Em 1989, Trinidad e Tobago preparava-se para comemorar à sétima tentativa a sua primeira qualificação para Campeonatos do Mundo. Inserido num grupo de cinco países, os “Soca Warriors” subiram ao segundo lugar na penúltima jornada de apuramento. Bastava, por isso, um empate caseiro diante dos Estados Unidos na derradeira etapa para materializar a ida ao Mundial de Itália. Só que um golo de Paul Caligiuri deitou tudo a perder, garantindo o regresso norte-americano a uma fase final quarenta anos depois e provocando desolação em Port of Spain.
Dezasseis anos depois, a esperança voltou a cruzar-se com os trinitários. Na altura, a Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caraíbas (CONCACAF) já oferecia três vagas diretas, além de outra possibilidade de apuramento conferida por um play-off frente a adversário asiático. A caminhada iniciou com bastantes sobressaltos e estimulou mudanças no banco. Leo Beenhakker, que orientou a Holanda no Mundial 1990, foi contratado para dar outra postura tática aos “Soca Warriors”. Já incorporando os regressos dos veteranos Dwight Yorke e Russell Latapy, a inversão de ciclo materializou-se.
A 12 de Outubro de 2005, Trinidad e Tobago bateu o México com dois golos de Stern John. Essa vitória permitiu que o país terminasse no quarto lugar do torneio hexagonal, atrás de EUA, México e Costa Rica e somente dois pontos à frente de Guatemala. O obstáculo seguinte seria, portanto, uma eliminatória jogada a duas mãos com o Bahrain.
O primeiro jogo foi disputado em casa e terminou com 1-1, resultado que favorecia as hostes asiáticas. Os “Soca Warriors” precisavam então de vencer em Manama para não reviver sua dolorosa experiência de 1989. No Golfo Pérsico, a decisão emergiu na abertura da etapa complementar. Dennis Lawrence correspondeu de cabeça a um canto de Dwight Yorke e colocou uma ilha em festa.
Contando com metade do orçamento financiado pelo governo local, Tobago foi um dos oito estreantes a participar no Mundial 2006. Ao ficar integrado num grupo com Inglaterra, Suécia e Paraguai, seria facilmente apontado pelos adeptos mais distraídos como carne para canhão. Contudo, a formação orientada por Beenhakker complicou a vida de cada adversário. Desde logo, um nulo em Dortmund frente aos escandinavos. Trinidad jogou quase toda a segunda parte em inferioridade numérica, mas conseguiu travar o melhor ataque das eliminatórias europeias (30 golos em dez encontros), muito graças à performance inspirada de Shaka Hislop.
No jogo seguinte, o guarda-redes do West Ham United, então com 37 anos, esteve quase a consumar a ira dos atacantes britânicos. Peter Crouch lá conseguiu balançar a rede trinitária a sete minutos do fim, antes de Steven Gerrard confirmar nos descontos o apuramento inglês para os oitavos. À entrada para a derradeira jornada, o Paraguai estava matematicamente afastado. Por isso o segundo lugar do grupo B seria disputado entre Suécia e Trinidad e Tobago. Só que os “Soca Warriors”, que contaram com Russell Latapy no segundo tempo (jogou por Académica, FC Porto e Boavista nos anos noventa), perderam por 2-0 frente aos sul-americanos, cortesia de Nelson Cuevas e um autogolo de Brent Sancho.
Tudo somado, a federação da CONCACAF disse adeus à competição no último lugar do agrupamento. Em três partidas conquistou um ponto e foi a única seleção sem golos concretizados no Mundial 2006, registo que é partilhado com Canadá, China, Índias Orientais Holandesas e Zaire. Ainda assim deixou a sua marca no cenário mundial. Na altura fixou-se como o país com menor área superficial (5,131 quilómetros quadrados) a participar em Campeonatos do Mundo. Igualmente, substituiu a Jamaica como nação menos populosa – uma marca entretanto quebrada pelo conto de fadas islandês, que ronda os 330 mil habitantes.
No regresso, Beenhakker e os seus pupilos foram condecorados pelas autoridades trinitárias. O que sobrou em reconhecimento faltou em continuidade. Muitos internacionais penduraram as botas e a exportação de jogadores para a pátria-mãe do futebol diminuiu a pique. Sem surpresas, Tobago nunca mais voltou aos grandes palcos. Na caminhada para o Mundial da Rússia ficou mesmo retido no último lugar do torneio hexagonal. Além de ter somado oito derrotas, venceu o estreante Panamá e ajudou a deixar os norte-americanos em casa pela primeira vez desde 1986.
“Almanaque Mundial” é um rubrica diária do JPN que mergulha em curiosidades da principal competição futebolística de seleções.