Os efeitos da pandemia no setor do calçado revelaram-se menos impactantes do que aquilo que os agentes do setor chegaram a temer. Ainda assim, o sexto setor mais exportador de Portugal registou uma quebra acentuada nas vendas.

Segundo Paulo Gonçalves, diretor de comunicação da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Sucedâneos (APICCAPS), venderam-se em Portugal menos 16 milhões de pares de sapatos em 2020, por comparação com o ano anterior. O valor representou uma quebra de quase 25% nas vendas.

O ano não foi negro só para Portugal. Basta lembrar, como diz o representante da APICCAPS, que deixaram de ser fabricados ao nível mundial, no último ano, 4 mil milhões de pares de sapatos que “é o equivalente a 70 anos de produção de calçado em Portugal”.

Paulo Gonçalves fala , contudo, num setor “resiliente e voltado para o futuro”. Em declarações ao JPN, no último dia do Portugal Fashion (16), dia em que desfilaram na passarela as coleções de calçado e acessórios de várias marcas, o diretor de comunicação da APICCAPS assumiu um discurso pautado pela esperança em relação ao futuro, por acreditar que 2021 vai ser “um ano de recuperação”.

Vantagens e desvantagens do digital

Maria Setas Ferro, designer e criadora da marca Marita Moreno, considera que a queda na procura de calçado está diretamente relacionada com a chegada do teletrabalho, e o facto de as pessoas passarem mais tempo em casa. “As reuniões Zoom não precisam, nem mostram calçado bonito”, comentou ao JPN à margem dos desfiles que tiveram lugar na Alfândega do Porto.

A designer falou também de dois importantes meios que ajudaram a sua marca a ultrapassar a quebra generalizada no setor: as vendas online e a aposta nos “mercados que não estiveram fechados nas mesmas alturas do que Portugal”.

Maria Setas Ferro conta que as vendas online foram uma feliz alternativa aos clientes de retalho que “suspenderam quase todas as encomendas” assim que as lojas foram obrigadas a cessar atividade. A marca continuou a desenvolver protótipos e a vender para lojas à escala global, mais concretamente em países como Estados Unidos e Arábia Saudita.

Internacionalização e cada vez maior presença online. Estas foram as vias procuradas pelas marcas entrevistadas pelo JPN. Mónica Amaral, criadora da Augustha, revela que a sua presença exclusivamente digital foi o que permitiu à marca não oscilar na faturação e contrariar a tendência geral do setor.

O Portugal Fashion encerrou no sábado a sua 49.ª edição, que ficou marcada pelo regresso ao modelo presencial e pela internacionalização da mostra, fruto da parceria com a Canex. Quanto ao setor do calçado, que também pôde voltar a desfilar, a garantia é a de que se fortaleceu com as adversidades enfrentadas no último ano e meio, prometendo agora voltar em força à produção e à exportação.

Artigo editado por Filipa Silva