A 101º edição da Queima das Fitas do Porto fica marcada pela aposta num novo sistema de pagamento e entrada no recinto, baseado em pulseiras. Depois de uma primeira noite difícil, ajustes feitos pela FAP asseguraram um domingo tranquilo para quem foi assistir aos espetáculos.

Multidão e paco visto de lado.

Segunda noite da Queima das Fitas do Porto 2023 teve casa cheia. Foto: Mafalda Pereira

A chegada das pulseiras à Queima das Fitas do Porto acabou por marcar o público, organização e trabalhadores das barracas académicas. Este sistema, utilizado já em outras Queimas do país, visa proporcionar uma melhor gestão entre públicos e voluntários e procura facilitar tanto o acesso como a segurança dentro do recinto.

Contudo, ao contrário do esperado, a madrugada de dia 7 de maio foi pautada pela dificuldade no acesso ao recinto e falhas no carregamento cashless das pulseiras, tanto no Queimódromo, como na aplicação. Uma hora depois da abertura de portas, que ocorreu às 00h01, o tamanho das filas chegava à rotunda da Anémona.

Na zona de troca de bilhetes por pulseiras, várias foram as queixas e insultos ouvidos por entre a multidão. Devido à falta de sinalização e de explicação do processo, o público perdia cada vez mais a paciência. Muitos foram os que desistiram de realizar a troca, enquanto alguns, no meio do calor humano, sentiram-se mal e outros magoaram-se para chegar à frente da fila. No meio da confusão, os murmúrios queixosos iam-se transformando em gritos.
 
Rafael Soares, membro da Federação Académica do Porto (FAP), explica que introdução do novo sistema visou “simplificar” o processo de entrada no recinto. O resultado acabou por ser o oposto, dado que a adoção das pulseiras “até dificultou um bocado”.

O dirigente acrescenta, no entanto, que “todos os festivais vão evoluindo, é normal, a Queima também e acho que está a caminhar para aí”. Neste sentido, era “expectável”, por parte da organização, que o primeiro dia não fosse perfeito, “porque ninguém ia estar à espera do novo sistema, iam ser muitos carregamentos ao mesmo tempo”.

Rafael Soares admite que existiram vários problemas inesperados, como o facto de, à entrada, terem deixado entrar pessoas sem pulseiras, o que acabou por causar constrangimentos à FAP. 

Para além dos problemas na entrada e nas filas, a dificuldade para muitas pessoas teve continuidade no interior, com os carregamentos e o uso da própria pulseira. Vários estudantes e não estudantes confirmaram o sucedido ao JPN. Guilherme Torres explica que tentou “várias vezes fazer a leitura da pulseira para poder carregar e não deu, só depois de muito tempo é que conseguimos. O dinheiro apenas me saiu da pulseira no dia a seguir”.

A estudante da Católica, Bárbara Sampaio, refere outro obstáculo acerca do uso das pulseiras como meio de pagamento: “Uma amiga minha apenas pediu duas bebidas, de supostamente um euro, mas tiraram-lhe cinco sem ela perceber”. 

António Ventura, jovem que frequenta a Queima das Fitas do Porto pela primeira vez, afirma que as pulseiras usadas no Porto “não se comparam com Coimbra” e confirma os vários problemas já referidos com o funcionamento da aplicação.

Do lado dos trabalhadores das barracas académicas, Tomé Cardoso afirma que “este ano, com o modo de tabular as coisas, de obrigar, de forçar, subir muito os preços, está a transformar-se a queima mais num festival, do que em algo que reúne os estudantes”. O estudante e trabalhador na barraca “Banheira”, da Faculdade de Letras, considera que as pulseiras são uma forma de controlar as barracas, confessa que as máquinas PDA já deram vários problemas de leitura e afirma que existem em número insuficiente por barraca.

As opiniões, porém, dividem-se. Muitos jovens referem ao JPN que a eliminação do uso de dinheiro vivo foi uma boa aposta, apesar de ter corrido mal na primeira noite. Tiago Lima, estudante da Faculdade de Letras, diz mesmo que está a “gostar mais da organização este ano.”

Cantor T-Rex em palco com projeção de fogo nas costas

Atuação de T-Rex na segunda noite da Queima das Fitas do Porto 2023. Foto: Mafalda Pereira

Em noite de casa cheia, organização altera sistema de pagamento

A FAP reagiu ao princípio da noite de domingo, com a emissão de um comunicado onde assume a responsabilidade do sucedido e informa acerca das medidas e alterações introduzidas para colmatar as dificuldades sentidas durante a madrugada.

As mudanças passam pela adoção de um modelo híbrido de pagamento: através do saldo carregado na pulseira e também em dinheiro; da entrada de pessoas com o bilhete online e não apenas com pulseira – e ainda uma separação e identificação mais eficiente das filas no exterior do recinto.

A segunda noite da Queima das Fitas era esperada como a noite de maior afluência, devido ao número de bilhetes vendidos. De um modo geral, com as mudanças introduzidas, a entrada no recinto e compras no interior correram tranquilamente, sem grandes filas.

O uso das pulseiras começou mesmo a convencer alguns estudantes: “Sinto que é mais seguro, apesar de não ser muito prático”, disse ao JPN a estudante de Letras, Margarida Meneses. 

O modelo híbrido de pagamento acabou assim por facilitar ambas as partes: os consumidores e os vendedores de bebidas e comida. Este novo formato vai manter-se nos próximos dias e quaisquer novas alterações serão devidamente comunicadas pela organização.

Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro