A Biblioteca Sonora da Biblioteca Pública Municipal do Porto transforma, há 49 anos, a palavra escrita em sons. Desta forma, invisuais ou pessoas com dificuldade de acesso a texto escrito têm acesso a romances, biografias ou qualquer outro género literário. Este projeto tem contribuído “expressivamente para a formação e inclusão” de cegos e amblíopes, pode ler-se no site da Biblioteca.

A ideia para a criação deste projeto partiu da experiência da Students Tape Library do Royal National Institute for the Blind, no Reino Unido.

Em Portugal, a Biblioteca portuense foi pioneira e tem como objetivo “proporcionar gratuitamente a pessoas cegas, com deficiência visual ou com outras dificuldades de acesso a textos impressos uma alternativa” ao formato escrito.  Ao longo da existência deste projeto já foram gravados 7.500 títulos, o que corresponde a mais de 89.500 horas.

No site da Biblioteca pode ler-se que este “serviço público” tem chegado a “largas centenas de utilizadores” em todo o país e no estrangeiro. Associações socioculturais, centros de reabilitação, escolas e equipas de apoio educativo, serviços de apoio a estudantes universitários, entidades de países de expressão oficial portuguesa são alguns dos beneficiários.

A gravação dos livros é feita por locutores voluntários e o ficheiro áudio é de acesso livre, embora restrito a pessoas com debilidade visual.

Leitura é forma de ajudar a “superar dificuldades”

Sónia Coimbra é uma das voluntárias que dá voz às histórias que chegam aos ouvidos de quem não as pode ler.

mais de cinco anos que esta professora de Português dedica algum do seu tempo a gravar audiolivros. Uma vez por semana, a docente vai à Biblioteca e, durante quase duas horas, grava blocos de leitura de cerca de 30 minutos, o que corresponde a 20 páginas. Desde o início deste trabalho voluntário, conta que deve ter lido mais de dez livros. Em conversa com o JPN, a locutora voluntária confessa que já leu romances com mais de 400 páginas. “Com um ritmo simpático e a ler uma vez por semana, demora quatro, cinco meses”, explica.

A voluntária explica que durante o processo de leitura assume uma postura de “autoexigência de rigor em termos da clareza, ritmo, leitura, mas também na pronunciação correta das palavras”. Além destes “requisitos”, Sónia Coimbra acredita que é necessário haver um “encantamento de base que tem que ver com o estar ao serviço de alguém que tem uma fragilidade”. Desta forma, a leitura é uma forma de ajudar cegos e amblíopes a “superar as dificuldades”.

“Quando nos entregamos a um projeto que visa ajudar o outro a viver de uma maneira mais harmoniosa e mais positiva as suas próprias fragilidades, essa é uma experiência profundamente gratificante e inspiradora”, remata Sónia Coimbra.

O acervo da Biblioteca Sonora Digital pode ser pesquisado no Catálogo Público de Acesso em Linha das Bibliotecas Municipais do Porto. Após um registo na plataforma, o utilizador tem acesso direto aos conteúdos áudio.

Artigo editado por Filipa Silva