O projecto começou a ganhar forma no início do mês de Abril. Pertinente por se tratar de um mês alusivo à liberdade, foi neste período que algumas pessoas se juntaram para tentar “libertar” do abandono as instalações da antiga escola primária da Fontinha. O objectivo é, agora, transformar o local em Espaço Colectivo Autogestionado (Es.Col.A), em que a comunidade da zona é convidada a ajudar na requalificação, decidir as actividades a ser criadas e a participar nas mesmas.
O edifício, desactivado da sua função desde 2006, mas ainda propriedade da autarquia do Porto, está a ser ocupado de forma legal pelos impulsionadores da requalificação, que apresentam, no blogue do projecto, três artigos da Constituição da República Portuguesa (CRP) que para isso atestam. O “direito de acção popular” para “assegurar a defesa dos bens (…) das autarquias locais” é um dos principais argumentos de que se socorrem os empreendedores para justificar a acção.
Conscientes da necessidade de cumprimento da lei, os “ocupantes” também referem que a experiência de gestão conjunta do espaço, será de um período de, pelo menos, 90 dias, tempo “legal” para, depois de notificação, “desocupar imóvel do Estado ou de instituto público” (informação presente no Decreto-Lei n.º 280/2007 de 7 de Agosto, Artigo 76.º). No entanto, a maior parte da informação referente ao Es.Col.A só é possível de obter através do blogue do projecto, na medida em que as pessoas que tomaram a iniciativa do mesmo não pretendem “dar a cara”. Pelo menos para já. O JPN tentou insistir em elaborar uma reportagem onde o anonimato das pessoas seria garantido, mas não teve sucesso.
A relação com a comunicação social foi, aliás, um dos temas discutidos numa das assembleias organizadas entre os impulsionadores e pessoas pertencentes à comunidade, sem as quais não são tomadas quaisquer decisões. Nestas assembleias decidem-se, entre outras coisas, as actividades a implementar na ex-escola.
Até ao momento, ateliês de desenho e leitura, yoga, cinema documentário e a cicloficina são algumas das actividades já definidas. Muitas destas ocupações podem ser experimentadas ao longo de quase toda a semana, das 16h00 às 22h00, hora acordada para fechar o espaço. A falta de materiais para levar a cabo algumas das actividades também leva as pessoas inseridas no Es.Col.A a partilharem bens.
Quem a viu e quem a vê
O senso de uma gestão conjunta é aquilo que mais transparece do trabalho que tem vindo a ser feito nas instalações da antiga escola primária do Alto da Fontinha. Requalificar o edifício, principal objectivo, que permitiria aproveitar o espaço para algo útil em vez de o deixar ao abandono e susceptível a vandalismos, não é tarefa fácil. Para tornar o local aprazível, foram necessárias limpezas, pinturas e são precisas obras, que só com a boa vontade e ajuda de quem colabora se tornam possíveis.
Contudo, desde aquilo que o espaço era antes até aquilo que é agora vai uma grande diferença. A escuridão das salas deu lugar à claridade e, assim, é mais fácil chamar pessoas à ex-escola, agora transformada em Es.Col.A.