A banda de pós-rock nascida em Barcelos lança esta sexta-feira (4) "adeus", um álbum que marca uma nova fase do coletivo. Com novo baterista e baixista, a banda apresentou as músicas do álbum em outubro, no Amplifest.
Os indignu são Ivo Correia, Graça Carvalho, Pedro Sousa e Afonso Dorido (esquerda para a direita) Foto: Gonçalo Delgado
Nova formação, novo disco, nova vida. Os indignu, banda que nasceu em Barcelos em 2004, voltaram aos discos com “adeus”, quatro anos depois do lançamento de “umbra”. O álbum, lançado esta sexta-feira (4), apresenta uma banda que mantém a identidade, mas explora novos terrenos menos familiares. Agora um quarteto, os indignu contam com os novos integrantes Ivo Correia e Pedro Sousa, que se juntam a Afonso Dorido e Graça Carvalho.
“adeus” é um disco 100% instrumental que “honra a lentidão necessária do pensamento”, como explicou ao JPN a violinista Graça Carvalho. Graça e Afonso, guitarrista, explicaram que a vida do novo disco começou num quase fim de banda, em 2020, no dia em que – ironicamente – se aprovava na generalidade o projeto-lei para a despenalização da eutanásia.
“‘Adeus’ foi uma palavra que surgiu nesse dia. Pensamos terminar com a banda porque estávamos confusos, perdidos, desorientados. Entretanto estávamos a falar de covid, houve um período de muita incerteza, muita angústia. E nesse mesmo dia, chegamos à conclusão, de que não [devíamos acabar]”, revela Graça sobre o nome do disco. Afonso acrescenta: “Também tem a ver com várias ocasiões em que algumas pessoas queridas partiram, precisamente quando estávamos a ensaiar. Aconteceu pelo menos em três ocasiões.”
O novo disco da banda, marca um período de mudanças profundas nos indignu. Com a entrada de novos membros e a redução da formação para quatro elementos, vieram novas formas de compor, de tocar e de pensar música. Para Graça e Afonso, as alterações foram lufadas de ar fresco que ajudaram a banda a avançar numa nova direção mais focada e mais sólida. Para a violinista, os novos integrantes trouxeram uma bem-vinda “diferença substancial na secção rítmica”. “Há, realmente, um antes e um depois”, sublinha.
Afonso Dorido fala de “melodias dançáveis e partes mais psicadélicas” para mostrar que o disco, embora mantenha a impressão digital dos indignu, chega a muitos lugares novos. “Conseguimos, num tema, ir ao céu e aos trópicos, à Antártida e ao Japão. Abrimos muito o leque da nossa sonoridade”, ilustra. Os dois músicos descrevem a música da banda como “cinemática e meditativa” e que “convida o indivíduo a olhar para dentro”. Afonso acrescenta ainda que a música que fazem comunica bem com outras artes, como o desenho. “Deixa sempre uma espécie de paisagem”, explica.
Além das mudanças ao nível da composição, “adeus” também fica marcado por um esforço ampliado com o trabalho de estúdio e produção. Para isso, os indignu contaram com o velho companheiro Ruca Lacerda (dos Pluto e Mão Morta) para a gravação e mistura das novas músicas. A masterização ficou ao encargo de Birgir Jón Birgisson, produtor islandês que já colaborou com Björk, Spiritualized, Sigur Rós, entre outros.
A escolha de Ruca Lacerda foi óbvia: “É impossível contemplarmos a criação de um disco sem, pelo menos, nos passar pela cabeça o nome do Ruca. Nós conhecemos o Ruca e a dinâmica foi tão bela, tão natural, tão companheira que nós percebemos que não queremos mais nada”, descreveu a violinista da banda. Já o nome do produtor islandês surgiu em resposta à pergunta que os indignu colocaram a si próprios: “Quem produz os discos de que gostamos?” Os inputs de ambos os produtores, de universos tão distintos, confluíram num disco “estruturado do início ao fim”.
Desde a formação, a banda já passou por palcos como o Musicbox, em Lisboa, e os festivais Milhões de Festa, em Barcelos, e Bons Sons em Cem Soldos, Tomar.
A 22 de setembro de 2022, o tema “sempre que a partida vier” foi destaque na rubrica Domínio Público da Antena 3.
As músicas de “adeus” foram apresentadas ao vivo no Hard Club, no festival Amplifest, este mês de outubro. A banda confessou ao JPN que a receção do público ao novo disco foi “surpreendentemente boa”. Afonso Dorido revelou ainda que foi abordado por pessoas de várias nacionalidades no público que congratularam a banda pela atuação. Tendo em conta a vertente mais contemplativa, lenta e expansiva da música de indignu, os membros da banda consideram que é em palco que a banda está em topo de forma.
“O palco faz mais sentido, porque o tipo de música que fazemos é lento, longo. As pessoas no dia a dia estão absorvidas em ritmos muito rápidos. No palco estás ali e a pessoa está a comunicar contigo, é uma espécie de meditação”, explica Graça Carvalho.
“adeus” é o primeiro disco dos indignu desde 2018, ano em que lançaram “umbra”. O álbum foi apresentado em exclusivo na página WherePostRockDwells no Youtube a 27 de outubro e está a venda no bandcamp da banda.