O último dia da 49.ª edição do Portugal Fashion arrancou no cais da Alfândega com o desfile de Maria Gambina. Para a nova coleção, apresentada este sábado, a designer viajou até ao passado e inspirou-se nas memórias das férias que tinha na praia do Furadouro, em Ovar, onde ia com os pais e a irmã.

Ao JPN, Maria Gambina revelou que a coleção “tem mais a ver com referências táteis e sensoriais do que propriamente visuais”, tendo-se deixado influenciar pelo “paladar do gelado Epá e dos chocolates Regina” que comprava durante os meses de verão.

A paleta de cores usada continua a ligação ao imaginário criativo da designer, estando presente “o azul da arca da senhora que vendia bolos na praia, o vermelho e amarelo dos fatos dos nadadores-salvadores e o branco do senhor que vendia as bolachas americanas”.

A banda sonora do desfile foi fora do vulgar, mas dentro do tema. Em vez de música, ouviram-se os sons característicos de um dia de praia: as gaivotas, o mar e as conversas entre as pessoas.

A manhã encerrou com a apresentação da coleção “Funambulando La Vida” de Katty Xiomara, ao som do maestro Rui Massena e da narração de um texto de Philippe Petit, conhecido por ter feito a travessia entre as Torres Gémeas em cima de uma corda de aço.

A música suave combinava com a coleção, que a designer criou sem ter uma estação pré-definida. Katty Xiomara inspirou-se na ideia de equilíbrio numa corda bamba, sendo uma clara referência à necessidade humana de equilibrar a vida. Assim, as peças procuram uma estabilidade no meio de contrastes entre os tecidos simples e volumosos e os padrões homogéneos e complexos.

Sustentabilidade e inclusão

Às duas da tarde, a passarela foi cedida ao (Re)Veste, um projeto de intervenção comunitária promovido pelo Centro Social de Soutelo, em Rio Tinto, Gondomar.

A iniciativa visa a inclusão social de jovens e adultos, entre os 15 e 35 anos, portadores de deficiência e/ou doença mental. O objetivo é promover e facilitar nas pessoas envolvidas o desenvolvimento de competências sociais, pessoais, digitais e profissionais, através da dinamização de oficinas, como a de customização de roupa e a de literacia digital.

Deste modo, a moda entra na equação enquanto “veículo motivacional para esta transformação [social]”, referiu Mariana Eugénio, coordenadora do projeto, em declarações ao JPN. Segundo a coordenadora, a materialização de peças de roupa incentiva o trabalho de desenvolvimento pessoal dos participantes que, por si só, é “bastante abstrato”.

A sustentabilidade ambiental e a economia circular são duas bandeiras do projeto (Re)Veste que cria as suas coleções com roupas excedentes de empresas parceiras, atribuindo-lhes uma nova vida e combatendo o estigma de roupa em segunda mão.

Para Mariana Eugénio, a presença no Portugal Fashion, é uma oportunidade “extraordinária e fantástica”, dado que “não existem realmente muitos jovens e adultos com este tipo de diagnóstico a apresentar coleções, especialmente em grupo”. A coordenadora referiu também que a apresentação da coleção é uma vantagem, não só para o projeto, mas para toda a sociedade, que assim está “a sair, um pouquinho, da caixa”.

No final do desfile, a habitual e merecida salva de palmas estendeu-se a toda a equipa que colaborou na elaboração das peças e que assistiu orgulhosamente, a partir da primeira fila.

O (Re)Veste despediu-se com a convicção de que a sustentabilidade e a inclusão são o futuro da indústria da moda e não uma simples trend.

Artigo editado por Filipa Silva