As Associações de Estudantes da Universidade do Porto estão a realizar debates e atividades a propósito das eleições legislativas de 10 de março. Em entrevista ao JPN, alguns líderes associativos falaram sobre a importância das iniciativas para os estudantes do Ensino Superior.

As Associações de Estudantes da Universidade do Porto têm organizado várias iniciativas, maioritariamente debates com os respetivos representantes dos partidos políticos e campanhas de incentivo ao voto, no âmbito das eleições legislativas de 10 de março. O objetivo é informar e envolver os estudantes no processo democrático. O JPN esteve presente em algumas das atividades desenvolvidas, nomeadamente na II Cimeira do Ensino , organizado pela Associação de Estudantes da Faculdade de Economia (AEFEP), no debate “Saúde em Mudança“, da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina (AEFMUP) e no debate eleitoral, organizado pela Associação de Estudantes da Faculdade de Letras (AEFLUP).

Ensino Superior no centro dos debates

Organizado pela AEFLUP, o debate eleitoral, que se realizou no Auditório Nobre da Universidade do Porto, despertou o interesse de uma centena de alunos. As temáticas abordadas durante o debate foram igualdade de género, cultura, saúde mental, entre outros.

Antes do debate, o JPN falou com estudantes da Faculdade de Letras (FLUP) para perceber a relevância do debate para a comunidade académica, bem como a sua ligação a questões políticas. David Amorim destacou a importância do evento para abordar questões frequentemente ignoradas nos debates televisivos. Já Inês Rodrigues expressou o seu descontentamento por não estarem presentes representantes de todos os partidos no debate: “[Para ser] um debate completo devíamos ter pessoas de todos os partidos”. A estudante disse ainda que as propostas dos partidos “são para ficar bem, porque, quando chega a hora de as pôr em prática, muito pouco se faz”.

Pedro Pacheco disse que “as propostas são limitadas e direcionadas para acéfalos“, destacando a “desacreditação no Ensino Superior”. Também Eduardo Morino e Pedro Silva, estudantes da FLUP, se demonstraram descontentes com a falta de atenção a propostas concretas, apontando para um possível aumento dos níveis de abstenção jovem, como consequência. Nenhum dos cinco alunos ouvidos pelo JPN mostrou intenção de assistir ao debate.

Em declarações ao JPN, a presidente da AEFLUP, Margarida Moreira, referiu que a iniciativa tenciona dar voz a “temáticas sobre os jovens”, já que não têm sido muito abordadas pelos candidatos.

A II Cimeira do Ensino, realizada a 15 de fevereiro, no Salão Nobre da Faculdade de Economia do Porto (FEP), teve como principal objetivo discutir os desafios e o estado da educação em Portugal. O evento reuniu, aproximadamente, 400 pessoas. Durante o evento, os seis partidos políticos presentes (Partido Socialista, Aliança Democrática, Bloco de Esquerda, Iniciativa Liberal, LIVRE e CDU), discutiram temáticas como a crise habitacional, as propinas e a importância do investimento no ensino pré-escolar.

Para o presidente da AEFEP, Pedro Teles, “a educação é a chave para o desenvolvimento” e, por isso, as dificuldades dos alunos ao nível socioecónomico, carreira, habitação e propinas devem ser abordadas em eventos, nos quais os estudantes universitários estejam presentes.

Pedro Teles considera que, atualmente, os jovens têm pouco interesse político. “Em primeiro lugar, [os jovens] não têm conhecimento histórico; em segundo, falta de interesse; e, em terceiro, porque os tradicionais partidos não têm direcionado as suas políticas para os jovens“, explicou. “Como AE, temos o dever de incentivar o sentido crítico perante os nossos estudantes”, concluiu.

(Da esquerda para a direita) Carlos Guimarães Pinto, João Ferreira, Rita Alarcão Júdice e Miguel Costa Matos marcaram presença na Cimeira do Ensino. Foto: Nádia Neto/JPN

A Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências (AEFCUP) convidou representantes dos partidos com assento parlamentar para um debate, onde temas como o Ensino Superior, alojamento, propinas vão ser o principal foco. O evento realiza-se a 6 de março e, até aqui, estão confirmadas apenas a presença do candidato Rui Teixeira do PS e Rodrigo Reis do PAN.

