O serão desta sexta-feira, dia 19 de dezembro, será de recordação de Paulo Cunha e Silva, recém-falecido vereador da cultura da câmara do Porto. Desta vez, a homenagem será feita através de uma sessão de poesia, gratuita e com início previsto pelas 21h30, a decorrer na clareira das Galerias Lumière. O evento tem organização de Dina Ferreira da Silva, dona da Livraria Poetria, aí localizada.
Residente no Porto “desde quase sempre”, Dina é dona da Poetria há 12 anos. Decidiu prestar homenagem ao Paulo Cunha e Silva “pela pessoa que foi e por tudo aquilo que ele em muito pouco tempo criou”, revelou ao JPN. Para ela, o vereador era uma pessoa que “merecia esta homenagem”, pois “em muito pouco tempo, alterou e trouxe benefícios extraordinários em termos de cultura e artes”. Além disso, a gerente via-o como uma “pessoa de consensos”, numa atividade onde nem sempre é fácil, a política.
Dina teve leves críticas à sua iniciativa. “Houve alguém que me perguntou: ele era poeta?”, contou. De facto não, mas a responsável explicou que a poesia como homenagem teve na verdade um simbolismo metafórico. “Não era poeta, mas tudo o que ele fez, eu ligo inevitavelmente a atos poéticos”, justificou. Para esta portuense, tudo teve a ver com o “que ele fez pela cultura, pela dinâmica que instalou, pelas redes de influência e comunicação que criou entre as pessoas, pela forma como se relacionou com toda a gente e pela atenção que teve relativamente aos jovens”. Dina admitiu ter ligado todos estes traços pessoais à corrente literária “por achar que tem imensamente algo de poético”, deixando assim claro que a ideia da homenagem pela poesia acabou por lhe surgir de forma natural.
Mencionou ainda saber que Paulo Cunha e Silva tinha um certo gosto pela poesia, e que era uma pessoa muito ligada à literatura. “Há certos marcos que ele deixou no Porto, como a própria Feira do Livro, que tem muita influência dele neste formato que tem tido, muito portuense”, disse a dirigente, entre outros exemplos.
Para Dina, “não se trata de fazer algo de muito rebuscado”, preferindo antes “uma coisa simples, mas sentida”. Espera uma boa adesão, até porque, segundo a própria, tem recebido um feedback bastante positivo nas redes sociais quanto à iniciativa. Para ajudar à divulgação do evento foi ainda criado um cartaz pelas mãos do designer José Mendes e do criativo Marco Dias.
“Tal como se viu quando foi no funeral dele, onde apareceram centenas e centenas de pessoas, acho que é merecido e não me sentia bem se não lhe fizesse esta pequena homenagem”, notou. Para a gerente da livraria Poetria, “não há dúvida que havia muita poesia naquilo que ele era e naquilo que ele fazia”.
O evento
O evento vai decorrer na parte central das Galerias. Tem início marcado para as 21h30 e vai ter uma performance musical de José Valente. Depois desta atuação, vão ser lidos três blocos de poemas. Um bloco é “sobre o Porto”, cuja autoria é do poeta Jorge Sousa Braga. A seguir, há uma sessão com “poemas de autores jovens, pouco conhecidos”, precisamente “a pensar na atenção que Paulo Cunha e Silva dava aos jovens”. Por fim, também há tempo para serem lidos “dois poetas que ele gostava bastante: Mário Césariny e João Luís Barreto Guimarães”.
Os recitadores experientes escolhidos para declamarem estes três blocos foram Rui Osório, Carlos Gaio, Alexandra Dias e também as poetas Celeste Pereira e Ana Margarida Borges. Esta última vai, inclusive, recitar um poema escrito de propósito para a ocasião por ela própria, como homenagem ao antigo vereador. Justificando a escolha destes declamadores, Dina Ferreira explicou já trabalhou com eles por várias vezes nas sessões de poesia que a livraria tem organizado. “São pessoas que já conheço há muitos anos e que sei que dizem muito bem poesia”, afirmou a responsável.
Além disso, também se encontrou aberta à possibilidade de alguns voluntários quererem ler os seus textos. “Se houver espontaneamente alguém que o queira fazer é evidente que não será impedido” revelou a organizadora. No final das sessões, há ainda um Porto de Honra. “É um brinde que vamos fazer no fim ao Paulo”, notou Dina Silva.
Este evento não tem qualquer apoio da câmara do Porto, apesar desta ter recebido o convite. “Claro que foram convidados, é evidente. Sentia-me na obrigação e no dever de convidar as pessoas que faziam parte da esfera profissional dele”, reparou a gerente. Rui Moreira chegou a responder a este apelo por email, diretamente. Apesar de não poder aparecer por estar fora do país, o autarca admitiu que gostaria de ter tido esta oportunidade.