Barack Obama é o primeiro presidente norte-americano a apoiar abertamente a legalização do casamento homossexual. Já Mitt Romney, adversário de Obama nas eleições, reforçou a sua oposição à união de pessoas do mesmo sexo.

A legalização do casamento homossexual é o assunto do momento nos EUA. No passado dia 9, em entrevista à estação de televisão ABC, Barack Obama declarou o seu apoio ao casamento gay. As declarações do chefe de Estado americano surgem três dias depois do vice-presidente Joe Biden ter confessado, igualmente, o seu apoio à união entre homossexuais, e um dia depois do estado da Carolina do Norte a ter ilegalizado, por via de um referendo.

Aquando da sua primeira candidatura à Casa Branca, em 2008, Obama havia-se oposto ao casamento homossexual. Na entrevista à ABC, o líder norte-americano prontificou-se a admitir a “evolução” da sua opinião sobre o assunto. “Hesitei, a determinada altura, quanto ao casamento, em parte por pensar que as uniões civis seriam suficientes”, adiantou Obama. “Fui sensível ao facto de, para muitas pessoas, a palavra casamento evocar tradições e crenças religiosas”, diz. A posição agora assumida, adiantou o presidente norte-americano, resultou de conversas “com amigos, família e vizinhos”, e também do exemplo de pessoas que trabalham com ele.

Esta tomada de posição, que Obama assumiu como “pessoal”, surgiu um dia após a proibição do casamento de pessoas do mesmo sexo no estado da Carolina da Norte, algo que Obama classificou como “discriminatório contra os gays e lésbicas”. A proibição dos casamentos gay estava já consagrada nas leis da Carolina do Norte, mas com este referendo tal fica previsto também a nível constitucional.

Apesar de só agora Barack Obama anunciar publicamente o seu apoio ao casamento de pessoas do mesmo sexo, o líder norte-americano foi sempre um defensor dos direitos dos homossexuais. Entre as iniciativas da sua administração neste sentido destaca-se a abolição da política militar conhecida como “Don’t Ask, Don’t Tell” e que obrigava os militares norte-americanos a manterem segredo sobre a sua orientação sexual, impedindo pessoas abertamente homossexuais de servir o exército norte-americano. Barack Obama relembrou também, na entrevista à ABC, que instruiu o Departamento de Justiça a anular todos os processos judiciais para a aplicação do “Defense of Marriage Act”, uma legislação que fixa o casamento exclusivamente como uma união entre um homem e uma mulher.

A revista Newsweek desta semana traz uma capa que já está a causar polémica nos EUA, com uma foto de Barack Obama com uma auréola das cores do arco-íris, símbolo do movimento homossexual, com o título “O primeiro presidente gay”. A publicação traz uma reportagem sobre o recente apoio do político à união de pessoas do mesmo sexo, assinada pelo jornalista Andrew Sullivan, homossexual assumido e que afirma que as motivações do anúncio foram meramente políticas e não de preocupação pela igualdade social.

Só este ano, foram aprovadas leis consagrando o casamento entre pessoas do mesmo sexo em três estados: Nova Jérsia, Maryland e Washington. Estes estados juntam-se, assim, a Nova Iorque, Massachussetts, Connecticut, Iowa, Vermont e New Hampshire (além de Washington D.C., não integrante de nenhum estado), onde o casamento dos casais homossexuais já tinha sido legalizado.

Habilidade política ou tiro pela culatra?

É díficil de prever as consequências políticas que estas declarações de Obama terão nas já aguardadas eleições presidenciais de novembro deste ano. Uma sondagem publicada pela Gallup, no dia da entrevista a Obama, revela que 50% dos americanos apoia o casamento gay, enquanto 48% se opõe. O instituto Pew Research Center revelou, também, dados que podem sugerir algum benefício político de Obama com esta tomada de posição. Segundo a sondagem divulgada, 47% dos eleitores dos chamados swing-states (os estados que oscilam no voto entre os dois maiores partidos) concordam com o casamento homossexual, contra 37% que se opõem.

O que tem sido apontada como benefício para Obama é a injeção de ânimo na sua base de militantes. “O apoio do presidente para a igualdade no casamento é uma grande notícia, que deve energizar os ativistas progressistas em todo o país”, disse Justin Ruben, diretor-executivo da organização Move On, que faz campanha pelos direitos civis e pelo partido democrata.

O analista político do Washington Post, Chris Cillizza, afirma que “a comunidade LGBT [lésbicas, gays, bissexuais e transgénero] não apenas é uma grande parte da base democrata, como compreende algumas das pessoas mais politicamente ativas do partido”. Além dessa parcela, Cillizza reforça que “não é segredo para ninguém que, para vencer, o presidente Obama precisa de um apoio muito consolidado entre as pessoas entre 18 e 29 anos de idade – o grupo que mais apoia o casamento gay”.

Apesar da posição anunciada por Obama poder complicar as chances de vitória em estados historicamente mais conservadores, Amy Walter, analista de política da estação ABC, disse que “os eleitores que são fortemente contra o casamento gay – ou seja, que deixariam a opinião de um candidato sobre esse assunto determinar o seu voto – já não votariam pelo presidente de qualquer maneira”.

Sejam quais forem as consequências, as declarações de Obama vêm acentuar ainda mais o contraste com o seu adversário republicano Mitt Romney que, ao longo da campanha, tem repetido a sua firme oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e que, no sábado, reforçou essa opinião num discurso na Virgínia. Uma polémica que veio apimentar o ponto de partida das campanhas presidenciais, com vista às eleições do próximo dia 6 de novembro.