Foi a Frederico Draw que a Lello entregou a tarefa de redecorar a escultura “Shelter”, da autoria de Gabriela Gomes, que, desde o ano passado, funciona como um centro de acolhimento da livraria, onde os visitantes podem deixar as bagagens e comprar bilhete.

O início da mudança de visual ocorreu no verão, com o desenho de Fernando Pessoa na face da escultura voltada para o Passeio dos Clérigos, mas foi agora que se concretizou a alteração mais radical: “Esta já é a segunda intervenção que faço aqui. A primeira, em julho, respeitou um bocadinho mais a pré-existência, respeitou-se o bordô que já existia na peça, mas foi pedido, por parte da livraria, que houvesse uma transformação total. Daí a chamada para este azul. Obviamente que é diferente intervir sob uma peça de autor do que num muro qualquer. A responsabilidade é um bocadinho mais acrescida”, explica o artista ao JPN.

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Frederico Draw | Foto: Patrícia Garcia

A partir desta terça-feira, a personagem da literatura portuguesa vai passar a coexistir com o cantautor laureado este ano com o Prémio Nobel da Literatura. Frederico ri-se, ao simular uma conversa hipotética entre as duas personalidades: “Sinceramente, acho que eles iam falar acerca dos chapéus, quem é que tinha o chapéu mais bonito… Falar um bocadinho de literatura e trocar de chapéus”.

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Fernando Pessoa | Foto: Patrícia Garcia

O artista não se pronuncia relativamente à polémica da atribuição do Nobel a Bob Dylan, mas fala assertivamente sobre o reconhecimento da arte urbana: “Isso já está mais que resolvido. A aceitação já é completamente diferente, já está mais que implementado na cidade. Aqui e noutras”, afirma.

Frederico tem andado pelos caminhos de Portugal, onde “felizmente não falta trabalho”. Mas a sua arte não fica somente em terreno nacional. Espanha e Itália são outros dos países onde o artista tem trabalhado nos últimos tempos.

Quanto a preferências artísticas, Draw gostou do desafio proposto pela livraria, mas não o privilegia relativamente aos murais: “Foi isso que comecei a fazer e é isso que pretendo continuar [a fazer]. Tudo o resto são desafios, tentar pegar naquilo que faço, que são os murais, e tentar adaptá-lo a outros suportes, a outras características. Mas sem dúvida que a minha temática primordial, e pela qual o meu trabalho é reconhecido, é pela grande escala”, afirma.

Com a intervenção de Frederico, a Lello procura reforçar a ligação entre o centro de acolhimento e a própria livraria. E já não é a primeira vez que dá destaque à arte urbana: durante o restauro da fachada da livraria, entre abril e junho passados, a fachada foi coberta por uma tela que, durante quatro dias, Mr. Dheo e Pariz One, cobriram com um enorme graffiti.

Artigo editado por Filipa Silva