Iniciaram esta quinta-feira (26) as obras de requalificação do Centro Comercial Brasília – considerado o mais antigo da Península Ibérica. Com olhos postos na modernização e sustentabilidade, a intervenção contempla aplicar melhorias a nível estrutural, considerando a adaptação tecnológica.

Está previsto que a ação se prolongue até outubro deste ano. Sendo a primeira nos 46 anos de vida do edifício, há várias alterações a ser feitas, tanto na arquitetura como na decoração, adianta Luís Pinho, administrador do Brasília.

Luís Pinho lembra que é impossível não haver alguns incómodos, mas o shopping vai continuar aberto. Foto: Ângela Rodrigues Pereira/JPN

Em conversa com o JPN, avança que pretendem tornar as coisas “muito mais clean. De forma geral, a intenção é fazer do Brasília um espaço mais agradável, atual e moderno mas sem descaracterizar as vertentes que a equipa considera interessantes.

Mas há mais. Ainda a pensar nas problemáticas atuais, o centro comercial situado na rotunda Boavista quer tornar-se mais sustentável.  “Temos duas centrais fotovoltaicas para abastecer as áreas comuns – por isso, na grande parte dos dias, o edifício é autossustentável. Funciona com energia produzida na cobertura”, partilha o administrador. “Agora, vamos tentar que os nossos condóminos também consumam dessa energia“, adianta, acrescentando que, com as alterações, a iluminação vai passar a ser LED.

Uma reforma em preparação há vários anos

As primeiras conversas de reabilitação estão datadas em 2018. Pouco tempo depois, foi lançado um desafio aos alunos da Escola Superior de Artes e Design (ESAD) e da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP) para contribuírem com ideias jovens para inovar o espaço e torná-lo mais apelativo.

As alterações traduzem-se, agora, num investimento de mais de meio milhão de euros. De acordo com o administrador, foram precisos 5 anos e 10 reuniões gerais de condomínio para poder avançar com o projeto. Mas, no fim, a necessidade de “atualizações”, aliada a “alguma disponibilidade financeira”, falaram mais alto.

Luís Pinho admite que os lojistas poderão ter de lidar com alguns incómodos.  “Mas não vamos encerrar nem fechar qualquer tipo de atividade“, garante. Apesar de saber que podem existir restrições temporárias, assegura que as “intervenções vão ser rápidas e por isso é que as obras vão ser demoradas”. Para evitar grandes transtornos, as ações “têm de ser feitas com muita ponderação e não iniciando obras em todo o edifício – mas por núcleos“, completa.

O administrador diz ainda que esta será apenas a “intervenção inicial” e espera “que não seja a última”. “Há muitíssimas coisas a fazer  – qualquer edifício deste género está sempre em obras e é mau sinal quando não está”, aponta.

Um Brasília com nova cara, mas com a identidade de sempre

João Ferros, arquiteto encarregue do projeto, sublinha que este foi, acima de tudo, desenhado “com base nas necessidades dos lojistas”.  Nesse sentido, foca-se em resolver problemas como a “fraca iluminação” e a falta de sinalética, que tornam o edifício “extremamente labiríntico”. Ainda assim, há que respeitar a identidade do espaço, que o arquiteto evidencia ser “muito própria”.

João Ferros quer conservar a identidade do centro comercial, adaptando as intervenções à estrutura e aos lojistas. Foto: Ângela Rodrigues Pereira/JPN

“O processo concentra-se realmente em reorganizar um bocadinho o shopping” e ainda “fazer um upgrade”, explica. De entre as novidades, está incluída a construção de “áreas abrangentes de permanência” e “pequenas praças” para eventos sociais, culturais ou até gastronómicos.  O essencial é “ligar o shopping à vertente cívica” – às pessoas que visitam, transitam ou permanecem no edifício

João Ferros sabe que se trata de uma área comercial “que vive de forma diferente das outras” , o que torna o processo “desafiante”. Mas apesar de não ser um “shopping normal”, porque não há “escala para isso, em termos de lojas”, quer que o espaço “possa viver de forma urbana com a cidade do Porto”.

Além dos espaços destinados às lojas serem mais pequenos que os de outras superfícies comerciais, há ainda a considerar os 190 proprietários. “Estamos a falar de tentar agradar a gregos e a troianos” brinca, mas adianta que também os lojistas querem, acima de tudo, fugir da “estagnação”.

Para o arquiteto, tem sido crucial respeitar quem faz do Brasília casa, pelo que tem tentado ter um papel “muito interventivo” em todo o processo. Sublinha, aliás, que a participação dos lojistas é “fundamental”, e que eles têm sido receptivos.