Miguel Castelo Branco foi o vencedor da edição 2022 do Prémio Bial. Estudo usa realidade virtual para melhorar a autonomia das pessoas com autismo. Foram ainda distinguidas duas menções honrosas na cerimónia que decorreu, esta quarta-feira (8), na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

Trabalho de Miguel Castelo Branco foi reconhecido com um prémio de 100 mil euros. Foto: Bruna Jardim

Miguel Castelo Branco recebeu esta quarta-feira (8), na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, das mãos de Marcelo Rebelo de Sousa, o Prémio Bial de Medicina Clínica 2022.

Com um projeto minucioso sobre autismo, intitulado “The challenges os Neurodiversity”, o médico e investigador foi premiado com 100 mil euros. Miguel Castelo Branco é professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e pai de um jovem com autismo, o que justifica a sua investigação com mais de 15 anos de pesquisa.

Na cerimónia, participaram diversos académicos e, ainda, o Presidente da República, que realçou a “personalização por excelência” dos ”três trabalhos premiados”, assim como a dedicação e colaboração dos investigadores. Marcelo Rebelo de Sousa dirigiu ainda a palavra a Manuel Sobrinho Simões, presidente do júri desde 2006, caracterizando-o como “um dos mais brilhantes médicos, cientistas e professores que Portugal tem”.

Manuel Sobrinho Simões, médico e investigador português. Foto: Bruna Jardim

Prémio Bial: Investigação pretende “desconstruir mitos”

O estudo de Miguel Castelo Branco, denominado “Os desafios da neurodiversidade: um percurso na área da medicina personalizada e de investigação no autismo”, consiste na procura de biomarcadores e novas terapias, de modo a promover a medicina personalizada e melhorar a interação social dos indivíduos com autismo.

A pesquisa promove também a união da biologia molecular, imagiologia cerebral e neurociência cognitiva, tópicos distintos, mas cujo cruzamento permite obter resultados no reconhecimento de emoções, regulação emocional e ansiedade nas pessoas autistas.

“Uma das características desta investigação é desconstruir mitos”, reconheceu Miguel Castelo Branco. Para essa finalidade, foram desenvolvidos três “jogos sérios” de realidade virtual que permitem melhorar a “autonomia na navegação em ambientes imersivos realistas” de pessoas autistas como, por exemplo, andar de transportes públicos. O professor e investigador afirma, ainda, que foi dado relevo a terapias não farmacológicas.

Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Portela entregaram o prémio a Miguel Castelo Branco. Foto: Bruna Jardim

Menções honrosas: Estudos nas áreas dos Tumores Cerebrais e da Hipertensão Arterial

Para além do prémio atribuído a Miguel Castelo Branco, foram ainda reconhecidas duas investigações com menções honrosas, às quais foi atribuído um prémio monetário de 10 mil euros cada. Claúdia Faria, neurocirurgiã no Hospital de Santa Maria, desenvolveu o estudo “Brain Tumors 360º: from biological samples to precision medicine for patients”.

A pesquisa permitiu desenvolver a plataforma Brain Tumor Target (BTTarget), que simula a doença humana e testa modelos e “terapias inovadoras”, sempre com o foco na Medicina Personalizada. Claudia Faria reconhece que, apesar dos avanços nos tratamentos, “os tumores cerebrais malignos continuam a ser uma grande causa de mortalidade em crianças e adultos”.

A investigação de Cláudia Faria assegurou-lhe uma das menções honrosas. Foto: Bruna Jardim

A segunda menção honrosa foi atribuída à investigação “Contribuição para o estudo da hipertensão arterial em Moçambique e na África subsaariana: Resultados de um combate de 25 anos”, que tem como coordenador Albertino Damasceno, cardiologista no Hospital Central de Maputo. Este estudo colaborativo entre a Universidade Eduardo Mondlane e a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto tem por base uma pesquisa, realizada nos últimos 25 anos, sobre a hipertensão arterial na população de Moçambique.

Investigadores responsáveis pelo estudo da Hipertensão Arterial em Moçambique premiados com uma menção honrosa. Foto: Bruna Jardim

O coordenador explicou que este estudo “poderá ajudar a individualizar estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento da tensão arterial para muitos portugueses ou imigrantes de origem africana em Portugal”. Para além de Albertino Damasceno, a obra contou com a ajuda de Jorge Polónia e Nuno Lunet (FMUP), António Prista (Universidade Pedagógica de Maputo), Carla Silva Matos (Ministério da Saúde de Moçambique) e Neusa Jessen (Hospital Central de Maputo).

Na sua intervenção, o presidente da Fundação Bial, Luís Portela, afirmou que uma das características mais marcantes do Prémio Bial é “a superior qualidade dos premiados” e que, para a fundação, “é um privilégio poder apoiar” o desenvolvimento da saúde em Portugal. 

Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro