O Sindicato dos Jornalistas (SJ) repudiou o despedimento coletivo na Global Media, dizendo que "representa mais uma forte machadada" no "Diário de Notícias". Este despedimento "vai afetar 20 pessoas, dez das quais jornalistas". Já os trabalhadores do "DN" exigem "uma solução que permita manter os bons profissionais" na redação.

Greve geral dos jornalistas marcada para esta quinta-feira. Foto: Nádia Neto/JPN

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) reagiu esta terça-feira (12) ao despedimento coletivo que se verificou no “Diário de Notícias” (DN), incluindo da atual direção. Em comunicado, o SJ afirmou que este despedimento espelha “mais uma forte machadada no ‘Diário de Notícias’ e, em consequência, na pluralidade jornalística, na diversidade de informação e na liberdade de Imprensa” e é a prova da “degradação da profissão, da urgência e pertinência da greve geral da classe marcada para quinta-feira, 14 de março”. 

De acordo com o sindicato, o despedimento “vai afetar 20 pessoas, dez das quais jornalistas”. O SJ lembrou que se trata do “quarto despedimento coletivo no GMG desde 2019 e, em termos percentuais, o mais gravoso para a classe, uma vez que 50%, metade, dos nomes da lista de despedidos são jornalistas”. No mesmo comunicado, faz ainda referência aos despedimentos anteriores: “foram descartadas 119 pessoas (50 jornalistas, 42%), em 2009, 140 (66 jornalistas, 47%), em 2014, e 81 (17 jornalistas, 21%), em 2020”. 

Desta forma, “não pode deixar de condenar e repudiar este corte, particularmente na redação do ‘DN’, que todos reconhecem como curta para as exigências de qualidade e de compromisso com a atualidade que tem pela frente, tanto para fazer um jornal diário em papel como para atualizar um ‘site’ com mais de 2,5 milhões de visitas”. O SJ lançou ainda críticas sobre a forma como os jornalistas têm sido tratados: “Não podemos deixar de condenar a forma como são destratados estes jornalistas, que mudaram de vida para embarcar num novo projeto e agora são descartados, usados como joguetes em projetos inconsequentes, que mudam ao sabor das alterações nas administrações, ainda que o “chairman” seja o mesmo, Marco Galinha”.

“O despedimento afeta 20 pessoas contratadas pela administração anterior, exonerada a 19 de fevereiro, tem como argumento os salários alegadamente elevados destas pessoas, num cenário de crise do grupo”, pode ler-se na nota. Em resposta a este argumento, o SJ referiu que “a solução não é despedir quem ganha mais, é aumentar os salários, muitos de miséria, que se pagam no grupo e sem qualquer atualização, em muitos casos, há 15 ou 20 anos”. “Nivelar por cima, não atirar para baixo”, concluiu.

Sobre as dificuldades económicas que a administração do GMG alegou para justificar o despedimento, o SJ adianta que “não só estranha o momento como questiona este despedimento numa altura em que estão para entrar no grupo vários milhões de euros, por via do negócio de venda de outros títulos, como o ‘Jornal de Notícias’, ‘O Jogo’, a TSF”.

A estrutura sindical lamenta ainda que “as administrações não saibam mais do que despedir” e “manifesta solidariedade com as pessoas despedidas, nomeadamente os jornalistas, para os quais tem serviços jurídicos em alerta e à disposição”. Este despedimento coletivo do “Diários de Notícias” aconteceu dois dias antes da greve geral dos jornalistas, marcada para esta quinta-feira (14), motivada, entre outras razões, pela crise no Global Media Group e pelas condições precárias de trabalho da classe jornalística.

“Despedir jornalistas é abdicar de património”

Num comunicado, divulgado esta terça-feira à noite, a redação do “DN” também repudiou “veementemente” o despedimento coletivo. “Em nome da sobrevivência do “DN” e do bom jornalismo”, a redação espera que “a administração reconsidere e que seja possível criar uma solução que permita manter os bons profissionais”. Caso não aconteça, garantiu “avançar para novas formas de luta”.

De acordo com a nota, os trabalhadores do jornal consideram que o despedimento é “incompreensível”, lamentando que, “mais uma vez”, este despedimento afete “o coração do jornal e dos jornalismo”. Os profissionais dizem também não compreender os critérios apresentados para justificar esta decisão: “salário demasiado alto” e “equidade salarial na empresa”.

Os jornalistas deixaram ainda claro que consideram um “absurdo” que a administração da empresa alegue que os despedimentos resultam da ausência de resultados do “investimento efectuado no reforço da redação em Novembro [passado]”. “Naturalmente, não se pode esperar que, em pouco mais de três meses, durante os quais houve salários em atraso [permanecendo o subsídio de natal em falta], fosse possível assistir a uma recuperação miraculosa”, pode ainda ler-se.

“O reforço com profissionais experientes efectuado a partir de Novembro era absolutamente vital para assegurar a qualidade que se espera e se exige do ‘DN’”, sublinham, objetivando que “a mesma exigência de responsabilidade e defesa do ‘DN’ também se espera de quem o gere e de quem nele investiu”.

Para mais, afirmam ser contra “mais um emagrecimento do ‘DN’”, que “há anos ostenta o título de mais pequena redação do país, dentro dos diários de referência”.

“Despedir jornalistas é abdicar de património, o único do qual a administração se pode e deve orgulhar. Sobreviver a despedimento colectivo atrás de despedimento [não é construir], é destruir o bom jornalismo e a resiliência dos que têm abdicado de viver para fazer um jornal à altura da história e prestígio do ‘DN’”, concluíram. 

Editado por Inês Pinto Pereira