Luís Antunes, investigador na área de cibersegurança e gestão de identidade digital esteve na última edição do TEDxUniversityofPorto, este sábado, para partilhar a necessidade de desenvolver tecnologia capaz de garantir a privacidade no ciberespaço.

A tecnologia tem vindo a sofrer diversas transformações. De há uns anos para cá, o armazenamento dos dados passou dos CD’s, dos discos e das PEN’s para as designadas clouds. “Já nem sabemos onde estão os nossos dados”, sublinhou o investigador.

Em entrevista ao JPN, esclareceu que as pessoas tendem a proteger apenas o que é palpável. “Temos cortinas em casa, portas na casa de banho, roupa em cima do corpo. Precisamos de ter evidências do que conseguem fazer com os dados, para percebermos que temos de proteger isso”, contou.

“Estamos a pagar com o nosso corpo”

“Vivemos hoje numa sociedade onde damos por garantidos valores que levaram anos a conquistar”, frisou o investigador. Luís Antunes alertou para a privacidade como um direito fundamental previsto na Constituição da República Portuguesa  e que tem sido desrespeitado. Empresas como a Google, o Youtube e o Facebook recebem e armazenam todos os dados cedidos por cada utilizador online. A única forma de combater o problema, contou o investigador, é procurar e utilizar “mecanismos de combate”.

O engenheiro informático e colaborador regular do Gabinete Nacional de Segurança (GNS) considera que, embora os vários serviços sejam gratuitos, há um perigo iminente a ter em atenção. “Estamos a pagar com o nosso corpo, com os nossos dados”, sublinhou.

O orador recordou o caso de Edward Snowden, o norte-americano conhecido por ter divulgado pormenores dos programas de vigilância do governo dos EUA.  Aproveitou a ocasião para concordar com a antiga presidente do Brasil, Dilma Rousseff: “Uma nação na qual não há privacidade, é uma nação onde não existe liberdade de expressão”, frisou.

TEDx University of Porto

A cibersegurança foi um dos polos de discussão na segunda edição do TEDxUniversityofPorto. Foto: TEDx University of Porto

O futuro da segurança online

A entrar no mote do Tedx da Universidade do Porto, o orador referiu que o futuro obriga à evolução tecnológica. Luís Antunes sublinhou a importância de agir perante o problema que a privacidade cibernética enfrenta. “Vamos fazer reboot à nossa máquina e começar a ganhar controlo sobre a nossa privacidade”, aconselhou.

O investigador recomendou a navegação anónima e a definição de configurações de privacidade como ferramentas para o combate à invasão da privacidade online. “Tecnicamente não é difícil, mas as empresas dificultaram a vida aos cidadãos”, contou.

Segundo o engenheiro informático, as empresas e a comunicação social devem exercer um papel ativo na promoção da cibersegurança junto dos cidadãos. “Nunca ninguém nos disse que também tínhamos de desenvolver tecnologia para garantir os direitos, liberdades e garantias, mas o próximo passo tem de passar por isso”, disse ao JPN.

Segundo um relatório anual de 2016, o crime cibernético foi um dos fenómenos mais investigados pelo Ministério Público da comarca de Lisboa. De 3493 inquéritos, resultaram 167 acusações. Os últimos dados cedidos pelo Ministério reforçam a importância da proteção da privacidade online.

Artigo editado por Rita Neves Costa