O Grupo Global Media avançou com um despedimento coletivo no "Diário de Notícias", incluindo a atual direção. O JPN falou com a delegada sindical do DN para perceber o ponto de situação na redação do jornal.

Diário de Notícias

Diário de Notícias Foto: Patrícia Santos

Esta terça-feira de manhã (12), o Grupo Global Media comunicou à direção do jornal “Diário de Notícias” (DN) a sua demissão. A direção, bem como seis jornalistas, o correspondente a cerca de um terço da redação – todos contratados pela anterior administração, liderada por José Paulo Fafe – foram despedidos esta terça-feira. No total, vão sair 20 pessoas.

O despedimento coletivo incluiu três membros da direção – José Júdice, Ana Cáceres Monteiro e Filipe Garcia -, o diretor-geral, o coordenador gráfico, jornalistas, assessoras, assistentes, uma secretária, uma técnica e um motorista. Segundo um comunicado do DN, a decisão decorre “do processo de reestruturação” da empresa.

Esta é a segunda direção do jornal chumbada no Global Media Group em menos de um mês, após o Conselho de Redação, por unanimidade, “não dar aval” à liderança de José Júdice.

Citada pelo jornal ECO, Ana Cáceres Monteiro afirmou: “isto não é um despedimento coletivo, é um saneamento, é a ‘limpeza’ das pessoas que estavam afetas à anterior administração”.  A subdiretora do “Diário de Notícias” diz ter sido despedida por telefone por Vítor Coutinho, atual presidente da Comissão Executiva do grupo. “Isto é uma guerra de acionistas e nós todos fomos apanhados neste fogo cruzado”, acrescentou Ana Monteiro. O ECO avançou ainda que parte dos funcionários foram despedidos por e-mail. 

Em comunicado, a empresa justifica o despedimento de 17 quadros do grupo, entre a área administrativa, marketing e redação, num total de 20 pessoas, pela “complicadíssima situação financeira que resultou da gestão dos últimos meses, cujo impacto foi público”. O Grupo acrescenta ainda que “a situação atual era insustentável, tanto do ponto de vista financeiro, como do ponto de vista da equidade com os profissionais que há muito tempo mantêm viva a chama editorial do Diário de Notícias.”

Bruno Contreiras, atual diretor do Dinheiro Vivo, vai assumir a direção do DN nos próximos três meses, deixando o grupo em julho para “se dedicar a projetos pessoais”, refere a empresa no comunicado citado pela comunicação social. A Global Media Group promete que tudo fará “para minorar as consequências” do processo, que admite ter “grande impacto nas operações do Diário de Notícias”.

Em declarações ao JPN, Valentina Marcelino, delegada sindical, adiantou que a redação vai reunir, “avaliar e consultar os advogados do sindicato [dos Jornalistas] para perceber até que ponto é que se pode contestar este processo”. A jornalista lamenta a situação e afirma que o Sindicato dos Jornalistas irá continuar a dar todo o apoio aos trabalhadores e a “fazer de tudo para que o DN continue a sair para as bancas com a qualidade que se exige a um jornal com 160 anos”.

O Global Media Group – que detém títulos como o “JN”, o “DN”, “O Jogo” e a rádio TSF – tem vivido tempos agitados desde que, no último verão, houve mexidas no conselho de administração, que passou a ser liderado por um fundo de investimento com sede nas Bahamas. Em setembro, José Paulo Fafe assumiu o cargo de CEO do grupo e houve mexidas nas direções quer do DN, quer da TSF. Em novembro, foi noticiada a intenção da nova administração de proceder com um despedimento coletivo de uma centena e meia de trabalhadores. O facto motivou duas greves, uma dos trabalhadores do “JN” e outra, em janeiro, de todo o grupo. O assunto chegou ao Parlamento e José Paulo Fafe acabaria por se demitir em finais de janeiro. Entretanto, um grupo de empresários do Norte do país chegou a acordo para adquirir o “JN”, “O Jogo” e a TSF, tendo o “DN” e o “Dinheiro Vivo” ficado de fora do negócio.

O despedimento coletivo do “Diário de Notícias” acontece dois dias antes da greve geral de jornalistas, marcada para esta quinta-feira (14), motivada, entre outras razões, pela crise no Global Media Group e pelas condições precárias de trabalho da classe jornalística

Editado por Filipa Silva