Cinco anos depois, o Porto, “cidade de tolerância”, voltou a acolher Marcelo Rebelo de Sousa na tomada de posse do seu segundo mandato como Presidente da República. Após uma cerimónia ecuménica na Câmara Municipal, Marcelo foi recebido no Centro Cultural Islâmico e visitou o Bairro do Cerco do Porto.

No início da tarde desta terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa ainda não tinha chegado e já um tapete vermelho adornava a entrada da Câmara Municipal do Porto, onde Rui Moreira, presidente da autarquia, o aguardava, acompanhado de um pequeno grupo de pessoas, desejosas de “ver o senhor Presidente”. Ali chegado, pouco depois das 14h30, Marcelo distribuiu  acenos, mas sem banho de multidão. Como na cerimónia protocolar da manhã, a situação pandémica assim o impôs.

Não demorou a entrar no edifício, onde, após uma reunião à porta fechada com Rui Moreira, se viu rodeado de flores, para a cerimónia ecuménica que decorreu cerca de uma hora depois.

A cerimónia – que contou com a presença de representantes de diversas confissões religiosas, do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e do presidente da Assembleia Municipal do Porto, Miguel Pereira Leite – foi iniciada com um discurso de receção do autarca portuense, que assinalou o facto de, mais uma vez, a cidade do Porto receber o Presidente da República na sua tomada de posse, “com o mesmo simbolismo, apesar das circunstâncias absolutamente atípicas que vivemos”.

“O facto de aqui se realizar esta cerimónia ecuménica enche-me de orgulho, porque o Porto é uma cidade de tolerância. É uma cidade que acolhe e abriga inúmeros cidadãos de diversas raças, credos e opiniões políticas. O Porto é uma cidade liberal, que sempre, sempre soube conviver com a diferença, com aqueles que nos visitam, com aqueles que nos escolhem para aqui fazerem as suas vidas”, acrescentou o edil do Porto.

No púlpito, Marcelo agradeceu as boas-vindas e sublinhou que “Portugal está presente no Porto”, cidade que, há 200 anos, “foi o coração da luta pela liberdade”. Saudou ainda a presença dos representantes religiosos e, com base nas palavras “gratidão” e “apelo”, homenageou os que “dão vida” à liberdade religiosa, pedindo-lhes que, através do “diálogo e convergência de propósitos”, continuassem a “defender a liberdade, a tolerância e a compreensão mútua”, num tempo em que “é tão sedutor encontrar bodes expiatórios” – compromisso que José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, assumiu, em nome de todas as crenças presentes na cerimónia.

Após o encerramento, com uma oração, Marcelo Rebelo de Sousa saiu da Câmara do Porto para uma segunda ronda de cumprimentos e, aos jornalistas, afirmou que a regionalização vai “mais longe ou menos longe”, consoante “a vontade dos portugueses”. Pronunciou-se ainda quanto à possibilidade de a pandemia colocar em risco a democracia, comentada pelo seu antecessor.

“Há 48 anos que não há risco de não haver democracia por uma razão muito simples: os portugueses são democratas, e porque, felizmente, tivemos sempre em lugares de responsabilidade na Presidência da República e na chefia do Governo, no Parlamento e no poder local e nos órgãos regionais, democratas, pessoas a garantirem e a jurarem garantir a defesa, o cumprimento e, mais do que isso, a salvaguarda do cumprimento de uma Constituição democrática”, garantiu.

“Temos inúmeras origens”

O Presidente seguiu para o Centro Cultural Islâmico do Porto, na Rua do Heroísmo, onde presidiu a outra cerimónia – agora mais curta -, na qual Marcelo se assumiu como o Presidente, não só dos portugueses, mas “também de todos os que vivem em Portugal, mesmo não sendo portugueses ou não sendo portugueses de origem”.

O Presidente da República justificou a afirmação com a diversidade da diáspora portuguesa e com o facto de não haver um “português puro”, dado que “temos inúmeras origens”. Frisou ainda que “não podemos querer, para os que partem de Portugal para os confins do mundo, aquilo que não estamos dispostos a dar aos que chegam do mundo a Portugal”.

Marcelo Rebelo de Sousa prosseguiu com a afirmação de que não há portugueses de primeira ou de segunda: “somos todos de primeira, tenhamos origens mais longínquas ou mais próximas nas nossas linhagens familiares. Somos assim e devemos ser assim, no respeito pela liberdade religiosa, de pensamento, de expressão ou cultural”.

À saída do Centro Cultural Islâmico, o “presidente do povo” foi recebido por dezenas de portuenses e, por entre saudações, agradecimentos e toques de cotovelo, dirigiu-se ao carro que o levaria até ao Bairro do Cerco do Porto, para uma visita não programada, que justificou com a necessidade de voltar ao local onde esteve há cinco anos.

O bairro, que está, atualmente, a ser reabilitado, recebeu-o com mais uma multidão que fez questão de desconfinar para ser alvo dos afetos que Marcelo, a ser Marcelo, distribuiu de longe, ao longo do percurso pouco demorado que deu fim à sua passagem pelo Porto.

“Batam lá palmas, que o senhor presidente vai embora!”, ouviu-se pelo meio das dezenas de pessoas – e foi ao som de aplausos que o Presidente da República terminou o dia que deu início ao seu segundo mandato.

Artigo editado por Filipa Silva