No Grande Hotel do Porto, a surpresa foi grande, quando, pela primeira vez, Katty Xiomara apresentou uma coleção baseada numa única cor: o vermelho. Esta sexta-feira (17), a irreverente estilista portuguesa, cuja paleta é habitualmente intensa e diversificada, levou a coleção “Vermilion” à comunidade do Portugal Fashion (PF)

 Katty Xiomara, cuja presença no evento já é recorrente, apostou na dualidade de significados que caracteriza a cor clássica para dar nome e conceito à nova coleção. Se, por um lado, o vermelho simboliza “guerra, violência e sangue”, aspetos que retratam o “ambiente que estamos a viver” atualmente, ao mesmo tempo, o vermelho “transmite amor”, explica, em entrevista ao JPN. A cor quente e vibrante surge ainda como uma referência ao Deus da Guerra, refere a artista. 

O nome da coleção, “Vermilion”, deriva do latim e do verme com que a cor era inicialmente produzida. O desfile foi acompanhado da interpretação de monólogos, que exprimiam as fortes emoções que o vermelho pode fazer sentir – sejam elas apaixonantes e energéticas ou violentas e destrutivas

O desfile de Katty Xiomara foi acompanhado pela interpretação de monólogos. Foto: Bruna Jardim

Assim, mantendo uniformidade cromática em todas as peças que compõem a coleção, o objetivo, revelou a estilista portuguesa, foi apresentar um intenso contraste (já comum em exibições anteriores). Mas, desta vez, o enfoque cai sobre os significados da cor – através de diferentes texturas, formas mais volumosas ou, pelo contrário, mais estreitas; e tecidos, ora mais delicados, ora mais pesados, com alternância entre transparências e opacos. 

O “exercício criativo” de desenhar peças lineares foi, para a estilista, “um grande desafio”. “Na verdade, tinha esta ideia de trabalhar apenas com uma cor já há muito tempo, mas nunca tinha ganho a coragem de dar esse passo”, confessa Katty Xiomara. 

Ao JPN, revela ter sido inspirada pelo filme “Hero”, uma produção chinesa datada do ano de 2002. O filme “esteticamente maravilhoso”, nas palavras da artista, é composto por vários quadros de cor. Além disso, os “tecidos esvoaçantes”, usados no filme de artes marciais, deixaram-na especialmente intrigada. A ideia de uma “mancha de cor” chamou à atenção de Katty e culminou na coleção que apresentou na 52.ª edição do Portugal Fashion. 

Quanto ao palco, o histórico Grande Hotel do Porto foi o lugar escolhido para o desfile. Para aproximar o público, sem palco e sem microfone, o objetivo, segundo Katty Xiomara, foi fazer com que as intérpretes dos textos contactassem de perto com as pessoas e as fizessem sentir as emoções da cor que a inspirou. Além da sala de estar, as modelos percorreram o bar e a sala de leitura, por serem espaços íntimos

Este ano, o PF revolucionou as conventuais “passarelas” de moda: os desfiles foram distribuídos por novos pontos da cidade, como a Rua Latino Coelho e alguns shoppings da cidade do Porto. Na opinião da estilista, “trazer a moda para a rua” é a oportunidade certa para converter a opinião do público, que se distancia deste tipo de eventos por serem algo “elitistas”. A sociedade em geral tem uma ideia errada do posicionamento da marca no mercado, refere Katty Xiomara, apontando que “isto não é alta-costura” até porque algumas das peças são “acessíveis para muitas pessoas”. 

O certame termina este sábado. Além de apresentações de outros artistas conceituados como Sophia Kah, Maria Gambina e Huarte, esperam-se ainda momentos exclusivos como a inauguração da loja de Luís Onofre e um jantar de apresentação de Ernest W.Baker Studio.

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira