indicando que tentaram jogar com a bola nos pés. Os dois primeiros golos dos dragões vieram através de pressão alta na saída de bola do Shakhtar, que por ter um posicionamento defensivo muito acima no campo, não conseguiu defender-se. Já o terceiro golo, resultou de uma transição rápida que puniu a linha alta ucraniana.

Embora o Arsenal seja uma equipa indubitavelmente melhor do que o Shakhtar Donetsk, especialmente no âmbito defensivo, a sua intenção de jogar com uma linha alta é semelhante. Segundo dados do Markstat, o Arsenal tem a linha defensiva mais alta da Premier League, além de ter a segunda com mais posse no terço ofensivo quando comparada ao adversário. Isso significa que a equipa londrina procura sempre ter a bola no campo defensivo de seu adversário, sufocando-o e forçando-o a fazer intervenções que muitas vezes não são as melhores, mas isso pode ser contrariado por um estilo de jogo mais direto e, sobretudo, por jogadores mais capazes no contra-ataque. Galeno, Evanilson, Pepê e Francisco Conceição, o quarteto ofensivo recorrente do FC Porto nos últimos jogos, são todos rápidos e têm qualidade no passe. Os dragões têm a qualidade suficiente para punir o Arsenal no contra-ataque.

Além disso, os dragões podem muito bem manter o seu estilo de pressão alta, desde que tenham disciplina na organização defensiva, caso as primeiras linhas de pressão sejam batidas. O Arsenal é uma equipa que trabalha muito com a bola no seu campo defensivo e que, com a exceção de Ødegaard, tem carência de médios que consigam fazer progredir a bola por meio do passe de forma consistente. Portanto, mesmo sendo uma tarefa difícil e passível de ser combatida, pressionar os londrinos é uma das melhores alternativas que o FC Porto tem para transformar a sua vantagem em casa numa vitória.

O jogo entre FC Porto e Arsenal será transmitido na TVI e na Eleven Sports, além da aplicação da DAZN.

Editado por Filipa Silva