O poder mediático, está, de alguma forma subjugado a outros poderes, como o económico. Esta nova forma de controlo pode ser considerada, de algum modo, uma nova forma de ditadura?

Uma forma de ditadura não sei. Eu penso que, apesar de tudo, continua a haver, para quem conheceu a ditadura como eu conheci, uma diferença muito grande entre haver liberdade de expressão e de imprensa e não haver. Apesar de tudo há formas sofisticadas, subtis de controlar a informação, e nós assistimos a elas hoje, mas que nos deixam mais campo de manobra e actuação do que as formas policiais, agressivas, coercivas e ditatoriais. Nesse sentido, apesar de tudo, não exageremos ao ponto de dizer que estamos numa nova ditadura porque é um pouco diferente. Agora, é um tipo de manipulação que existe, um tipo de poder que se exerce sobre os media que é mais difícil de conhecer e controlar porque é mais subtil.

Mudaram as formas de controlo…

Antigamente a ditadura dava-nos informação de menos. Há quem defenda, e eu julgo que com uma certa razão, que há formas de censura que são dar informação de mais, o que é quase tão mau como dar informação de menos porque dá-nos uma tal confusão de coisas, um tal amontoado que ficamos na mesma sem saber exactamente o que se passa e isso é uma maneira muito sofisticada de manipular a informação.

Tem medo do peso do poder económico nos média?

Não nos podemos esquecer de uma coisa: os média, hoje em dia, e sobretudo nas sociedades modernas, são um serviço público, um serviço de informação, mas são também um produto de mercado. Os jornais, as rádios, as televisões podem ser fantásticos, fabulosos, mas se ninguém os comprar, se ninguém os ler, se ninguém os vir, se ninguém os ouvir, desaparecem. Porque é que os jornais hoje em dia investem muito mais na sua imagem, no seu carácter apelativo, atractivo? Porque a civilização da imagem que temos hoje em dia é muito sensível aos aspectos estéticos e visuais. Nesse sentido, o poder económico condiciona a forma como eles são feitos, mas deixa-me, apesar de tudo, a mim enquanto jornalista uma margem de liberdade, de discussão para tentar encontrar as coisas que me parecem adequadas para os leitores.

Daniel Brandão