Há pouco mais de uma semana, Artur Karlov conquistou a sua primeira medalha numa competição internacional de kickboxing – foi bronze no mundial júnior em full contact – mas o percurso do jovem atleta nem sempre foi repleto de vitórias.

Artur Pasichnyk Karlov tem 15 anos, reside e estuda no concelho da Trofa, embora toda a sua vida tenha misturado a língua e a cultura portuguesas com a russa. Quando questionado sobre a influência que a nacionalidade dos pais teve na forma como foi educado, sublinhou que se não tivesse uns pais tão disciplinados, que deram tudo mas doseado, não seria o que é hoje.

De sorriso no rosto continuou: “Se disser à minha mãe que quero algo, ela responde que tenho de tirar boas notas, se tirasse menos de três, ficava de castigo”. Aprendeu com eles a não ser esquisito com o que a vida oferece e a persistir.

E bem precisou dessa persistência em criança quando lhe foram diagnosticados problemas físicos graves que o deixaram numa cadeira de rodas, com as pernas fracas e sem poder correr como os colegas.

Infância: o outro lado

Artur Karlov esteve dois anos sem andar, primeiro por causa de um problema na anca – “devia ter uns cinco ou seis anos e tinha a cartilagem a moer-se” – e, mais tarde, por um problema nos pés. Para recuperar, os pais de Artur Karlov deixaram-no num hospital da Ucrânia. Com camas ao ar livre e voltadas para o oceano, foi o iodo que respirava do mar que o ajudou a recuperar. O processo foi demorado, estendendo-se entre três a quatro meses.

Enquanto revive os momentos mais difíceis da infância, mostra também as cicatrizes de ter colocado dois parafusos nos pés, marcas que não se apagam mas que não o impedem de dizer que agora está “como o aço”.

Sempre que pode, o atleta volta às raízes da mãe e visita os familiares que tem na Ucrânia, onde gosta do isolamento da aldeia e de se desligar do telemóvel e da televisão. Mas sublinha que é apenas onde o avô mora: “na cidade [a realidade é outra, não só existe internet como] em cada canto vês [carros da marca] Porsche e Ferrari. Parecem dois mundos diferentes!”.

O atleta, tímido, diz-se grato pelo que tem, pelo apoio dos pais, da irmã e dos amigos que fez nas várias etapas da vida. É com um brilho no olhar que confessa a sua vontade de saltar de paraquedas e a paixão pelo mundo competitivo.

Artigo editado por Filipa Silva