Em declarações ao JPN, João Diogo Couto, coordenador do Departamento de Apoio ao Estudante da AEFCUP, garante que se vai “falar sobre tópicos que interessam aos estudantes”, acrescentando que “não vão abrir inscrições. O debate é aberto a todos”. Para o estudante universitário, os jovens têm estado atentos a questões políticas porque ” o que tem sido feito pelas faculdades e Federação Académica do Porto (FAP) tem chamado a atenção dos estudantes”.

Questionado sobre a razão que motivou a realização da iniciativa, João Diogo Couto refere o facto de “alguns estudantes” não acompanharem , “por questões de tempo”, os debates ou os cadernos eleitorais. O evento é uma “forma mais simples dos jovens se informarem politicamente”.

O coordenador do Departamento de Apoio ao Estudante da AEFCUP informou ainda que vão elaborar um documento com um resumo das medidas dos partidos, que vai ser, “posteriormente, disponibilizado à comunidade estudantil”.

Investimento no SNS e valorização dos profissionais esteve em debate na FMUP

Com o mote “Saúde em Mudança”, o debate, organizado pela Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina do Porto (AEFMUP), a 22 de fevereiro, focou-se no estado da saúde em Portugal. O debate, que contou com a participação de representantes dos partidos com assento parlamentar, atraiu uma audiência de 500 pessoas, incluindo o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortez. Durante o evento, foram discutidos temas como o investimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS), a valorização dos profissionais e a cooperação público-privada.

Emília Pinho, presidente da AEFMUP, afirmou ao JPN que decidiram fazer um debate que juntasse “os possíveis futuros ministros da saúde eleitos no dia 10 de março”, de modo a “sensibilizar as pessoas para dia 10”. O debate assume uma individualidade acrescida, visto que “não há mais nenhum debate dedicado exclusivamente à saúde“.

Debate “Saúde em Mudança” Foto: Margarida Rodrigues/JPN

Iniciativas para fomentar a literacia política

Já a Associação de Estudantes do Instituto de Ciências Biomédias Abel Salazar (AEICBAS), na qual também existem cursos direcionados para a área da saúde, teve outra abordagem. “Considerámos que devíamos fazer algo novo”, explicou José Pinto da Silva, dirigente do Departamento de Formação da AE.

“Ready Set Grow” foi a atividade organizada pela AEICBAS que teve como propósito promover a literacia política. A atividade, que se realizou a 28 de fevereiro, pretendia explicar “como funciona o método eleitoral, os vários programas partidários, referindo também a importância das eleições europeias e o funcionamento do Parlamento Europeu. Para o estudante, os “políticos não fazem um bom trabalho no que toca a transmitir e direcionar as suas propostas para a geração jovem”.

“Os meios de comunicação social estão repletos de debates e o feedback que se vai obtendo, ao longo do tempo, é que não são suficientemente elucidativos para o público“, acrescentou. A escassez de propostas para o Ensino Superior leva, de acordo com José Silva, a que “esta geração não acredite que a política em Portugal os inclua e, nesse seguimento”, os jovens “acabam por perder a esperança e a motivação de se envolver e também lutar para fazer a diferença“.

De acordo com informação disponibilizada nas redes sociais, a Associação de Estudantes da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (AEFFUP) disponibilizou informações sobre o voto antecipado e o calendário dos debates televisivos.

No dia 27 de fevereiro, a Associação de Estudantes da Faculdade de Direito da U. Porto (AEFDUP), realizou um debate político no Salão Nobre, que contou com a presença de representantes dos partidos com assento parlamentar.

O JPN contactou todas as Associações de Estudantes da Universidade do Porto, mas não obteve resposta de algumas delas.

Editado por Inês Pinto Pereira