25 de Abril de 1974. Ecoavam as primeiras vozes da liberdade ao som de “Grândola Vila Morena” depois de décadas de ditadura do Estado Novo e da censura do lápis azul. A “Revolução dos Cravos”, como também ficou conhecida, trouxe mudanças a nível social. O comércio tradicional foi significativamente afectado, tanto de forma positiva, como negativa.

Por um lado, em termos de clientela, “a mulher desinibiu-se e já pede produtos que antigamente ficava acanhada”, disse ao JPN Eugénio Teixeira, gerente da “Casa Chineza”, acerca das mulheres comprarem produtos de cariz sexual.

O gerente referiu que já se vendiam esse tipo de produtos antes do 25 de Abril, mas eram maioritariamente adquiridos por homens. As mulheres também procuravam esses “produtos proibidos”, mas às escondidas.

Com a revolução, as lojas tradicionais começaram a ver decair as suas vendas. Imposeram-se as grandes superfícies comerciais, com preços muito convidativos e uma vasta gama de produtos.

Outro exemplo de sucesso na Baixa do Porto, é a “Casa Rocha”, uma retrosaria que existe já há mais de 70 anos. Voltada mais para o público feminino, esta loja de comércio tradicional teve de renovar a imagem do estabelecimento, para fidelizar e cativar as clientes.

“Há 30 anos trabalhava-se com 50 referências, hoje trabalha-se com 500 pelo menos, porque a procura agora é muito maior e com a diversidade de postos de venda tivemos que nos actualizar” para não perder clientes, contou ao JPN o responsável da retrosaria, Luís Rocha.

O responsável da “Casa Rocha” apontou também que o acréscimo de liberdade, não acompanhada com um aumento da segurança nas ruas, principalmente à noite, afecta negativamente o comércio tradicional. “Antigamente andava sempre muita gente aqui na Rua de Santa Catarina à noite e via as montras, mas agora as pessoas têm medo de andar na rua porque há muitos marginais”.